Elias de Lemos (Correio9)
Os principais rios que abastecem o Estado do Espírito Santo estão abaixo do limite normal, de acordo com o relatório da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh). A pior estiagem vivida pelo Estado em 80 anos tem causado problemas no abastecimento, além de prejuízos na agropecuária em várias regiões. O setor cafeeiro, por exemplo, estima que em 2017, as exportações do café capixaba terão o menor volume em trinta anos. Atualmente, vinte municípios estão em situação “extremamente crítica” por causa da falta de água.
O ano de 2017 ainda não acabou, mas terá uma marca negativa no mercado cafeeiro capixaba. Faltando quatro meses para o fim do ano, a previsão é de que a exportação tenha a pior marca nos últimos 30 anos, com cerca de 1,8 milhão de sacas vendidas para o exterior. Segundo a declaração do presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória, Jorge Luiz Nicchio, este número é o menor desde 1982.
Ele lembrou que a queda já era registrada nos últimos tempos, com 6,4 milhões de sacas exportadas em 2015, e 2,3 milhões de sacas em 2016. Para este ano, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), preveem uma queda de quase 9% na produção do grão em relação à safra de 2016.
O presidente do CCCV lembra que além da produção ser prejudicada pela falta de chuvas, problema que se intensificou nos últimos três anos, também há outros detalhes que inviabilizam a exportação, como a falta de capacidade do Porto de Vitória.
No interior do estado, especialmente nas Regiões Norte e Noroeste, a situação dos rios é ainda mais crítica, e em alguns municípios sob a concessão da Cesan já há racionamento.
Nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, o problema da ausência de chuvas já chegou às torneiras das casas. Com o baixo volume de água, na foz do Rio Cricaré, a água do mar está avançando pelo leito do rio e já ocupou as estações de captação da Cesan.
Hoje, a água fornecida à população, nos dois municípios, tem 4g de sal por litro, acima dos níveis aceitáveis.
A Agência Estadual de Recursos Hídricos, informou que o Espírito Santo atravessa a pior estiagem dos últimos oitenta anos, que ocasionou a diminuição considerável das vazões dos rios.
Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Espírito Santo já enfrenta uma crise hídrica há três anos.
Desde 2014 o mês de agosto tem sido mais quente e seco do que o normal em praticamente todo o Estado, mesmo com a passagem de três frentes frias ao longo do mês, no ano passado, (a média de passagem do sistema em agosto no estado é de duas frentes frias). Quanto às chuvas, a quantidade registrada, em agosto de 2016, mal corresponde à metade do esperado.
Previsão para os próximos meses não é otimista
A previsão de chuva, para os próximos quatro meses no Espírito Santo não vai alterar de imediato os efeitos da seca. As chuvas não devem ser suficientes para reabastecer completamente o lençol freático, que em decorrência de três anos consecutivos de chuvas abaixo da média histórica, está muito abaixo do volume normal. O solo está muito seco, degradado e sem cobertura vegetal, o que compromete a infiltração de água.
A ausência de chuvas está comprometendo o abastecimento e obrigando a população a adotar medidas de economia de água. Atualmente, vinte municípios estão em situação “extremamente crítica” por causa da falta de água, segundo a Agerh.
Catorze municípios do Espírito Santo estão fazendo racionamento de água, de acordo com a Cesan. Em algumas cidades do interior, foi adotado o esquema de rodízio para abastecimento da população. Carros-pipa também estão sendo utilizados para abastecer as regiões mais prejudicadas.
Mas, se por um lado, o consumo humano está prejudicado, a utilização da água para a agricultura e a agropecuária tem sido ainda mais controlada. Como consequência, produtores rurais de algumas regiões precisam reduzir a produção.
Em uma propriedade de São Gabriel da Palha, na região Noroeste, dos 100 mil pés de café, 30 mil morreram por causa da seca. Com isso, a propriedade, que em 2014 produziu 1,2 mil sacas de café, forneceu, apenas, 680 sacas em 2015.
Com queda na safra e nas vendas para exportações, muitas empresas exportadoras têm fechado as portas e vários produtores têm erradicado as lavouras por falta de perspectivas de uma recuperação.
O gráfico ao lado contém os índices de chuvas registrados pelo pluviômetro da Cooperativa Veneza nos últimos quinze anos. Nele fica demostrada a fraca incidência de chuvas a partir de 2013, quando houve a maior enchente já registrada no Rio Cricaré. Naquele ano, apenas no mês de dezembro choveram 490 mm, bem acima da média para o mês, que ficou em 188 mm nos últimos quinze anos. Em dezembro de 2013 choveu mais do que durante os oito primeiros meses de 2017.
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