Elias de Lemos (Correio9)
Quem sofre de depressão conta com tratamento especializado em Nova Venécia. A ajuda pode ser no Hospital São Marcos ou na Clínica São Camilo, que fica anexa ao hospital. Na clínica o tratamento é realizado por dois especialistas, um psicólogo e um psiquiatra. No hospital há uma equipe multidisciplinar com sete especialidades.
O psicólogo Marcelo Dal’Col explicou ao Correio9 como acessar a ajuda e detalhou os procedimentos do tratamento. Segundo ele, a equipe conta com fisioterapeuta, psiquiatra, clínico geral, assistente social, nutricionista, enfermagem e farmacêutico.
Além da depressão, é oferecido tratamento para dependência química e esquizofrenia. No primeiro caso é tratada a dependência orgânica e o processo dura em média dez dias. Já no segundo caso pode durar até trinta dias.
Pessoas com depressão devem procurar o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que fica localizado na Rua Luiz Altoé, no Bairro Altoé, em Nova Venécia (telefone 27-3752-2180). De lá os pacientes são encaminhados para o hospital. No entanto, o São Camilo recebe, também, pacientes de todo o Estado, provenientes da Central de Regulação. Quem opta pelo tratamento clínico pode procurar diretamente a Clínica São Camilo.
De acordo com Marcelo Dal´Col, no hospital é feita a “estabilização residual”, depois o paciente é devolvido ao CAPS, onde é feito o acompanhamento continuado.
Na fase de estabilização a pessoa fica internada. “O acolhimento é muito importante para transformar pensamentos negativos em positivos”, afirmou o psicólogo. Neste processo o papel da família é essencial.
O tratamento não obedece a uma receita pronta, cada caso é um caso. “A evolução é exclusiva de cada pessoa. O psicólogo não dá conselhos, não diz o que fazer, ele ajuda a pessoa a construir caminhos para que o paciente caminhe sozinho”, disse o especialista.
O primeiro passa para detectar a depressão é a observação dos sintomas, os quais podem derivar de raiva, estresse ou tristeza. Outro elemento preponderante é a busca por prazeres imediatos, advertiu Marcelo. Neste sentido a pessoa abandona os planos e prazeres de longo prazo.
Porém, a palavra mais repetida pelo psicólogo é “frustrações”. De acordo com ele, a frustração é a principal causa da doença. E cita um exemplo: “É muito comum a gente ouvir pessoas dizendo: ‘quero dar aos meus filhos o que eu não tive’. É uma frase negativa, os pais devem oferecer o que podem, o principal é acolhimento e afeto”.
Origem da campanha Setembro Amarelo
A cor amarela é usada para representar o mês da prevenção do suicídio por causa de Dale Emme e Darlene Emme. O casal foi o início do programa de prevenção de suicídio “fita amarela”, ou “Yellow Ribbon” em inglês.
Em 1994, Mike Emme, filho do casal, com apenas 17, se matou. Mike era conhecido por sua personalidade caridosa e por sua habilidade mecânica. Restaurou um Mustang 68 e o pintou de amarelo. Mike amava aquele carro e por causa dele começou a ser conhecido como “Mustang Mike”.
Entretanto, infelizmente, aqueles próximos de Mike não viram os sinais e o fim da vida do garoto chegou. No dia do funeral dele, uma cesta de cartões com fitas amarelas presas a eles estava disponível para quem quisesse pegá-los. Os 500 cartões e fitas foram feitos pelos amigos de Mike e possuíam uma mensagem: “Se você precisar, peça ajuda”.
Os cartões se espalharam pelos Estados Unidos. Em poucas semanas começaram a aparecer ligações. Um professor de outro estado havia recebido um dos cartões de uma aluna, pedindo por ajuda. Diversas cartas chegavam de adolescentes buscando ajuda.
A fita amarela foi escolhida como símbolo do programa que incentiva aqueles que têm pensamentos suicidas a buscar ajuda.
Em 2003 a OMS instituiu o dia 10 de setembro para ser o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, e o amarelo do Mustang de Mike é a cor escolhida para representar este sentimento.
A imprensa e o suicídio
Suicídio não é notícia. Isso está em livros de jornalismo. O motivo é o medo de causar o chamado “Efeito Werther”. Este fenômeno ganhou seu nome do livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, livro do autor alemão Johan Wolfgang Von Goethe, publicado em 1774. No final do livro, que possui um tom depressivo, o jovem Werther se suicida, o que levou a uma onda de suicídios nos jovens europeus da época.
O efeito Werther foi comprovado cientificamente e é chamado de “suicídio por imitação”. Suicídios se tornam mais comuns quando divulgados pela mídia. Por exemplo, após as mortes por suicídio de Marilyn Monroe, em 1962, e de Kurt Cobain, em 1994, as taxas de suicídio americanas tiveram aumentos notáveis.
É por isso que a Organização Mundial da Saúde desaconselha que a mídia exponha métodos ou processos de suicídio: para evitar que esta exposição incentive outras mortes.
Entretanto, os suicídios não são causados pela notícia ou pelo vídeo. As pessoas que se mataram ao ver esse tipo de coisa já tinham tendências antes de assistir e se encontravam no grupo de risco. Pessoas com depressão, pensamentos suicidas, esquizofrenia ou diversas outras doenças mentais não tratadas são vulneráveis ao efeito Werther.
