Por: Anderson Barollo e Luisa Cruz (Colaboradores do Correio9)
A Doença de Alzheimer (DA) é uma patologia neurodegenerativa progressiva e que atinge, em maioria, a população de 65 anos ou mais, afetando o sistema nervoso e causando a morte das células. Segundo o neurologista Ronnyson Susano, com a previsão do aumento do número de idosos, aumenta também a incidência de demências, como o Alzheimer. Atualmente, a Associação Brasileira de Alzheimer estima que a doença atinja mais de 1,2 milhão de famílias brasileiras.
A chamada “inversão da pirâmide etária’’ já se tornou presente na realidade de cada país, afetando não só o sistema previdenciário, mas, principalmente, a saúde pública. A OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2017, informou que cerca de 50 milhões de pessoas no mundo sofrem com demência e aproximadamente 10 milhões de novos casos são registrados por ano. A DA é a forma mais comum de demência, representando cerca de 60% a 70% dos casos. Essa prevalência aumenta progressivamente com o envelhecimento, sendo a idade um dos maiores fatores de risco.
Os sintomas da DA aparecem, geralmente, após os 65 anos de idade. Segundo Susano, um dos primeiros sintomas da doença é a perda de memória para os fatos mais recentes. Além disso, o paciente passa a repetir perguntas e histórias. Porém, a perda de memória unicamente não a classifica como demência, por isso é tão importante o acompanhamento médico e familiar.
“É importante que se busque orientação médica assim que esses episódios de perda de memória, ou alterações repentinas de comportamento, começam a ocorrer”, relata a professora de Neurociências da EMESCAM, Juliana Custodio.
O Alzheimer é uma enfermidade incurável, no entanto, se diagnosticada no início, é possível retardar seu avanço e controlar os sintomas. A DA é representada por respostas cognitivas desajustadas, devido ao comprometimento cerebral extenso que ela causa. Esse comprometimento é responsável pela perda da autonomia e capacidade decisória, além de afetar o funcionamento ocupacional e social de cada indivíduo.
Previna-se
A incidência da doença também está relacionada a qualidade de vida, diminuindo quando o idoso mantém uma rotina de atividades físicas e uma dieta balanceada. De acordo com a nutricionista Deborah Cruz, estudos mostram que nutrientes como, vitaminas E, C, D e complexo B, ômega 3, fibras e ferro ajudam na redução do risco de demência. Ela também ressalta a importância do acompanhamento de um profissional em nutrição. “É muito importante o acompanhamento de um nutricionista na doença, pois ele pode proporcionar mudanças nos hábitos alimentares e promover uma melhora na qualidade de vida”, explica.
O educador físico, Leonardo Vieira, destaca que o exercício físico também ajuda na prevenção da doença. “A prática de exercícios contribui para a proteção da função cerebral e da perda da memória, que parece estar relacionada com a produção de um hormônio chamado irisina, que é diminuído em pacientes com Alzheimer”, afirma.
Entretanto, Vieira destaca que o aumento da qualidade de vida dos idosos está relacionado ao exercício físico, mas também, à diversos fatores. “A prática de atividade física com certeza é um fator importante para o aumento da expectativa e da qualidade de vida da população. Mas devemos ressaltar que este não é o único aspecto que precisa ser considerado, uma vez que este fenômeno é multifatorial”, alerta.
O papel do cuidador
Peça fundamental para o idoso que enfrenta a dependência que a DA impõe, o cuidador incorpora atividades que passam a ser de sua inteira responsabilidade e deve ser orientado pelos serviços e profissionais de saúde. Cuidar de uma pessoa com DA requer conhecimento adequado para fazer um suporte estratégico, emocional e institucional.
Os principais profissionais destinados a cuidar de um paciente que porta o Alzheimer são: neurologistas, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. No entanto, culturalmente, quando um idoso necessita de cuidados, é a família quem assume o papel de responsável. “A família exerce um papel fundamental no cuidado desses pacientes. As principais recomendações estão relacionadas à alimentação, higiene e segurança”, afirma o neurologista Susano.
