Eliana Maria Lemos
Demorou, mas, finalmente o Espírito Santo virou cenário de novela. Pena que num contexto negativo para o Estado. Em sua primeira fase, A Dona do Pedaço, de autoria do Walcyr Carrasco, foi ambientada em terras capixabas retratando a rixa de sangue entre as famílias Ramirez e Mateus.
O começo da história acontece na fictícia Rio Vermelho onde os clãs rivais se matam mutuamente há gerações. Tirando uma tomada aérea de Vitória, que mostra alguns dos cartões-postais da Capital, como o Convento da Penha e a Terceira Ponte, o estado só perdeu até agora. Está sendo mostrado como uma terra sem lei, com um povo sanguinário que mata para ver a queda do outro. Aliás, o cenário da cidade fictícia e das moradias das duas famílias fica no Rio Grande do Sul, como se o interior capixaba não fosse digno de receber a equipe da novela. Melhor deixar essa parte pra lá!
Baseada em Romeu e Julieta, a história do Carrasco tem como foco principal as protagonistas femininas. É em torno delas que a trama se desenrola. Os personagens masculinos, embora sejam feitos por nomes de peso na dramaturgia nacional, como Marcos Palmeiras (Amadeu), Reynaldo Gianechinni (Régis), Malvino Salvador (Agno) e Caio Castro (Roque), entre outros, são meros coadjuvantes.
Com uns tropeços aqui outros ali, a atriz Juliana Paes (Maria da Paz) está dando conta do recado, como protagonista-mor. Às vezes exagera um pouco, procurando um maldito sotaque capixaba, que eu sinceramente não consigo reconhecer como nosso, e fico me perguntando quem falou a ela que falamos daquele jeito esquisito!?
Apesar dos diálogos sofríveis, uma característica forte do autor (infelizmente), e da má construção de alguns personagens (a própria Maria da Paz que é uma empresária rica que venceu na vida vendendo bolo nas ruas de São Paulo, às vezes parece uma mocinha boba e ingênua, o que não combina com sua história de vida), A Dona do Pedaço está agradando o público.
Em meio a tantos talentos como Fernanda Montenegro, Natália Timberg, Nivea Maria e Jussara Freire; duas atrizes jovens estão roubando a cena com suas maldades: Natalia Dill (Fabiana) e Ágatta Moreira (Josiane). A primeira está muito à vontade na pele da ex-noviça dissimulada que só pensa em se dar bem. A outra está repetindo muito bem a parceria com Gianechinni, iniciada em Verdades Secretas. Já Paolla Oliveira (Vivi Guedes) ainda não achou o tom certo de sua personagem. Está artificial demais! Na ala masculina não dá para ignorar a boa performance de Caio Castro. Na pele do lutador Roque ele demonstra mais uma vez que transcendeu de vez o rótulo de galã para virar um ator de verdade.
Embora a história esteja se desenrolando bem até agora, o autor tem abusado de alguns clichês, principalmente nas cenas de pastelão, presentes em todos os trabalhos do Walcyr. Um exemplo pôde ser visto em um capítulo exibido recentemente, quando Maria da Paz foi jantar na casa de Régis e ao tentar comer a lagosta, o crustáceo voou indo parar no colo da anfitriã antipática. Já perdi a conta das vezes que vi essa mesma cena em comédias.
* A autora é jornalista, roteirista, escritora,
pesquisadora do Instituto Ipsos e articulista exclusiva
do Jornal Correio9
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