O processo de reestruturação do Cruzeiro atinge todo o clube, e não somente o profissional. Prova disso é que as mudanças estão ocorrendo a todo momento nas categorias de base. Uma saída que o clube não quer, no entanto, é a de Estevão William, garoto de 13 anos que leva o apelido de Messinho e é uma das principais promessas da Toquinha.
A permanência dele no Cruzeiro, entretanto, não está garantida para 2020. E o momento conturbado do clube, principalmente na questão administrativa, é o principal motivo dessa incerteza. Segundo apurou o GloboEsporte.com, as pessoas que cuidam deste início de carreira do garoto estão receosas quanto ao futuro do clube. A sequência dele na Toquinha depende de um horizonte mais certo nos bastidores celestes.
E já tem muitos clubes de olho na situação de Messinho. Um deles é o Barcelona. No fim de outubro do ano passado, Éric Abidal, secretário técnico do clube catalão, esteve na Toca da Raposa para uma visita ao Cruzeiro e observou um treino de Estevão.
O garoto agradou ao ex-jogador francês, que chegou a conversar com André Cury, empresário de Estevão, que é também representante do Barcelona no Brasil. As conversas, no entanto, não tiveram prosseguimento.
Este ano, quem está cuidando da situação de Estevão William no Cruzeiro é principalmente Ricardo Drubscky, diretor das categorias de base que chegou ao clube no fim de dezembro. O dirigente já teve conversas iniciais com os representantes de Messinho e, em entrevista à Rádio 98FM, na sexta-feira passada, afirmou que o garoto mostrou um interesse em seguir na Toca:
– O Estevão é um menino que eu já conheci. Já estive com ele e com o pai dele. Já tive com o procurador dele, e a gente tem conversado. O interesse do Cruzeiro é muito grande em permanecer com ele, e o dele de permanecer no Cruzeiro. Percebo que o pai dele, o Ivo, pelas conversas que já tive com ele, é um camarada muito inteligente. (…) Temos um caminho longo a percorrer com esse garoto e outros talentosos que estão na base do Cruzeiro, e nós temos que tratar com cuidado. Mas este cuidado não é tratá-los “a pão-de-ló”, com toda a proteção, pelo contrário. Temos que tirar a proteção, para que ele crie cascas e possa lutar pelas dificuldades que ele vai ter na carreira profissional.
“Está tudo sob controle dentro daquilo que é o mercado maluco do futebol nos permite. Está tudo caminhando conforme deve estar”
Polêmica com Messinho
Em maio do ano passado, o Fantástico revelou que a Polícia Civil de Minas Geraisinstaurou inquérito para apurar denúncias sobre falsificação de documento particular, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro no Cruzeiro.
A reportagem foi além e conseguiu quase 200 páginas de contratos e planilhas de controle interno. Há evidências de que a diretoria cruzeirense quebrou regras da Fifa e da CBF, no âmbito do futebol, e do governo federal, por meio do Profut, programa de renegociação de dívidas fiscais com clubes.
Um das denúncias mais graves foi no caso de um empréstimo de R$ 2 milhões do empresário Cristiano Richard dos Santos Machado ao Cruzeiro. A quantia deveria ser paga em duas parcelas mensais. Um mês depois, o Cruzeiro assinou um segundo documento com Cristiano Richard. O clube alegou que não tinha condições financeiras para quitar o empréstimo e aceitou quitar a dívida com a cessão de direitos desportivos. A Cristiano Richard foram entregues percentuais sobre os direitos econômicos de dez jogadores do elenco profissional e das categorias de base.
Na prática, esses direitos correspondem à multa rescisória de contratos entre clubes e atletas. No entanto, a ação é vedada pela Fifa desde 2015. Apenas clubes e os próprios atletas podem, desde então, ter partes de direitos econômicos – legalmente semelhantes ao que antigamente se chamava de “passe”.
Entre os atletas cujos percentuais foram cedidos a Cristiano Richard em troca do empréstimo de R$ 2 milhões, estava Estevão William. O Cruzeiro não poderia ter cedido percentuais sobre o contrato de Estevão a terceiros, em primeiro lugar, porque a prática foi proibida pela Fifa. Em segundo, porque potenciais jogadores só podem assinar seus primeiros contratos profissionais a partir dos 16 anos. Antes disso, crianças e adolescentes podem no máximo ter contratos de formação, nos quais não há direitos federativos e econômicos. A venda de 20% de Messinho não poderia ter ocorrido.
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