
Um monitor ambiental, de 36 anos, que atua em Peruíbe, no litoral de São Paulo, encontrou na praia uma embalagem de leite de soja produzida na Malásia, país do sudeste asiático e localizado a mais de 16 mil quilômetros do município paulista. O monitor Márcio Ribeiro, responsável por recolher o lixo internacional, conta que a embalagem foi encontrada em um local preservado do município.
Segundo Ribeiro, o encontro ocorreu durante uma visita à Praia do Arpoador, no Parque Estadual do Itinguçu, considerada um paraíso pelos moradores e turistas. O monitor acompanhava um grupo de turistas que visitava o local, que só pode ser acessado por embarcações, quando encontrou a embalagem encalhada na praia.
Ribeiro aponta que, além da caixinha asiática de leite de soja, o grupo também recolheu embalagens de leite e um saco plástico para armazenamento de sulfito de sódio, ambos produzidos na Alemanha. “É comum aparecer lixo dos países asiáticos, mas da Europa é mais difícil. Faz a gente pensar sobre a responsabilidade de quem produz”.
“Trabalho com monitoramento ambiental há 15 anos e não é tão raro encontrarmos lixo vindo de outros países, mas mesmo assim a gente fica triste, principalmente por ser uma área de preservação ambiental. É um ambiente muito rico em questão de biodiversidade, e lixos acabam servindo de alimento e levando os animais a óbito”, explica Ribeiro.
O monitor, que também atua como colaborador da ONG Ecologia e Movimento (Ecomov), relata que parte do material foi descartado, enquanto os lixos internacionais foram recolhidos pela organização não-governamental para serem encaminhados à análise de ecotoxicidade, a fim de medir o impacto causado pelos materiais no meio-ambiente.
Responsabilidade
O presidente da Ecomov, Rodrigo Azambuja, explica que não há como determinar, com exatidão, por quais meios as embalagens encalharam na praia em Peruíbe, no entanto, indícios apontam que elas são proveniente de descarte irregular da tripulação de navios que transitam pela costa brasileira.
Azambuja afirma que além de Peruíbe estar situada entre os portos de Santos e Paranaguá (PR), onde há grande fluxo de embarcações internacionais, o lixo não apresenta estado de degradação, o que aponta que o material foi descartado em um período não muito antigo.
O que chama a atenção das autoridades ambientais, segundo o presidente, é a quantidade e a diversidade do lixo que encalha no litoral, principalmente em áreas de preservação ambiental. “Recolhemos esse material e o encaminhamos para análise no Laboratório de Ecotoxicidade da Universidade Santa Cecília (Unisanta)”.
“Vamos encaminhar os laudos para o Ministério Público, pois apesar da dificuldade, é preciso determinar a responsabilidade de quem produz esses resíduos. Não temos como fiscalizar 100% das nossas praias o tempo todo, mas são inúmeras as denúncias de descarte irregular. Esses são crimes silenciosos, onde não há flagrante. Quando são empresas nacionais, há punições, e isso também deve acontecer com as companhias internacionais”, finaliza Rodrigo.