Filha vê no Youtube um meio para exercitar a mente da mãe com Alzheimer: Conheça a história de Dona Nair e o Canal Salles & Salles
O município de Itaju do Colônia (BA), com cerca 7 mil habitantes, segundo o IBGE, é a terra natal do novo canal no Youtube que está fazendo sucesso pelo Brasil: Salles&Salles. Com uma série de vídeos, Adriana Salles (50) faz gravações mostrando o cotidiano com sua mãe, Nair Salles (85). Em um ano, o canal já chegou a mais de 190 mil inscritos e mais de 16 milhões de visualizações.
A princípio, os vídeos de Adriana eram voltados aos amigos da família, mas com o passar do tempo, as postagens começaram a “viralizar’’ pelas redes, principalmente pelo fato de sua mãe lhe desmentir nas gravações. No início deste mês, as novas youtubers ganharam a placa dos 100 mil inscritos do Youtube. Nair é portadora de Alzheimer desde 2015 e sua filha cuida dela há dois anos, no interior da Bahia.
Seu diagnóstico ocorreu em setembro de 2016 através de exames de tomografia computadorizada e testes de consultório médico feitos pelo seu plano de saúde, com perguntas sobre tempo e espaço. Adriana conta que os primeiros sintomas de sua mãe foram histórias repetitivas e esquecimentos pontuais. Atualmente, Nair se encontra na transição da fase leve para intermediária da doença e, por orientação médica, ela não sabe que porta a doença.
A ideia dos vídeos no canal veio da filha. Neles, Adriana conta mentiras e histórias exageradas para exercitar e avaliar a memória de Nair. Segundo a youtuber, esse método, até então, dá certo e melhora o raciocínio mental de sua mãe.
O médico de Nair recomenda que haja divisão nas tarefas do cuidado, porém, por falta de disponibilidade dos demais familiares, Adriana cuida de sua mãe sozinha. Ela morava fora do Brasil há 16 anos e, quando teve a notícia que sua mãe foi diagnosticada com Alzheimer, retornou à Itaju do Colônia para assumir a responsabilidade dos cuidados. Ela alega que a situação é delicada e que em alguns momentos se sente cansada.
A dinâmica dos cuidados varia desde dar as medicações e as refeições nos horários corretos, até fechar portas, esconder objetos cortantes e remédios. “Já ocorreu de minha mãe tomar, de uma vez, uma cartela inteira de remédios que eram para os ossos, devido ao esquecimento’’, comenta.
Segundo Adriana, a maior dificuldade com o cuidado de Nair é a higiene. Sua mãe acorda e alega já ter tomado banho, quando ainda não se higienizou. A youtuber conta que a mãe, por vezes, utiliza da água sanitária para lavar seu rosto, braços e pernas. “Minha mãe era uma mulher que acordava muito cedo e sempre tomava banho quando acordava, ao meio e fim do dia […] É muito triste ver uma mulher que se cuidava tão bem, alterar suas características por conta de uma doença assim’’, diz Adriana Salles.
Conhecida popularmente como “Adriana Mentirosa’’, a filha de Dona Nair conta que sua perspectiva futura é ajudar as pessoas que tem Alzheimer e seus cuidadores. Ela também deseja trabalhar com pessoas que sofrem de depressão. “Quero sempre reforçar que os cuidadores devem ter mais amor, carinho e, principalmente, paciência […] Também pretendo desenvolver trabalhos com pessoas que sofrem com depressão. Hoje, tenho um público muito grande que sofre dessa doença, e muitos desses seguidores se identificaram com nossa história e me agradecem pelos vídeos fazerem elas sorrirem de novo’’, afirma a youtuber.
(Os autores são estudantes de Jornalismo da Ufes e colaboradores do Jornal Correio9)
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