Elias de Lemos (Correio9)
Jorge Almeida (Correio9)
A instalação de leitos de UTI em Nova Venécia é uma aspiração que se arrasta há anos. E, com a pandemia do novo coronavírus, se tornou uma prioridade e tem sido motivo de pressão popular para que a questão seja solucionada. No entanto, as negociações entre o Governo do Estado, a Prefeitura e o Hospital São Marcos (HSM) se iniciaram há algumas semanas, mas, parece que não vão avançar.
Uma reunião foi realizada com a participação do prefeito, Mário Sérgio Lubiana (o Barrigueira), o subsecretário de estado da Saúde, Gleikson Barbosa Santos (o Kim), o diretor do Hospital São Marcos, Alessandro Aguilera, o deputado federal Evair de Melo, e do, então, secretário de Planejamento de Nova Venécia, Edson Marquiori. No entanto, as negociações não têm evoluído.
Na ocasião, Kim apresentou o plano de expansão de leitos de UTI para tratamento da Covid-19. Pela proposta de parceira, o Governo do Estado oferece os equipamentos, como leitos, aparelhos e respiradores, além de um subsídio de R$ 1.000,00 a R$ 1.700,00 por leito instalado (quando vazio ou ocupado), enquanto o hospital manteria o funcionamento da estrutura de atendimento. Além disso, o deputado Evair de Melo destinou R$ 2 milhões em emendas parlamentares para custear a instalação e parte das despesas de manutenção.
Os leitos seriam montados, provisoriamente, em uma parte da ala particular do Hospital, onde permaneceriam até o fim da pandemia. Depois disso, seria construída uma área específica para instalação permanente.
O diretor do Hospital, Alessandro Aguilera, informou que não poderia tomar a decisão de firmar a parceria sem a anuência da administração da rede São Camilo, mantenedora do HSM, com sede em São Paulo.
No entanto, o tempo está passando e o HSM não deu nenhum retorno sobre a proposta.
A reportagem do Correio9 procurou a direção do HSM, e pediu uma explicação sobre o assunto, mas foi orientada a procurar a assessoria de imprensa, também em São Paulo.
A assessoria respondeu: “O Hospital São Marcos informa que esse assunto vem sendo tratado diretamente com os representantes do poder público, como forma de encontrar a melhor solução para realização dessa parceria”.
Porém, alguns dos representantes do poder público disseram o contrário, que houve uma reunião e em seguida o assunto “esfriou”.
Em discurso recente na inauguração da UPA 24 horas – para atendimento exclusivo de pacientes com Covid-19 – o prefeito Barrigueira explicou que a maior dificuldade para a instalação de UTI, em Nova Venécia, é conseguir os profissionais necessários para este tipo de trabalho. Ainda, de acordo com ele, o funcionamento de UTI demanda diversas especialidades que atuam de forma integrada, e este é o maior impedimento na estruturação do sistema.
A reportagem do Correio9 ouviu um médico, que opinou na condição de não ser identificado. A opinião dele segue a mesma linha da explicação do prefeito. Para ele, a dificuldade não está na obtenção e instalação de equipamentos de UTI, mas em organizar equipes de intensivistas para garantir o funcionamento e atendimento contínuos.
O subsecretário, Kim Barbosa, informou que os equipamentos estão disponíveis e que a concretização do projeto depende de uma resposta positiva por parte do hospital. Mas, como citado anteriormente, o HSM não se manifestou sobre quais impedimentos enfrenta para realização da parceria.
Para o, agora, ex-secretário de Planejamento, Edson Marquiori, o município está perdendo uma grande oportunidade: “Vejo um grande momento de avançarmos na saúde de Nova Venécia. Se trouxéssemos agora, depois seria só construir e fazer a instalação definitiva. O Hospital São Marcos está perdendo a oportunidade de avançar e eliminar um problema crônico, que é uma demanda de toda a população há anos”, disse.
Programa de Expansão
Desde o início da pandemia, o Governo do Estado vem expandindo, efetivamente, a rede de atendimento intensivo. De acordo com o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, no momento em que a pandemia cessar será possível reconhecer uma nova rede hospitalar estadual. Ele cita exemplos: o Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, antes da pandemia tinha 20 leitos de UTI e passará a ter 40; o Hospital Geral de Linhares, antes com oito de UTI, terá 28; o Hospital Sílvio Avidos, em Colatina, tinha 16 leitos de UTI e poderá chegar a 54 até o final da pandemia.
Já o Hospital Jayme Santos Neves que, tirando a maternidade e outros leitos adultos, tinha 60 de UTI, hoje está com 250, se tornando o segundo maior hospital para atendimento a pacientes com Covid-19 do Brasil, ficando atrás, apenas, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Enquanto isso, o Hospital Central, que antes tinha 18 leitos de UTI terá 38 com ampliação da oferta de neurocirurgia.
Outro exemplo de serviço é o de atenção ortopédica que abriu 70 leitos de enfermaria e 10 de UTI no Hospital da Associação dos Funcionários Públicos em Vitória.
Pelo menos 70 leitos foram entregues a vários municípios esta semana. Porém, enquanto diversas unidades têm aproveitado o momento para se equiparem melhor, Nova Venécia está deixando passar a oportunidade.
Vítimas da falta de atendimento
Há poucos dias duas mulheres de Nova Venécia aguardavam vagas de UTI, no Hospital Roberto Silvares, de São Mateus – depois de vários dias internadas no Hospital São Marcos. Lá, esperaram por três horas, sem nenhuma perspectiva de terem o atendimento necessário. Uma delas não resistiu e morreu dentro da ambulância, na porta do hospital.
Antes da pandemia, em tempos “normais”, diante da inexistência de atendimento especializado no município, muitas vidas se perderam por falta de atendimento rápido, uma vez que casos graves ou com traumas são, sempre, encaminhados ao Roberto Silvares, há mais de 65 quilômetros de distância de Nova Venécia.
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