Duas crianças foram baleadas pelo pai, de 48 anos, que tentou suicídio após o crime, no Jardim Sapopemba, zona leste de São Paulo, por volta das 20h35m da segunda-feira, 4 de julho.
O menino, de 9 anos, morreu dentro da casa da família. A irmã dele, de 6 anos, foi levada até o pronto-atendimento São Mateus, na zona leste da capital paulista, mas não resistiu aos ferimentos.
Rhuan Maicon da Silva Castro, de 9 anos, foi morto e esquartejado em Samambaia no Distrito Federal. A mãe da criança, Rosana Auri da Silva Candido, 27, e sua companheira, Kacyla Pryscila da Silva Damaceno, 28, confessaram ter cometido o Crime. Rhuan Maycon da Silva Castro sofreu, em sua curta vida, mais dor e tristeza do que a maioria das pessoas viverá até a velhice: foi retirado da família aos 4, emasculado aos 8, assassinado e esquartejado aos 9.
Também no DF, a Polícia Civil prendeu, no dia 24 de março, o casal suspeito de matar dois filhos com injeção de insulina.
O bebê Yago Lourenço, de 3 meses, foi morto pelo próprio pai no dia 26 de março, em Andradas, no Sul de Minas Gerais. O exame de necropsia indicou que o menino ficou com quatro costelas quebradas e teve traumatismo craniano. Os pais, Alexandre Montanholi e Ana Carolina Lourenço Cândido, foram presos em flagrante.
Em outubro de 2018, o bebê Jhonny William Carvalho, de apenas um ano e quatro meses, foi morto e decapitado pela própria mãe, identificada como Domingas Joseane Carvalho, de 40 anos. O crime bárbaro veio à tona, quando vizinhos encontraram a cabeça e o corpo da criança em dois sacos plásticos, em um terreno ao lado da residência da família, na Zona Leste de Manaus.
Um pai confessou ter matado o próprio filho, de 7 anos, a pauladas em Manaus no último dia 12, informou a Polícia Civil do Amazonas. Rogério Alexandrino dos Santos, de 27 anos, foi preso cinco dias depois e foi indiciado por homicídio qualificado. O homem enterrou o corpo do filho, David Nonato Bento dos Santos, no quintal de casa.
O ajudante de pedreiro afirmou ter dito para a criança, momentos antes do crime, que eles dois brincariam juntos.
Estes são alguns exemplos de casos em que os pais mataram seus filhos. Um ato que foge à norma choca. A morte de um filho pela mãe ou pai (filicídio) choca ainda mais, porque vai contra a ideia estabelecida de que os pais têm de amar incondicionalmente os filhos.
O amor dos pais é algo inquestionável em nossa sociedade. Acredita-se que os pais amam e protegem seus filhos incondicionalmente, evitando, assim, muitas vezes pensar na violência familiar, que é parte inerente de nossas vidas e esteve presente desde os tempos mais remotos. Por mais que temos a certeza de que a violência é comum com crianças, como estamos testemunhando corriqueiramente, negamos a falar sobre o assunto, e evitamos ainda mais falar ou pensar na morte de um filho. E quando esta morte é praticada pelos próprios genitores é como se todos os sonhos e perspectivas futuras fossem esvaídos. É como se o último refúgio fosse perdido.
Contradizendo a ideia de que o amor paterno e materno é incondicional e inquestionável, o filicídio viola leis e normas estabelecidas moral e socialmente, tornando-se um tabu. No entanto, é um crime bastante antigo, aparecendo já na mitologia grega através de Medéia, mãe que, conforme o dramaturgo Eurípedes (século 5 a.C.), mata seus dois filhos para se vingar de Jasão, o marido traidor.
Conjeturar o rompimento de uma vida causado pelos próprios pais é inaceitável. A negação sobre o filicídio é mostrada, na negação do próprio uso do termo, que não é utilizado pela legislação penal brasileira onde aparece como homicídio ou infanticídio. A razão é que este comportamento vai contra as leis e normas estabelecidas moral e socialmente.
O tema traduz comportamentos inaceitáveis, proibidos e impensáveis e sua negação afasta a ideia de que é um fato presente em nossa sociedade, evitando-se, assim, que ocorra o que é temido e abominado.
No entanto, o assassinato dos filhos pelos pais é um comportamento menos raro do que se deseja imaginar, é encontrado nos diversos grupos e classes sociais, mas é negado, pois faz parte do asco social. Na prática, está se tornando cada vez mais frequente.
Não somos os únicos. Em todo o reino animal existe uma prontidão para agredir e destruir, para remover qualquer tipo de obstáculo desde que a relação custo/benefício compense.
A lei natural, a lei da vida, é a de que os filhos devem sepultar os pais e sucedê-los, perpetuando nosso desejo de eternidade. Nesta perspectiva, a morte de um filho rompe a ideia de continuidade geracional e de nossa imortalidade, sobrevive-se a quem teria de ter nos sucedido, a linha do tempo se desvia da sua ordem habitual e, de certa forma, é como se tivéssemos interrompendo nossa própria existência.
A morte de um filho é considerada a perda mais difícil, por ser um evento não normativo, porque a ordem esperada do ciclo vital é invertida: espera-se que os pais morram primeiro que os filhos, e que estes suplantem a linha geracional. Falar sobre a morte de crianças é chocante para toda a sociedade, talvez porque nos remete a pensar em nosso passado, na nossa infância, mais difícil e chocante ainda se torna falar do assassinato de uma criança cometido pelos próprios pais.
Todas as pessoas foram vítimas ou presenciaram algum tipo de violência na vida, pois é o que está estampado em jornais, revistas, televisões, rádios e redes sociais. Além disso, o consumismo se torna o centro das relações familiares, a falta de tempo e os meios tecnológicos controlam a vida das famílias de forma descontrolada, o afeto muitas vezes se torna esquecido, ou substituído por objetos, e bens materiais, a essência da família está se perdendo, cada vez menos famílias se formando.
Estamos na era em que cada um deve agir e pensar em si mesmo, visando lucros e interesses. Será que vivemos um egocentrismo-narcisismo descontrolado? Ou isto é da nossa natureza, e se tornou parte de nossos dias?
Uma criança tem mãos pequenas, pés pequenos e orelhas pequenas, mas nem por isso tem ideias pequenas. Sua pequenez, refere-se apenas ao tamanho do corpo. Uma pequenez que é, sim, característica das crianças, mas que jamais pode ser relacionada com o tamanho de suas necessidades. Ou ainda com o resultado de sua presença na sociedade.
Crianças são sinônimos de inocência. De verdade. De sinceridade. De carinho. De cumplicidade.
Nada é mais simples, sofisticado e alegre do que o simples sorriso de uma criança que sorri por não ter preocupações a não ser, ser feliz sempre. Protegê-las é papel de todos os adultos.
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