Por Elias de Lemos (Correio9) e Bruno Gaburro (Correio9)

Quando um bairro nasce e cresce sem organização, crescem também, os problemas para quem mora ali. A equipe do Correio9 foi até o Bairro Padre Giane, em Nova Venécia, atender a um chamado dos moradores que entraram em contato pelo WhatsApp do jornal. Lá foi recebida pelo morador José Clécio Vieira dos Santos que conduziu e apresentou a outros moradores. No bairro, falta, literalmente, tudo! Faltam rede de esgoto, pavimentação, posto de saúde, escola e a lista não para por aí. O que não falta por lá são problemas e a vontade dos moradores de ver o bairro com boa infraestrutura.

Esses problemas não são de hoje, afinal, o bairro existe há mais de 20 anos. Os ônibus até circulam pelo bairro, mas as ruas não contribuem.
Buracos nas ruas de terra também não faltam. E, quando chove, sair de casa é um desafio para alguns e uma impossibilidade para outros. Já quando o tempo está bom, é a poeira que incomodada e atrapalha a vida de quem mora no bairro Padre Giane, causando sujeira e afetando a saúde de muita gente.
A informação que os moradores têm é que, apesar de o bairro existir há tanto tempo, ele foi sendo formado e esquecido pelas autoridades. Mas, mesmo assim, os moradores não desistem, todos nutrem a esperança de dias melhores.
A maior parte das ruas não tem calçamento, José Clécio mora lá há onze anos, ele tem dois filhos menores. Sua reclamação é a mesma dos seus vizinhos. Segundo ele, fica difícil transitar pelo bairro em dias de chuva, e nossa equipe chegou logo após fortes chuvas, encontrando muita lama pelo Padre Giane, mas não é só isso. Além da lama, soma-se a isso os esgotos que correm a céu aberto.
As caixas coletoras foram instaladas por todo o bairro, mas não funcionam, assim, os reservatórios estouram e a “coisa” corre pelas ruas. Muitos moradores precisam se desviar do esgoto para entrar nas suas casas. Em muitas ruas o mau cheiro é insuportável. Ademais, a pouca rede interligada não tem destinação para os resíduos que acabam sendo depositados em um canto do bairro, no que os moradores chamam de “penicão”. Lá a coisa é feia. O local fica no topo de uma ribanceira, onde há um buraco com várias caixas que estão transbordando esgoto.
Com o transbordamento, formou-se um pequeno lago de esgoto onde impera o mau cheiro e os mosquitos reinam. É muito mosquito. Deste lago, o esgoto vai escorrendo por uma “bica”, formada por um cano de PVC. Dalí vai descendo até atingir o leito de um riacho que nasce logo acima. No trecho antes de encontrar o esgoto a água é cristalina, mais depois da mistura, ela se torna escura e fedorenta.
O jovem Felipe da Silva Brito disse que muitos moradores têm apresentado problemas respiratórios, em razão da poeira constante. Uma destes moradores é a senhora Santa Marim Silva. Ela contou que tem problemas respiratórios e desabafou: “Estamos abandonados”. A equipe de reportagem entrou na casa dela e ficou surpreendida com a quantidade de rachaduras nas paredes, o esposo dela, o senhor Luís Carlos Silva é pedreiro e tenta diminuir o problema, ele vai consertando as rachaduras, mas elas não param de aparecer.
Aliás, o problema das rachaduras anuncia uma tragédia. O Bairro Padre Giane é localizado sobre um aterro onde fora um lixão. Embaixo do centro do bairro há lixo depositado se compactando, produzindo e acumulando gás. Na medida em que os resíduos vão se compactando, o solo vai cedendo, provocando as rachaduras nas paredes, e isto pode ser observado em várias casas que circundam o centro do bairro.
O que está acontecendo com o solo do Padre Giane lembra o que aconteceu em 2010 no morro do Bumba, na cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Lá o bairro, também, fora construído sobre um lixão aterrado. Com as chuvas daquele ano, o solo cedeu e o lixo engoliu o bairro soterrando pelo menos 200 pessoas.
