Elias de Lemos (Correio9)
Na sexta-feira, 20, o ex-secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (SEAG), Octaciano Neto, visitou a Redação do Correio9. Até o último dia 06 de abril, ele ocupou uma das mais importantes secretarias do Governo do Espírito Santo, sendo um dos principais interlocutores do governador Paulo Hartung. Deixou o cargo para viabilizar sua pré-candidatura a deputado federal.
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), especialista em Governança Corporativa pela Fundação Dom Cabral Master of Business Administration (MBA), e em Gestão Estratégica de Negócios pela Fucape, Octaciano é filiado ao PSDB, partido pelo qual pretende disputar uma vaga à Câmara Federal.
Ele atua há mais de 10 anos no setor público, tendo sido secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Vila Velha e secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal da Serra. No Governo do Estado, coordenou a implantação do Programa de Gerenciamento dos Projetos Prioritário (Pró-Gestão) e o Projeto Caminhos do Campo.
Na entrevista ao Correio9, ele fez um balanço do seu trabalho na SEAG e falou da sua pré-candidatura.
Correio9 – O senhor ocupou a Secretaria por pouco mais de três anos. Qual o balanço deste período que esteve à frente da Secretaria de Agricultura?
Octaciano Neto – Um trabalho com enorme gratidão, pela oportunidade que tive, pelo o que a gente conseguiu fazer. Primeiro por ter sido convidado pelo governador Paulo Hartung representando os produtores rurais do Espírito Santo e representando o Norte do Estado. Para quem ainda não me conhece, eu sou de Cristal, sou de um distrito de mil habitantes do interior do município de Pedro Canário, e, sair de Cristal para ter a oportunidade de ocupar a Secretaria de Agricultura do Estado é uma coisa que me honrou muito.
Segundo, que a gente conseguiu colocar uma temática nova na Secretaria, nós conseguimos colocar a questão da água na Secretaria de Agricultura. Nunca foi permitido fazer barragens no Espírito Santo. Nós acabamos com isso. No ano passado, foram quatro mil licenças que o Idaf (Instituto de Defesa Florestal e Agropecuária do Espírito Santo), entregou após mudanças que nós fizemos na legislação, e nos últimos três anos e meio, foram dez mil barragens liberadas. Se a gente olhar para 2013, foram liberadas oitenta barragens.
Nós estamos, ou com obras prontas, ou com obras em andamento, ou com projetos de engenharia em andamento, em setenta, dos 78 municípios do Espírito Santo, e são projetos de médio e grande porte, assim como a barragem em Pinheiros, a maior do Estado, que foi inaugurada há pouco menos de trinta dias. Acho que se tem uma coisa que me deixou feliz, aliás, tiveram várias coisas que me deixaram feliz na Secretaria, mas certamente o que me deixou mais feliz foi esse trabalho de fortalecer uma política de água para o produtor rural e os moradores da cidade.
Correio9 – Agora, na sua pré-candidatura a deputado federal, você foi escolhido e ingressou no grupo Renova BR. Em que esse grupo poderá contribuir?
Octaciano Neto – O Renova é uma iniciativa de um conjunto de pessoas do bem, no Brasil, como Eduardo Mufarej e Luciano Huck. Eles estão cansados da política como está, têm o desejo de renovação das lideranças políticas, renovação do Congresso Nacional, e por isso, eles lançaram o projeto Renova, que é uma escola de formação de lideranças. A última escola de formação de lideranças foi o velho Partidão, o partido que hoje é o PPS. O Partidão tinha uma escola de formação de lideranças, hoje, as fundações dos partidos não fazem nada, quando fazem muito, fazem um curso de oratória, e que estão completamente desconectados do mundo real.
Cinco mil pessoas se inscreveram no Brasil, cem pessoas passaram, e eu tive a oportunidade de ser uma dessas, ao lado de muita gente boa, muita gente de qualidade no Brasil, como o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que foi aquele que denunciou a questão do Geddel, da pressão que o ex-ministro Geddel Vieira Lima fazia para aprovar um prédio que era dele na cidade de Salvador. Nós estamos desde janeiro em treinamento. Um treinamento para ser liderança, e buscando novas práticas para romper com a forma e as práticas que muita gente do Congresso Nacional em Brasília faz até hoje.
O projeto vai até julho, na véspera do período eleitoral. Estamos tendo aulas, por exemplo, com pessoas como Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central; Eduardo Paes de Barros, que é o cara que mais entende a questão social do Brasil. Estou tendo aula com muitos especialistas em educação, em saúde. Em segurança, por exemplo, quem nos ajudou lá foi o atual presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, então, eles estão pegando o marqueteiro do Macrón, o presidente francês, trouxeram da França para nos dar aula. Eles estão pegando o que há de melhor no Brasil e no mundo, para preparar uma geração nova de pré-candidatos.
Correio9 – No momento em que a política está tão desacreditada, prevê-se uma renovação muito grande, também são previstos muitos votos brancos e nulos, como é esse desafio de se lançar como candidato em um momento de tanto descrédito da classe política?
Octaciano Neto – Foi isso que me motivou a ser candidato. Eu nunca fui candidato na minha vida, é exatamente o fundo do poço que chegou a política. A minha percepção é de que agora nós vamos ter um movimento muito grande de renovação, de implantação de novas práticas na política, e eu entendo, com base em uma pesquisa que o Renova fez, 94% da população brasileira não acredita nos atuais políticos. Mas a melhor forma para mim é ir conversar com as pessoas, mostrar que tem um caminho novo na política.
