Donos de uma mercearia localizada em uma comunidade da cidade de São Paulo, Myllena e Alison Silva, ambos de 26 anos, lidam com um movimentado fluxo de dinheiro todos os dias. Ao contrário do que ocorre na maioria do comércio, porém, os itens de custo reduzido vendidos por lá — como alimentos e bebidas — garantem que o casal receba mais do que repasse em moedas e cédulas de baixo valor. Diante disso, o casal decidiu fazer coletas periódicas para seus cofres pessoais e chegou a dar entrada, este ano, em uma casa na mesma localidade, com R$ 10 mil economizados em moedas e notas de R$ 2.
— Todos os dias recolhemos o lucro. As notas de R$ 2 reservamos numa caixa de sapato. A cada dois meses, pegamos as moedas, deixando apenas dez de cada valor para não zerar (o saldo). Separamos então o restante, por valor, em galões de água de cinco litros — conta Myllena.
A realização não foi a primeira alcançada assim, aos pouquinhos. Segundo Myllena, o casal não escolhe antecipadamente uma motivação para economizar, mas quando aparece um objeto de desejo, conta o que tem e investe.
— A entrada desta casa de três cômodos custava R$ 15 mil. Fomos ver quanto tínhamos economizado. Eram R$ 10 mil. Para completar, demos ao vendedor uma moto, no valor de R$ 5 mil — lembra a empreendedora: — Começamos a juntar moedas, em 2015. Um ano depois, tínhamos R$ 5 mil e demos como entrada num carro. As parcelas posteriores sempre pagamos com nosso trabalho. Depois disso, já usamos as economias para comprar uma casa de dois cômodos e um terreno também na comunidade.
Alison trabalha também como gari na cidade de São Paulo. Myllena se dedica apenas à mercearia. Com dois filhos, de 7 e 3 anos, frutos do casamento de 8 anos, os dois não fingem que é fácil ceder às tentações diárias de consumo e juntar dinheiro.
— O meu marido não gosta de banco, pois há muitas taxas. É claro que, vendo as moedas, dá vontade de gastar. Eu sou mais consumista do que ele e, de vez em quando, pego algumas escondido. Mas sei que é preciso me esforçar e vale a pena — aponta Myllena.
Os mercados da região onde o casal trabalha e mora também são beneficiados.
— A gente leva um pouco em cada mercado do bairro para trocar, quando chega a hora. Eles ficam muito felizes — diz Myllena.
Segundo especialistas, ela e Alison devem ser parabenizados pelo foco, pela disciplina de economizar. O educador financeiro Waldyr de Souza, no entanto, faz um alerta: a prática de guardar o dinheiro em casa, como era mais comum antigamente, pode ser ruim para as finanças.
— Quando a pessoa deixa o dinheiro ‘debaixo do colchão’, como na época dos nossos avós, este acaba sofrendo uma desvalorização. Investido em uma aplicação muito básica, fica protegido e gera rendimento, que se sobrepõe a qualquer taxa. Até na poupança, que tem um rendimento menor, vale a pena, e fica livre do Imposto de Renda — sugere Waldyr, acrescentando: — O dinheiro fora de circulação também prejudica a economia do país.
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