Por Gabriela Knoblauch, com edição de Nicolle Expósito
O dia da agricultora Isabel Hertzog, que trabalha com o marido Lucian e a irmã Eneida, começa pontualmente às 6 da manhã, mas não tem hora para acabar. A família de Isabel trabalha com um cronograma semanal que compreende todas as etapas produtivas. “Nós preparamos a terra na segunda e na terça, plantamos na quarta, colhemos na quinta e na sexta. As entregas na casa dos clientes e vendas em feiras acontecem no sábado”. A família, que vive em Santa Maria de Jetibá, comercializa legumes, verduras, frutas e até gengibre, que é exportado. Tudo é orgânico.
A rotina de Élio Plaster é parecida. Produtor de mais de 70 produtos orgânicos, trabalha na roça com a ajuda da esposa Irene e das filhas Karina e Keila. Plantam, colhem, embalam e vendem.
Élio e Isabel fazem parte do grupo de 213.557 agricultores familiares do Espírito Santo. A atividade corresponde a 75% das propriedades rurais no Estado e ocupa 33% do território agrícola, segundo dados do último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017. A importância desse segmento é reconhecida por meio de uma data, 24 de julho, Dia Estadual do Agricultor Familiar. No dia 28 de julho é comemorado o Dia do Agricultor.
A intimidade com a terra e a produção são grandes. Os agricultores moram e trabalham no mesmo local. Consomem os mesmos produtos que comercializam. Essa realidade reforça a preocupação com a sustentabilidade, fazendo da preservação ambiental marca da agricultura familiar.
Pandemia
Na pandemia, os agricultores precisaram se reinventar para superar perdas nas vendas decorrentes, por exemplo, da interrupção no fornecimento de alimentos para as merendas durante o período de fechamento das escolas e da suspensão das feiras de rua. Uma das saídas encontradas foi o delivery de produtos orgânicos.
“As vendas caíram bastante no início da pandemia. As pessoas estavam com muito medo. Hoje as vendas melhoraram, em grande parte em razão da comercialização de produtos pela internet. O cliente encomenda durante a semana e busca na nossa barraca na feira que acontece no sábado na Praia da Costa”, esclarece Élio.
Segundo dados da pesquisa Comercialização direta de alimentos orgânicos e agroecológicos na Grande Vitória mediante pandemia do Covid-19, coordenada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em razão do isolamento, 57% dos produtores passaram a realizar delivery e aumentaram as entregas semanais, passando de uma para quatro vezes na semana.
A família da Isabel também sentiu os efeitos positivos de comercializar na internet. “O que nos ajudou muito na pandemia foi a venda de cestas de produtos que os clientes encomendam pelo Whatsapp”, destaca.
O agricultor Leomar Lírio, que trabalha com a ajuda da esposa Rosana e da filha Júlia, não parou durante a pandemia. “As pessoas pararam de circular, mas não de comer”, pontua. Leomar notou que as vendas melhoraram, mas ainda não voltaram ao patamar de antes da pandemia. Lírio, que é de Domingos Martins e comercializa orgânicos com apoio da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Estado do Espírito Santo, observa que apesar do oferecimento de produtos via delivery, por meio do site da cooperativa, o menor poder aquisitivo das pessoas ainda impacta nas vendas.
Fomento à agricultura familiar na Ales
Com o objetivo de potencializar os resultados da agricultura familiar, tramitam na Assembleia Legislativa os Projetos de Lei (PLs) 605/2020, proposto pelo deputado Dr. Emílio Mameri (PSDB), e 23/2021, de autoria do deputado Renzo Vasconcelos (PP), que criam o Calendário de Produção da Agricultura Familiar do Estado do Espírito Santo.
A proposta, segundo o deputado Renzo Vasconcelos, consiste em “informar a população sobre o tipo de cultura produzida, a região atendida pelo produtor, a época prevista da colheita e a quantidade estimada”. O deputado destaca ainda que “o Calendário deverá ser divulgado em todo o Estado do Espírito Santo, para servir de guia de compra de insumos nas escolas e hospitais, além de incentivar o consumo dos produtos da estação nos restaurantes e residências”.
O deputado Mameri ressalta que há no Estado uma “dificuldade latente na comercialização dos produtos” e que esse esforço de fomento é importante “já que a agricultura familiar, como um todo, é fonte de renda de uma grande quantidade de pessoas”.
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