Elias de Lemos (Correio9)
Antonio Carlos da Silva (O Regional – OR7 News)
Nesta terça-feira, 19, completou 35 anos que um grave acidente deixou sete mortos na estrada que liga os municípios de Nova Venécia e Boa Esperança. Todas as vítimas eram esperancenses e se dirigiram ao Rio do Norte, onde foram tomar banho, mas não retornaram para casa.
O veículo, um Fiat Panorama com sete pessoas, foi atingido três vezes por um caminhão caçamba carregado de areia, pertencente a uma empresa de Vitória, que atuava na construção do asfalto de Boa Esperança a Pinheiros.
Entre os sete ocupantes do carro, quatro eram da mesma família: Maria da Penha Ferreira da Costa e seu filho Eulhes Ferreira da Costa, um bebê de 11 meses, e os irmãos Marcilene Ferreira da Costa, 18 e Audair Ferreira da Costa, 12; com eles viajavam, ainda, Cremilda da Penha Silva, 18 anos (irmã do jornalista Antônio Carlos da Silva) e Ivair Vieira da Silva, 16 anos (irmão do prefeito de Boa Esperança, Lauro Vieira da Silva). Adão Henrique de Souza, de 16 anos, era o condutor, que dirigia o carro do pai, José Cândido de Souza, Zé Candinho, comerciante do Bairro Vila Tavares, em Boa Esperança.
No caminhão, que após a batida caiu da ponte às margens do rio, estavam, além do motorista, duas pessoas de carona, moradoras de Boa Esperança. Todos tiveram, apenas, ferimentos leves. O motorista foi preso em flagrante após receber atendimento médico.
Era um bonito dia de domingo e fazia muito calor. Para aliviar a quentura os amigos decidiram ir ao rio. Por volta de meio-dia eles saíram do Bairro Vila Tavares rumo ao Rio do Norte, o que era comum naquela época, e até hoje. Além do grupo no carro, uma moto com os irmãos José David Ferreira da Costa, o Davi da Vila e Agnaldo Ferreira da Costa, seguia junto.
Ao chegarem à lateral direita da ponte, onde, hoje, tem um alambique, eles encontraram a porteira de acesso ao local escolhido, mas, estava fechada com cadeado.
Assim, resolveram, então, atravessar a ponte e irem para o mesmo local, porém, do outro lado do rio, em terras venecianas. No entanto, ao voltar à pista, novamente, e em marcha lenta, saindo de uma estrada vicinal, o motorista Adão Henrique não percebeu que o caminhão descia em alta velocidade. Os irmãos David e Agnaldo, ao avistarem o caminhão, tentaram avisá-lo, mas não deu tempo. David pareou a moto ao carro e os dois gritavam muito.
Acredita-se que Adão, pela inexperiência e pelo pavor ao perceber o pior, não tenha conseguido acelerar o veículo, que foi atingindo por três vezes.
O carro ficou totalmente destruído com cinco pessoas presas às ferragens. O adolescente, Ivair, e o pequeno Eulhes foram encontrados fora do veículo.
A DESPEDIDA
Primeiro aconteceram os velórios nas respectivas residências e, depois, todos juntos na igreja católica do Bairro Vila Tavares. Houve comoção em todo município e região! Boa Esperança parou e chorou! Acredita-se que mais de três mil pessoas passaram pelos velórios (para se ter uma ideia, hoje, 35 anos depois o município tem pouco mais de 15 mil habitantes). Diversas pessoas, chorando, seguiram o cortejo fúnebre até o cemitério local.
Em seu depoimento à polícia e depois no julgamento, perante a Justiça, o motorista disse que se ele soubesse que dentro do veículo havia sete pessoas, ele teria optado por atropelar os irmãos David e Agnaldo, na contramão sobre a ponte, mesmo sabendo que poderia ser condenado pelo crime. Ele morreu tempos depois naturalmente.
David e Agnaldo foram testemunhas oculares do acidente, e ficaram em choque emocional por um período. Moradores das imediações da ponte definiram, em duas palavras, o que viram e ouviram: cena horrível!
Coincidentemente, Antônio Carlos e o amigo Ivanildo Sena estavam na residência de outro amigo, José Carlos Santos, localizada (a casa ainda existe) na lateral direita da pista no sentido Boa Esperança a Nova Venécia, e conta que ouviu um estrondo enorme, e juntamente com os amigos, acreditaram ser um pneu que teria estourado. Contudo, passados em torno de 20 minutos, por curiosidade resolveram ir até ao asfalto e avistaram o aglomerado de pessoas na ponte.
Antônio relata que chegou a ver a irmã Cremilda e as outras vítimas, ainda, presas às ferragens, e se desesperou, e foi contido pela Polícia Militar (soldado Abraão). Relembra que foram para casa de bicicleta, e ao chegarem à praça do bairro, já havia uma quantidade enorme de pessoas e seus familiares. Conta, que mesmo sabendo que todos estavam mortos, precisou mentir para a mãe e irmãos. Em seguida foram para o Hospital Cristo Rei, para onde os corpos já tinham sido encaminhados.
Os corpos foram colocados no chão em uma das salas do hospital. Os médicos e outros profissionais de saúde entraram em comoção pela gravidade da situação.
SETE CRUZES
Sete cruzes foram fincadas no local da tragédia, que foi marcado para sempre! Sete vidas: uma mãe de família, filhos, adolescentes, amigos e um bebê.
Dois jovens irmãos testemunharam e tiveram que enfrentar o trauma que é ver algo parecido. Naquele dia, Boa Esperança se vestiu de luto: famílias choraram, amigos se abraçaram e só as lembranças ficaram.
As sete cruzes não estão mais lá, mas por anos elas chamavam a atenção de quem passava por aquele trecho. Cruzes em margens de estradas podem ser comuns, mas, sete, uma ao lado da outra, chamam a atenção. Elas ficaram como alerta para o perigo oferecido pela estrada que hoje está passando por mudanças no traçado, que vão torná-la mais segura. Após a conclusão da obra do asfalto, as famílias pretendem colocar novas cruzes no local, como forma de alerta.
Muitos dos que trafegaram por ali, e as viram, não conhecem as suas origens, nem as dos nomes gravados nelas! Mas, elas guardaram a lembrança de um dia muito triste! Um dia em que sete vidas deixaram, sem aviso, suas famílias e seus amigos, que foram marcados para sempre, pela dor, pelo sofrimento e pela saudade.
Mas, se saudade é vontade que não passa, é a ausência que incomoda. Saudade é a prova de que tudo que viveram juntos valeu a pena.
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