Elias de Lemos (Correio9)
Era início do século XX, quando o jovem casal José e Angelina desembarcou no Brasil, vindos da Itália. Aqui, fixaram residência no município de Alfredo Chaves, na região Sul do Espírito Santo. Da união dos dois, nasceram sete filhos: Ildo, Joaquim, Aníbal, Étore, Ilário, Alzira, Cláudio e Agostinho. Esta reportagem do Correio9 narra um pouco da história deste último.
O senhor Agostinho Pilon nasceu no histórico ano de 1929 quando aconteceu a Grande Depressão econômica mundial. Sua família teve uma vida de lutas, porém, sempre unida, feliz e saudável.
Talvez, por vocação, desde criança, o menino Agostinho aprendeu o ofício do pai: a Ortopedia Prática.
Sem nenhum conhecimento acadêmico ou da Literatura Médica, colocou no lugar centenas de ossos fraturados e ficou conhecido como o médico dos menos favorecidos, uma vez que, quem o procurava eram pessoas desfavorecidas – sendo muitas delas residentes longe de recursos hospitalares – e ele, também, nada cobrava.
Uns diziam que era fé, outros diziam que era dom, mas de uma coisa ele se orgulha: nunca foi levado à Justiça por lesar nem lesionar alguém; “eu nunca machuquei alguém”, fala com a autoridade de quem não tem conta de quantas pessoas já ajudou.
Falando em ajudar aos outros, Agostinho e sua esposa construíram uma grande e bonita família da qual fala com orgulho e entusiasmo.
Naqueles tempos de grandes bailes, foi exatamente em um desses, lá em Alfredo Chaves, que o então jovem Agostinho conheceu uma moça que o encantou e se tornaria a sua companheira de vida, tirou-a para dançar, por ela se apaixonou e com ela se casou, aos 22 anos de idade.
Adélia é o nome dela com quem divide seus dias há 69 anos. O casal mudou-se para São Gabriel da Palha. Lá, tomou conhecimento da existência de muitos católicos no local, assim fundou a Comunidade de São Bento da Pedra do Trinta para que pudessem agradecer pelo trabalho e sustento que ali encontraram.
EM NOVA VENÉCIA
Por lá, ficaram por dez anos até que decidiram andar por novos caminhos. Era a década de 1950 e é este o ponto que marca a chegada da família Pilon a Nova Venécia. Terra em que, mais uma vez, ele foi pioneiro em uma série de acontecimentos. Primeiro, fundou uma comunidade católica, cujo padroeiro leva o seu nome: Santo Agostinho do Córrego da Travessia, a 60 Km de Nova Venécia.
O casal já chegou com cinco, dos seus seis filhos: a Normélia, Juracy, José Luiz, Geraldo e a Sônia; quando se mudaram para a cidade de Nova Venécia nasceu a Edivania.
Foi lá no interior que ele e dona Adélia criaram, educaram e viram seus filhos crescendo, porém, uma preocupação perturbava o casal: a continuidade dos estudos da prole.
Decidiram, então, comprar uma casa em Nova Venécia, onde sua esposa Adélia administrava a educação dos filhos e executava a arte que aprendera de sua mãe e que exerce até hoje, aos 92 anos: a costura; enquanto Agostinho trabalhava na lavoura e no extrativismo da madeira e carvão, no Córrego da Travessia, vindo à cidade, por muitos anos, apenas nos fins de semana, a pé, depois a cavalo e bem mais tarde em seu próprio carro.
Suas preocupações com a educação integral dos filhos o recompensaram: de suas quatro filhas, duas se tornaram psicólogas e duas professoras, licenciadas em Letras; e dos dois filhos um é engenheiro agrônomo e o outro é técnico agrícola, dos quais fala com orgulho.
Enquanto cuidava da educação dos filhos, Agostinho foi enriquecendo seu currículo, aperfeiçoando cada vez mais a técnica ortopédica. E, com isso, a fila de pessoas que buscava sua ajuda só aumentava, com pacientes vindos de toda a região.
E ele seguiu conciliando família, o dom que recebeu e sua religiosidade. Com a ajuda dos amigos Adélio Lubiana, Dona Bibiu e Afonso Cremasco, em 1974, fundou mais uma comunidade católica: a Comunidade de Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Margareth, onde veio morar em 1964 e ainda permanece, sendo a sua residência uma das primeiras casas do Bairro.
Ele foi conselheiro da antiga Coopnorte desde a sua fundação. Foi conselheiro do Sicoob e da Cooabriel também, desde a sua fundação. Foi presidente e cofundador da Casa do Vovô, vereador e presidente da Câmara dos Vereadores, sendo que, em seu mandato, trouxe a primeira ambulância para Nova Venécia, numa época em que o salário era apenas um valor simbólico.
Mas, suas contribuições não param por aí. Agostinho Pilon é fundador do Grupo Folclórico e Coral Italiano Augusto Zaché, em 1978, do qual ainda é membro ativo. É sócio do Lions Club de Nova Venécia e pioneiro, desde 1976, do qual sente muito orgulho e nutre muito respeito.
Apaixonado por viagens, realizou muitas excursões pelo Brasil e acompanhou excursões na Itália e em Jerusalém usando do seu conhecimento com a língua italiana.
Seu esporte preferido? É um craque em bola de massa. O baralho também faz parte de seu entretenimento. E seu time tem também a cor encarnada de uma boa taça de vinho: o Flamengo.
Em toda essa caminhada, Agostinho, juntamente com sua esposa Adélia e seus 6 filhos, fez muitos amigos.
Cuidadoso e dedicado a ajudar ao próximo ele anunciou que está ‘pendurando as chuteiras’. “A idade está avançada e eu tenho que me cuidar. Desde que começou a pandemia eu precisei de me recolher para proteger a minha saúde e da minha família. E chega um momento que a gente precisa passar o bastão, né”, disse ao Correio9.
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