Depois das chuvas do dia 5 de dezembro, a vida de muita gente mudou no Padre Giane: gente sem casa, gente que só frequenta a própria casa durante o dia, pois o risco de desabamento é iminente e gente em casa sem móveis. Há famílias cujos filhos dormem nas casas de parentes. Como é o caso de Laudicéia Francisco de Oliveira, que é mãe de dois filhos menores. Na casa dela, somente os adultos dormem em casa. Os filhos pernoitam na casa da irmã dela. Questionada porque, ela disse que não pode abandonar a casa, mas que está tentando proteger os filhos.
Já Daiana da Silva Santos, que tem três filhos, ficou desalojada e mora em uma casa cedida por uma “irmã” da igreja. Aliás, os moradores se conhecem e pareceram bem fraternais.
Situação semelhante é vivenciada por Patrícia Rodrigues, cuja casa foi invadida pela água destruindo móveis e eletrodomésticos. Ela contou que perdeu praticamente todos os móveis. A equipe viu muitos colchões jogados no lixo.
O senhor Romildo Pereira Nunes mora lá há 15 anos. Ele explicou que o matagal que cresce no local onde seria uma praça é um lugar perigoso, onde aparecem animais peçonhentos, especialmente cobras, que chegam a entrar nas casas. Ao ser perguntado sobre os urubus espalhados pelo bairro, ele brincou dizendo: “Não são urubus, são as galinhas da Prefeitura”.
No final da Rua São Jorge, mora o senhor Alfredo Hammer. Ele gastou R$ 8 mil para construir um muro nos fundos da sua casa. Com as chuvas do dia 5, o muro desabou, o solo está cedendo e a casa dele e da vizinhança apresentam rachaduras do piso ao teto. E ele ainda deve R$ 2 mil, da construção do muro que não existe mais. Segundo ele, a Defesa Civil esteve no local, mas nada foi feito.
Os moradores reclamam da falta de assistência pós-chuvas. Eles contam que foram visitados por uma equipe da Secretaria de Ação Social do Município, mas não receberam, até agora, nenhuma ajuda. Estão se virando como podem, uns ajudando os outros.
O Padre Giane conta com uma creche em tempo integral, mas é só isso. As escolas mais próximas estão no Bairro Aeroporto e no São Francisco, para onde os estudantes são obrigados a se deslocarem. Posto de saúde, também não tem, eles precisam ir até o Aeroporto para conseguir atendimento médico. E quando isto acontece, eles perdem um dia de trabalho.
O bairro tem uma quadra de grama sintética, no entanto os moradores se queixam da falta de prioridade na decisão da construção, alegando que os grandes problemas são a falta de saneamento e calçamento.
A coleta de lixo é elogiada, mas o recolhimento de entulho não acontece. Já na área de segurança, eles disseram que “uma vez ou outra”, a polícia circula pelo bairro.

Mas parece que está surgindo uma luz no fim do túnel. No mesmo dia em que a equipe do Correio9 esteve com os moradores do Padre Giane, a vereadora Gleyciaria Bergamim apresentou o projeto para o saneamento e a pavimentação do bairro. Orçado em R$ 1,7 milhão, o projeto foi desenvolvido pela equipe da Secretaria de Planejamento da Prefeitura e levado ao Secretário de Desenvolvimento Urbano do Governo do Estado, Rodney Miranda. O projeto foi entregue pela vereadora e pelo prefeito, Mario Sérgio Lubiana na semana passada.
Gleyciaria disse a esta reportagem que o projeto está sendo analisado pela Secretaria para depois passar à fase de convênios. Ainda não há um prazo estabelecido, pois o cronograma só seria feito depois da aprovação do trabalho.
A equipe buscou contato com a Secretaria de Ação Social e com a Defesa Civil de Nova Venécia, mas as ligações não foram atendidas.
Os moradores se queixaram dos três últimos prefeitos do município, segundo eles, no bairro “falta tudo, só não faltam promessas”.
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