Elias de Lemos (Correio9)
Uma doença considerada terrível por quem tem gatos em casa, a esporotricose está preocupando uma moradora do Bairro Rúbia, em Nova Venécia. Causada pelo fungo Sporotrix Schenkii, a esporotricose pode afetar diversos animais, incluindo cachorros e gatos e, também, pode ser transmitida ao ser humano. Nos últimos dias a permanência de um gato com a doença se tornou uma preocupação para a família da vendedora Léria Marquete.
De acordo com ela, há alguns dias o animal começou a apresentar feridas no corpo e aparentando sentir muita dor. Ao entrar em contato com o setor de Vigilância e Saúde do município de Nova Venécia, ela foi informada de que o animal estaria infectado pela esporotricose e que o recomendável seria o tratamento, pois, neste caso, o sacrifício não é protocolo.
No entanto, temendo a contaminação de outros animais, especialmente aqueles em situação de abandono, ela insiste na eutanásia.
O Correio9 falou com Maria Guadalupe Dias Pestana Santos – veterinária responsável pelo Setor de Vigilância, da Secretaria Municipal de Saúde. Segundo ela, a vigilância segue protocolos específicos para cada caso, e que em se tratando de esporotricose, recomenda-se o tratamento medicamentoso via comprimidos.
Porém, os medicamentos são caros e não são fornecidos pelo poder público. Léria chegou a ganhar alguns medicamentos, no entanto, o felino tem se recusado a ingerir. Assim, a única saída que ela vê é o sacrifício do animal.
Ela disse ao Correio9 que está “apelando” para quem puder ajudá-la: “Ele está sofrendo e isso não pode continuar”. Por um lado ela não tem encontrado meios de cuidar do bicho, por outro o setor público não fornece ajuda. Se ela agir por conta própria, pode ser acusada de maus tratos ou até por crueldade com o animal. Como fica uma situação dessas?
A esporotricose é uma doença crônica e esporádica causada por um fungo, presente no solo e na vegetação. Pode afetar diversas espécies de animais, incluindo cães e gatos e ainda pode ser transmitida ao ser humano, por isso é imprescindível ter alguns cuidados.
Afinal, o que é a esporotricose?
A esporotricose, também conhecida como doença da roseira, é causada por um fungo presente no solo. Normalmente, a contaminação acontece quando o gato enterra as fezes.
Existem três fases distintas de acordo com sua progressão:
• Cutânea localizada: caracterizada por lesões nodulares avermelhadas individuais ou múltiplas na pele do animal.
• Cutânea linfática: quando a infecção progride formando úlceras na pele e atinge o sistema linfático do animal.
• Cutânea disseminada: quando a doença atinge um estado tão grave que todo o organismo do animal fica afetado. As úlceras de pele tornam-se cada vez maiores e pode ocorrer a forma extra-cutânea, acometendo outros sistemas como articulações, ossos, pulmões.
É uma doença terrível, que pode acometer diversas espécies de animais, incluindo cães e gatos. Além disso, já foi descrita em equinos, bovinos, suínos, camelos e primatas. É também uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida de animais para humanos. O tratamento em humanos é feito à base de drogas muito fortes.
Os gatos são os mais suscetíveis à infecção, com evolução da doença de forma mais grave do que nas outras espécies, e podem disseminá-la para os seres humanos por razão da grande quantidade de Sporothrix spp. encontradas nas lesões destes animais e, principalmente, nas unhas e na cavidade oral. Em cães e equinos, é raramente encontrada.
O agente da doença, o próprio fungo, geralmente entra no organismo por meio de uma ferida na pele ou por pequenas lesões. Os principais locais onde são encontrados esse fungo são em plantas, nas cascas de árvores e espinhos, aproveitam estes locais para se proliferarem ao causar pequenos cortes nos bichanos que gostam de passear e brincar de arranhar árvores em jardins, assim facilitam a transmissão, que pode ocorrer também através do contato com objetos ou ambientes contaminados.
Como evitar
As formas de controle e prevenção da esporotricose devem ser baseadas na adoção de medidas higiênico-sanitárias visando reduzir os riscos de transmissão do fungo para outros animais e até mesmo os humanos. Assim, os animais doentes devem ser mantidos em isolamento e tratamento até a total cura clínica. Além disso, deve-se evitar o acesso de animais sadios e doentes a ambientes externos, evitando assim o contato com outros animais e com o ambiente que poderá estar contaminado com o fungo.
Vale lembrar que o gato é a espécie mais acometida e principal responsável pela transmissão, então ser um tutor responsável e controlar o acesso do seu bichano a ambientes externos, visitar de forma regular seu veterinário ou ao notar algum sintoma suspeito com certeza farão a diferença.
Sintomas da esporotricose
As lesões na pele, chamadas de cancro esporotricótico, surgem principalmente na região da cabeça e nas extremidades das patas. Geralmente são feridas de forma nodular e avermelhadas que não causam dor e nem coceira, mas que costumam ser graves, pois não saram com antibióticos, pomadas ou qualquer outro tratamento convencional.
Alguns sintomas sistêmicos podem surgir como fraqueza, anorexia e febre. Nos cães e em humanos podem ocorrer também aumento dos linfonodos (gânglios).
Como diagnosticar
O médico veterinário poderá avaliar pelo histórico do animal e se o mesmo tem acesso livre a ambientes externos. Porém, somente exames de citologia, cultura de fungos ou ainda biópsias das lesões podem concluir o diagnóstico.
Tratamento da esporotricose
O tratamento da esporotricose é um processo demorado, podendo levar alguns meses para que o animal esteja curado e deve continuar entre três a quatro semanas mesmo após a cura aparente. Podem ser administrados antifúngicos orais e, em caso de infecções secundárias, antibióticos. Importante ressaltar que o tratamento deve ser realizado apenas com acompanhamento do médico veterinário, ainda mais nos casos de esporotricose em gatos, pois eles são sensíveis a diversos medicamentos e a avaliação, prescrição e dosagem devem ser realizadas por um profissional.
(Esta reportagem contou com informações do site da DrogaVet)
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