Tem que haver práticas novas, porque se você olha para muita gente, anda com um monte de gente, anda com helicóptero, não adianta ter um discurso bonito, não adianta falar de renovação, sendo que não conseguiu implantar. Têm coisas que eu vou trabalhar na candidatura quando a legislação permitir, por exemplo, eu vou reduzir o número de assessores em Brasília – vencendo a eleição – pela metade. Hoje um deputado pode ter até 22 assessores. O meu compromisso é de reduzir, e você não vê ninguém fazendo isso no Brasil, eu tenho um compromisso de reduzir a cota parlamentar pela metade, não gastar mais que a metade.
Então, são nos pequenos exemplos, nas novas práticas que as pessoas vão percebendo e separando o joio do trigo, quem tem um discurso bonito, mas na prática faz completamente diferente, e quem tem um discurso bonito, mas tem práticas diferentes. Muita gente tem dois ou três assessores para postar no Facebook, ou postar no Instagram. Eu, quando quero postar, eu paro o carro na beira da estrada ou dentro da cidade, e eu posto. Então, são com práticas diferentes que os eleitores que estão fugindo da política, tenho certeza que irão olhar para as novas candidaturas colocadas para o Estado todo e vão olhar com muita diferença, como é o caso aqui do vereador Biel da Farmácia que é pré-candidato à deputado estadual, você vê os outros candidatos e vê quem tem práticas diferentes, e isso vai fazer a diferença na campanha.
Correio9 – Quando for candidato, qual vai ser a bandeira do Octaciano?
Octaciano Neto – Eu trabalho com três frentes, uma frente chamada “Floresta, água e agricultura”, que é continuar esse trabalho que eu fiz na Secretaria de Agricultura, que eu faço como produtor rural.
A segunda é uma frente ligada ao empreendedorismo, nós precisamos desenvolver o turismo no Espírito Santo, nós precisamos desenvolver a economia criativa, o que viria a ser isso? São as novas formas de empreendedorismo: gastronomia, cervejaria artesanal, programação de softwares, jornais online, tudo isso, a gente chama de economia criativa.
Nós temos uma burocracia infernal no Brasil. Eu tenho uma empresa de abate de cordeiros, essa empresa já existe há mais de quatro anos, e até hoje eu não consegui autorização para vender no Rio de Janeiro. Lidero o mercado do Espírito Santo na venda de cordeiros, mas a burocracia infernal que existe me impede de vender no Rio um produto que é líder no Espírito Santo e que nunca ninguém teve problema aqui no nosso estado.
A terceira frente é o fim dos privilégios, nós precisamos acabar com esses privilégios que existem no Brasil. Privilégio de auxílio-moradia, privilégio de aposentadoria gorda, igual a gente vê muitas vezes acima do teto, porque privilégio concentra riqueza, nós precisamos construir políticas públicas para os mais pobres. Vou dar um exemplo para você: olha a Universidade Federal do Espírito Santo, quem está dentro da universidade federal? São os filhos dos ricos, eles são a maioria, dentro da universidade federal. Quem está nas faculdades particulares? É o filho do pobre, é o cara que tem que pagar FIES (sigla para Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), que não tem condições. É evidente que tem pobre na Ufes e tem rico na particular aqui em Nova Venécia, mas em grosso modo, os filhos dos pobres têm que pagar faculdade e o filho do rico não tem que pagar faculdade. Então, nós vamos romper com essa cultura de privilégios que nós temos no Brasil.
Correio9 – Se tivesse que eleger um problema, o maior problema brasileiro hoje, qual seria?
Octaciano Neto – Os privilégios, para mim, representam o maior problema do Brasil, existem poucos ganhando muito dinheiro e impedindo que esse dinheiro chegue aos mais pobres, então, o combate ao privilégio para mim sem dúvida é o maior problema do Brasil hoje.
Correio9 – Faça suas considerações finais.
Octaciano Neto – Gostaria de agradecer à oportunidade de estar aqui com vocês mais uma vez, eu tenho uma relação, assim, de muita gratidão pelo Correio9 e também uma relação de muita admiração, sobretudo pela política de conteúdo e de editoração que vocês têm. E, falar para o cidadão que, a transformação do Brasil, a melhoria de vida dos brasileiros, se dará pela política, não adianta negar a política, é elegendo vereador, prefeito, deputado, governador e presidente da república. Por mais que estejamos revoltados neste momento, não há saída para melhorar o Brasil que não seja a política, por isso não nego a política. Serei um candidato novo. É a primeira vez que me lanço na política, porque acredito que a transformação se dará pela política. Então, hoje em dia nós estamos decidindo voto muito pela emoção, pela raiva que nós estamos vendo, de ligar TV e ver um jornal exclusivo sobre denúncias de corrupção. Nós precisamos nos acalmar e trabalhar com a cabeça, porque é através da política que a vida vai melhorar ou piorar. Não adianta eleger gente extremista, gente com pouca compreensão da realidade, isso pode piorar a situação. Mas se acertarmos, nós podemos melhorar. Então, temos que deixar o fígado de lado um pouquinho – por mais razões que as pessoas tenham de atuar com o fígado – e ser mais racionais e pensar com a cabeça, para escolher de fato quem pode contribuir para melhorar a vida dos brasileiros.
Comente este post