Elias de Lemos (Correio9)
O exercício físico feito de maneira regular e bem orientado é hoje o principal aliado na prevenção de diversas doenças como obesidade, hipertensão arterial, infarto do miocárdio, osteoporose e diabetes.
Isto inclui aquelas pessoas que já desenvolveram tais doenças. A atividade física auxilia tanto na prevenção quanto no tratamento.
Em se tratando da diabetes, o exercício físico melhora o aproveitamento da glicose pelos músculos, reduzindo, muitas vezes, as doses dos medicamentos utilizados e ajudando a prevenir problemas associados ao diabetes, como alterações na retina, vasos sanguíneos, nervos, rins e coração.
Um trabalho desenvolvido no Centro Médico Universitário de Leiden, na Holanda, constatou, através de ressonância magnética, uma redução da gordura ao redor de órgãos como coração, fígado e rins em 12 pacientes com diabetes tipo 2 (quando não há necessidade do uso de insulina para o controle da doença) secundária ao exercício físico. A redução deste tipo de gordura está associada a uma menor ocorrência de complicações do diabetes como o infarto do miocárdio.
Em Nova Venécia, o educador físico Kojak Ribeiro vem desenvolvendo um programa de exercícios físicos para portadores de diabetes. Graduado em Educação Física, pela Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, Kojak, após fazer pós-graduação em “Fisiologia do exercício e prescrição do exercício”, pela universidade Estácio de Sá, tem se especializado em prescrição de exercícios para populações específicas, em especial para o público gestante, hipertenso, diabéticos, crianças e idosos.
Em mais uma conversa com o Correio9, ele fala da diabetes, dos cuidados e as recomendações de exercícios físicos aos portadores da doença.
O que é Diabetes?
Diabetes Mellitus é uma doença caracterizada pela elevação da glicose no sangue (hiperglicemia). Pode ocorrer devido a defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas, pelas células beta. A função principal da insulina é promover a entrada de glicose para as células do organismo de forma que ela possa ser aproveitada para as diversas atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação resulta, portanto em acúmulo de glicose no sangue, o que chamamos de hiperglicemia.
Como a Diabetes pode ser classificada?
Diversas condições podem levar ao diabetes, porém a grande maioria dos casos está dividida em dois grupos: Diabetes Tipo 1 e Diabetes Tipo 2. Existe ainda a diabetes gestacional e outros tipos mais raros de diabetes, mas os mais comuns são a tipo 1 e tipo 2.
A diabetes tipo 1 é resultado da destruição das células beta pancreáticas por um processo imunológico, o que significa a formação de anticorpos pelo próprio organismo contra as células beta levando a deficiência de insulina. Em geral costuma acometer crianças e adultos jovens, mas pode ser desencadeado em qualquer faixa etária.
O quadro clínico mais característico é de um início relativamente rápido (alguns dias até poucos meses) de sintomas como: sede, diurese (produção de urina pelo rim) e fome excessivas, emagrecimento importante, cansaço e fraqueza. Se o tratamento não for realizado rapidamente, os sintomas podem evoluir para desidratação severa, sonolência, vômitos, dificuldades respiratórias e coma. Esse quadro mais grave é conhecido como Cetoacidose Diabética e necessita de internação para tratamento.
Já na Diabetes Tipo 2 (DM 2) (cerca de 90% dos pacientes diabéticos) a insulina é produzida pelas células beta pancreáticas, porém, sua ação está dificultada, caracterizando um quadro de resistência insulínica. Isso vai levar a um aumento da produção de insulina para tentar manter a glicose em níveis normais. Quando isso não é mais possível, surge o diabetes. A instalação do quadro é mais lenta e os sintomas – sede, aumento da diurese, dores nas pernas, alterações visuais e outros – podem demorar vários anos até se apresentarem. Se não reconhecido e tratado a tempo, também pode evoluir para um quadro grave de desidratação e coma.
Ao contrário do Diabetes Tipo 1, a Tipo 2, geralmente, está associada ao aumento de peso e obesidade, acometendo principalmente adultos a partir dos 50 anos. Contudo, observa-se, cada vez mais, o desenvolvimento do quadro em adultos jovens e até crianças. Isso se deve, principalmente, pelo aumento do consumo de gorduras e carboidratos aliados à falta de atividade física.
Sou diabético, posso fazer atividade física?
Com os devidos cuidados, a pessoa com diabetes pode fazer tudo o que uma pessoa saudável é capaz de fazer, inclusive exercícios físicos.
Segundo o American College of Sport Medicine (ACSM) & American Diabetes Association (ADA) estudos tem demonstrado que os exercícios físicos diminuem a hipertensão arterial, contribuem para a redução do colesterol e triglicerídeos, colaborando na redução e evolução das doenças cardiovasculares, além de atuarem na redução de peso, bem como a manutenção de peso normal e da massa muscular, associando o exercício a uma dieta equilibrada.
Quais cuidados devem ser tomados antes de iniciar o exercício?
O primeiro conselho de Kojak é: qualquer pessoa sedentária que deseja iniciar um programa de exercício físico deve primeiro, procurar um médico. Especialmente se esta pessoa possui alguma patologia, como por exemplo, a diabetes, ou se tem mais de 40 anos.
A atividade física deve ser preferencialmente supervisionada por educador físico, o profissional apto a definir intensidade, duração e o tipo de exercício físico, tornando-o mais eficiente e seguro.