Falar sobre o assunto é extremamente importante justamente para que possamos reduzir o número de pessoas vulneráveis. Para que possamos evitar suicídios, o diálogo é o primeiro passo. Conversar, trazer o assunto à tona e fazer com que essas pessoas saibam que não estão sozinhas e que existem meios de tratar estas doenças.
O psicólogo alerta que, em geral, suicídios são planejados e as pessoas dão sinais. Elas avisam e pedem por ajuda de maneiras conscientes e inconscientes. Reconhecer estes sinais e ofertar apoio pode prevenir uma tentativa e começar um caminho de superação do sofrimento.
Fatores de risco
Existem certos fatores de risco que aumentam as chances de alguém apresentar pensamentos e tentativas suicidas. São eles:
• Tentativas anteriores;
• Abuso de substâncias;
• Ter entre 15 e 35 anos ou mais de 75 anos;
• Histórico de suicídio familiar;
• Falta de vínculos sociais e familiares;
• Doenças terminais ou incapacitantes;
• Desemprego;
• Declínio social;
• Divórcio;
• Estresse continuado.
Além disso, são fatores de risco:
Extremos monetários
Estudos apontam que pessoas com muitos problemas financeiros ou com dinheiro demais apresentam maiores chances de tentar o suicídio.
No caso daqueles que possuem sérios problemas financeiros, o problema é óbvio, a falta de dinheiro causa estresse. Para aqueles que possuem muito dinheiro, a sensação de que existe muito a perder também pode ser um fator de estresse.
Como pedir ajuda?
Se você está com pensamentos suicidas, é importante pedir ajuda. Fale com alguém próximo, conte para as pessoas o que passa pela sua cabeça. Ter alguém para conversar faz toda a diferença.
Se você não tem ninguém próximo com quem conversar, não hesite em ligar para 188 e conversar com um dos voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV). Eles estão lá para você e podem entender pelo que você está passando.
O que não fazer se alguém próximo tem pensamentos suicidas?
Nem sempre é fácil saber o que fazer quando alguém próximo revela ter pensamentos suicida, mas saiba que, se isso acontece, esta pessoa está se abrindo para você e isso é um passo importante para a melhora. Caso isso aconteça, ou caso perceba sinais de alerta em alguém próximo, existem algumas coisas que não se deve fazer.
Condenar
Não julgue a pessoa. Você não sabe pelo que ela está passando e ela está pedindo ajuda, portanto busque não decepcioná-la. Dizer que o suicídio é covardia ou fraqueza não é nem verdade, nem ajuda.
Banalizar
Lembre-se de que a maneira como sentimos as coisas é diferente para todo mundo. Aquilo que a pessoa com pensamentos suicidas está sentindo é só dela e se está levando-a a sentir-se daquela maneira, é porque é sério.
Lembre-se também de que o suicídio é extremamente complexo e não pode ser atribuído exclusivamente a um evento, mas sim a vários fatores. Não banalize nenhum deles.
Dar opinião
Pensamentos suicidas não são questão de opinião. Dizer que é “falta de Deus” ou que a pessoa “quer chamar atenção” não ajuda, só piora.
Brigar
Os pensamentos suicidas são um sintoma e não uma escolha. Fazer a pessoa sentir-se culpada só piora a situação.
Frases de incentivo
Dizer para a pessoa “pensar positivo” ou que “a vida é boa” não ajuda. A pessoa com pensamentos suicidas pode sentir-se ainda pior por não conseguir sentir-se melhor, achando que a culpa disso é dela, quando não é.
Como ajudar?
Caso perceba sinais de alerta de suicídio ou alguém próximo entre em contato para pedir ajuda, algumas coisas podem ajudar.
Escute
Encontre lugar apropriado e particular e escute o que a pessoa tem para falar. Deixe ela saber que você está lá para ouvir e apoiar e escute. Este não é o momento para oferecer soluções práticas, mas sim para escutar e estar lá pela pessoa, dando à ela a certeza de que ela não está sozinha.
Incentive-a a buscar ajuda profissional
Abrir-se com alguém próximo é um primeiro passo importante, mas a ajuda profissional faz grande diferença e é onde é possível iniciar um tratamento. Ofereça-se para acompanhar a pessoa em uma consulta.
Mantenha o contato
Acompanhe a pessoa, mantenha o contato e fique por perto. Esteja lá para a pessoa e a apoie em sua doença e tratamento.
Em caso de crises
Se você acha que a pessoa está em perigo de se machucar no momento, entre em contato com profissionais de emergência e busque atendimento, ou consulte um familiar da pessoa para que ela fique segura.
Preocupação com a própria morte
Quando uma preocupação com a própria morte surge de maneira repentina, pode ser um sinal. Visões negativas, ideias expressas em escrita, por fala ou desenhos, podem significar que a pessoa está pensando em suicídio.
Isolamento
Pessoas com pensamentos suicidas tendem a se isolar, não atendendo telefonemas ou cancelando eventos e atividades, mesmo as que costumavam gostar de fazer. Preste atenção especialmente se algum isolamento surge de maneira repentina.
(Esta reportagem contou com informações do CVV https://www.cvv.org.br. Na próxima semana o Correio9 publicará depoimentos de pessoas com depressão)
Leia a primeira parte desta matéria especial clicando no link: https://correio9.com.br/psicologo-fala-ao-correio9-sobre-o-setembro-amarelo-o-que-e-como-surgiu/
Comente este post