O réveillon 2019 fechará um ciclo e começará outro no Brasil. O amanhecer do primeiro dia do ano de 2019 será também a alvorada de uma nova esperança, que parece ter se esvaído nos últimos anos. As posses dos novos governantes estão sendo aguardadas como nunca aconteceu no País. É a esperança de que possamos voltar a acreditar que o Brasil tem futuro.
O futuro presidente foi eleito sob a batuta da honestidade, prometendo rígido combate à corrupção e crescimento econômico. Apesar de sua equipe econômica, ainda, não ter apresentado um projeto claro, a agenda econômica do próximo presidente, ainda, não tira o sono do mercado financeiro. Já a institucional aterroriza o mundo político tradicional.
Bolsonaro tem repetido que em seu governo não vai haver toma-lá-dá-cá. E, até, agora, a formação do seu governo tem demonstrado isso. No entanto, ao começar a governar na próxima terça-feira, o novo presidente vai encontrar muitos obstáculos no seu caminho.
Nenhum presidente, até hoje, conseguiu governar sem o toma-lá-dá-cá. É dessa prática que o governo consegue apoio dos congressistas. Trata-se de uma prática comum em Brasília. E é nessa troca entre o governo e o Congresso que está a maior fonte de corrupção federal. As negociações entre o presidente e parlamentares são feitas a portas fechadas, e, normalmente, atendem a interesses pessoais de deputados e senadores, estes sim, em maioria, os vilões do País.
Bolsonaro prometeu muito: combate à corrupção, reformas na economia, segurança pública e infraestrutura. Como ele vai governar combatendo a corrupção, se seus projetos dependem do apoio dos corruptos do Congresso?
Para conseguir isso, ele terá que promover uma faxina geral. Para tanto, terá que se imbuir de muita audácia para denunciar propostas indecentes. Coisa que nenhum presidente fez até hoje.
Mas Bolsonaro é imprevisível e, ainda que se discorde de suas ideias, uma coisa ninguém pode negar: ele é um homem corajoso quando se trata de agir. Ademais, está chegando ao governo de forma legítima (eleito pelo voto); tem amplo apoio popular e as Forças Armadas estão com ele.
O novo presidente tende a enfrentar muita resistência do Congresso já acostumado à farra, e isso se traduzirá no travamento do governo, quando deputados e senadores começarem a pressionar o presidente, votando contra os interesses governamentais.
No ápice, não será surpresa se o parlamento começar um movimento para derrubar o presidente (lembrem-se de que a Dilma Rousseff caiu depois de negar apoio ao deputado Eduardo Cunha, que era o chefe da corrupção no Congresso).
Acontece que Bolsonaro tem outro perfil. Não se deve esperar que ele ceda a chantagens de congressistas, tampouco, que espere para passar pelo desgaste de um processo de impeachment. Antes de o Congresso derrubá-lo, ele derruba o Congresso e é aí que mora o perigo.
As instituições republicanas do Brasil – o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional – têm demonstrado muita irresponsabilidade e não enxergam para onde estão empurrando o País. Se o STF tivesse cumprido o seu papel, muitos acontecimentos poderiam ter sido evitados. Se o parlamento tivesse o mínimo compromisso com a Nação, Michel Temer não estaria na Presidência. No entanto, ele está lá em razão do toma-lá-dá-cá.
Se o Bolsonaro “peitar” o Congresso, congressistas vão “achar” que podem derrubá-lo, mas, Bolsonaro não é Dilma Rousseff e, além disso, já está claro que boa parte do seu eleitorado torce pelo fechamento do Congresso e do STF.
O alto comando do Exército nega o desejo de estabelecer um governo militar. Bolsonaro também. Porém, tudo vai depender das circunstâncias entre o governo e o parlamento, somadas ao comportamento do STF.
Dificilmente Bolsonaro vai decidir, por conta própria, estabelecer um regime ditatorial. No entanto, as instituições ditas republicanas, podem empurrá-lo para isso. Basta o Congresso exigir, dele, a mesma conduta corrupta de Michel Temer.
Antes de o Congresso ‘acabar’ com ele, ele acaba com o Congresso.
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