No caso do diabético, é importante que o educador físico tenha conhecimento sobre as alterações fisiológicas decorrentes dessa patologia, e experiência com essa população.
Nunca devemos começar uma sessão de exercícios sem antes saber, por exemplo, como esta a glicemia desse paciente.
Que tipo de atividade física pode fazer?
Exercícios aeróbicos, como a caminhada, são muito importantes para quem tem diabetes, mas estudos recentes mostram que a musculação também pode ser muito vantajosa para quem convive com a doença. Isso porque as contrações musculares repetidas estimulam componentes da membrana celular. Isso faz com que as proteínas celulares carreguem mais facilmente a glicose para dentro da célula. Além de controlar o nível de açúcar no sangue, o exercício pode, em longo prazo, diminuir a dependência da suplementação de insulina.
Como os exercícios vão me ajudar?
A prática de exercício melhora as medidas fisiológicas, tais como redução dos triglicerídeos e do colesterol ruim (LDL), aumento do colesterol bom (HDL), diminuição da frequência cardíaca (FC) de repouso e durante a atividade, redução da pressão arterial (PA), entre outras. Estas adaptações são ainda mais importantes em portadores de diabetes uma vez que o risco de mortalidade por doenças coronarianas é de 4 a 5 vezes maior nesses indivíduos quando comparados com outros indivíduos que não apresentam essa patologia.
Além disso, os exercícios regulares ajudam a diminuir o peso corporal ou ainda ajudam a manter um peso ideal, do mesmo modo que agem reduzindo a necessidade de uso frequente de medicamentos orais ou injetáveis, diminuindo a resistência a insulina e contribuindo para uma melhora do controle glicêmico, o que por sua vez, pode reduzir o risco de complicações para a saúde.
Quanto exercício fazer?
Ele diz que o mais importante é a coordenação e organização dos exercícios. Nada de passar horas na academia. Kojak indica que três sessões por semana de atividade aeróbia de intensidade moderada para alta, com volume de 30 minutos, reduz significativamente a prevalência de hiperglicemia.
Desta forma, tais resultados indicam que 30 minutos de atividade moderada para intensa, realizadas três vezes/semana, são tão efetivas no controle glicêmico de portadores de DM2 quanto as atividades menos intensas realizadas todos os dias por 60 minutos.
Vale lembrar, que a prática regular de atividade física de, pelo menos, quatro horas semanais, em intensidade moderada a alta pode reduzir em até 70% a incidência de diabetes em relação a indivíduos sedentários. Dessa forma, programas de exercícios físicos têm demonstrado eficiência no controle glicêmico de diabéticos, melhorando a sensibilidade insulínica e a tolerância à glicose com consequente diminuição da glicemia.
Quando o exercício se torna perigoso? Quando interromper?
É importante ressaltar que alguns cuidados devem ser tomados na prescrição de treinamento físico para portadores de diabetes. No que tange a alguns casos extremos de glicemia elevada ou baixa e neuropatia, alguns exercícios devem ser evitados por riscos que possam causar ao paciente.
Algumas medidas são recomendadas para o programa de exercícios, como monitoração da glicose sanguínea antes, durante e após o exercício, para evitar riscos de hipoglicemia e hiperglicemia, evitando o exercício se as concentrações de glicose estiverem acima de 250mg/dl, o que caracteriza a hiperglicemia, ingerir carboidrato adicional se a concentração de glicose for menor que 100ml/dl, além de consumir carboidrato de rápida absorção durante e depois da atividade evitando assim o risco de hipoglicemia, sendo estas recomendações nutricionais prescritas por um nutricionista.
Além disso, deve-se evitar exercitar os músculos que receberam a aplicação da insulina por aproximadamente uma hora, também não deve ser realizado o exercício no pico da ação da insulina.
Interromper a atividade física a qualquer sinal de hipo ou hiperglicemia, e sintomas como dor no peito, falta de ar desproporcional ao esforço, tontura ou mal estar, sudorese abundante não habitual.
Nesta edição, o Correio9 aborda a questão dos exercícios físicos para portadores de diabetes. Agora que você já aprendeu que é muito importante deixar de ser sedentário, acompanhe as próximas reportagens para ver o que é necessário para o início da sua atividade física.
Como reconhecer os sinais de hipo ou hiperglicemia:
Hipoglicemia: suor excessivo, palpitações, tremores, confusão, sonolência, falta de coordenação, náuseas e dor de cabeça.
Hiperglicemia: inquietação, nervosismo, sede, cãibras, visão turva, náuseas, dor abdominal e aumento de diurese.
Recomendações gerais na prática de atividades físicas:
– Não se exercitar no pico da ação da insulina
– Não aplicar insulina nos músculos que participarão ativamente do exercício
– Não se exercitar em jejum
– Usar roupas e principalmente calçados adequados
– Utilizar se possível frequencímetro, respeitando limites estabelecidos
– Manter sempre ao alcance alguma fonte de carboidratos
– Verificar os pés em busca de ferimentos ou bolhas
– Carregar sempre uma identificação pessoal na qual conste o número e nome da pessoa a ser chamado em caso de emergência
– Valorizar sinais e sintomas anormais durante o exercício
– Hidratação (em torno de 200 ml a cada 20 minutos de exercícios).
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