Elias de Lemos (Correio9)
A artesã Magali Mendes é mais uma daquelas pessoas que encontraram na arte um modo de viver e se distanciar de preocupações. Ela trabalha há 20 anos em Nova Venécia e começou produzindo presentes, sem intenção de comercializar.
Magali explica o que faz: “Eu trabalho com bonecas de pano, também MDF, que são essas caixas que a gente compra cruas e enfeita fazendo kits para bebê, quadros para área de churrasco, caixas de maquiagem, coisas de cozinha, também, caixas de Gim, caixas de vinho para presente”.
A sigla MDF significa “Medium Density Fiberdoard” (Painel de fibra de média densidade) e consiste em uma chapa de madeira de fibra de média densidade produzida a partir de um processo de aglutinação com o uso de resinas sintéticas e aditivos. As chapas são posteriormente coladas umas sobre as outras com resina e depois fixadas através de pressão.
O fato das placas serem homogêneas e não apresentarem nódulos permite que a madeira seja cortada em qualquer direção, possibilitando um acabamento mais elaborado.
Garrafas também são produzidas em seu ateliê, às pessoas levam a garrafa e pedem para enfeitar. E tem, também, aquelas vasilhas antigas que a pessoa quer transformar para tornarem enfeites; baú antigo, e assim, Magali vai produzindo.
Ela conta que pesquisa bastante sobre o tema e, também faz cursos para aprimorar e adotar novas técnicas.
No começo o artesanato era uma terapia para a artista: “Eu entrei em depressão em 2001, eu trabalhava fora como secretária na Clínica São Marcos. Eu tenho duas filhas, uma mora em Brasília e a outra em Vitória. A de Brasília teve neném e eu saí da clínica e fui para lá para ajudar. Quando voltei foi que criei meu ateliê (minha mãe mora aqui), e para ajudar nós reunimos um grupo de cinco artesãs e todas as terças-feiras a gente vai para a loja Magazine, no Centro, e levamos o material já preparado e lá compramos os enfeites”. Foi na arte que ela encontrou a saída da depressão!
Depois da depressão, mais recentemente Magali passou por outra provação, quando foi diagnosticada com câncer. Mais uma vez, ela enfrentou com coragem e o artesanato foi sua válvula de escape. “Eu fiquei com medo de retomar a depressão, então enquanto fazia o enfrentamento, mergulhei no meu ateliê. Não me concentrei no problema, mas, na solução dele. E, graças a Deus, estou curada”, comemora.
Como toda arte, o trabalho não se repete: “Tudo o que faço é diferente um do outro. Às vezes a pessoa fala: eu quero igual, mas, por exemplo, às vezes a gente mistura as tintas, quando sobram aqueles restinhos a gente junta e faz outra cor. Nunca faz igual, alguma coisa sai igual, mas a maioria não sai, é única”, definiu.
Às vezes não é fácil encontrar material na cidade aí ela e seu grupo buscam em Vitória ou São Mateus: “Porque, por exemplo, caixas de MDF eu compro poucas aqui, porque eu tenho uma ex-cunhada que tem uma fábrica lá em Vitória. Então quando eu vou lá eu trago ou quando minha filha vem, ela traz para mim”.
Quem são seus clientes? Para onde ela vende? “Para te falar a verdade, eu não tenho ganância de vender. Eu faço para ocupar o meu tempo e distrair minha mente, porque eu tenho muito medo de entrar em depressão outra vez”.
“Quando eu comecei a trabalhar com artesanato, minha depressão acabou. Quando vamos para o Magazine, perguntamos: hoje tem terapia? Tem uma menina lá que nos orienta, a Fabiana Lenke, ela é fantástica”.
Com a recente reabertura da Feira de Artes e Sabores, em Nova Venécia, Magali foi convidada a expor seu trabalho e isto a empolga: “Agora fui convidada para expor na feirinha, que reabriu com a pandemia sob controle, então eu estou animada, só falta acertarmos os detalhes com o nosso grupo. Só que eu sou tímida para essas coisas (risos)”.
Ela fala com entusiasmo sobre as bonecas que produz: “Eu faço muita boneca, fiz uma para minha irmã e ela levou para o Rio de Janeiro para presentear, depois disso recebeu uma encomenda de mais quatro unidades.
Depois fui recebendo encomendas e acabei fazendo 140 bonecas, todas iguais, mas com as roupas diferentes. Fiz várias para um aniversário em Colatina, porque muitas pessoas compram para presentear”, explicou.
Mas nem tudo são flores para quem trabalha no artesanato! Nem todas as pessoas entendem o valor da arte.
Arte não tem preço, tem valor: “Acontece que você já ouviu falar de que santo de casa não faz milagre? A maioria das pessoas não dá valor ao trabalho da gente. Quando as pessoas vão a uma loja comprar alguma coisa elas veem o preço, compram, pagam ou parcelam, mas quando se trata de artesanato, não. As pessoas comparam os ‘preços’, sem considerar a singularidade de cada peça artesanal e o trabalho que dá”.
O desabafo dela reforça mais uma vez a visão leiga e vulgar que trata o produto artesanal como se não fosse resultado de trabalho…
O que se passa na cabeça de Magali quando está criando? “Vamos supor: hoje eu comecei a fazer essa boneca aqui (apontando para uma linda peça sobre a mesa). Eu vou fazendo e pensando como vou fazer a próxima, como ela vai ficar. A mesma coisa é com o MDF, eu vou fazendo e pensando em fazer outras, em fazer mais. Hoje eu separei tudo isso aqui para eu fazer (diz apontando para algumas peças sobre a mesma mesa)”.
Magali usa poucas palavras para explicar o envolvimento de quem trabalha com artesanato: “Trabalha com amor. Se não tiver amor não adianta…”
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