Elias de Lemos (Correio9)
O ex-prefeito de Colatina, Guerino Balestrassi (PSC) é candidato a deputado estadual. Engenheiro mecânico, além do governo colatinense, ele passou por postos importantes: presidiu a Associação dos Municípios, o Bandes e a Confederação Nacional dos Municípios. Ocupou a Secretaria de Planejamento do Governo do Estado, a Secretaria de Ciência e Tecnologia e atuou na relatoria da Reforma Trabalhista.
Guerino esteve na Redação do Correio9, onde falou da sua trajetória na vida pública e apresentou suas ideias e propostas para atuação na Assembleia Legislativa estadual. Segue a entrevista:
CORREIO9 – Tenho ouvido, de outros candidatos, que, nesta eleição, há certa resistência por parte do eleitor em receber e conversar com os candidatos. Para você, como está sendo isso?
GUERINO BALESTRASSI – Está sendo muito bom. Por eu não estar em cargos eletivos há quase dez anos, desde 2008, este contato com a população está sendo muito bom, principalmente em Colatina, onde fui prefeito e pelas instituições por onde passei. É uma pena que este processo eleitoral é curto, não sendo possível dialogar com toda a população.
Então, é um processo que está se dando muito por representantes, por cabos eleitorais, e é isto que dificulta para os novos entrantes da política. Por mais que a população queira fazer mudança, se rebele contra quem está com mandato, precisa perceber que os novos entrantes têm dificuldades justamente por não terem cabos eleitorais e, nem, uma grande capilaridade em todos os municípios.
CORREIO9 – Qual proposta tem levado para os seus eleitores?
GUERINO BALESTRASSI – Meu modelo mental sempre foi construído com base no combate às desigualdades sociais e regionais, tenho estudado muito sobre isso, antes mesmo de ser prefeito em Colatina em 2000.
Este é um trabalho que eu desenvolvi muito em Colatina, e depois, em outros órgãos, por onde passei. Tanto na Amunes, como no Banco de Desenvolvimento, o Bandes, como, também, na Secretaria de Ciência e Tecnologia. Então, eu tenho atuado muito em como diminuir isso. Veja bem, o nosso país teve um processo de migração muito forte e nós mudamos do rural para o urbano em 30 anos. Assim, muda a cultura e os valores, pois, os valores rurais são uns, e os urbanos são outros. Mudar numa rapidez dessas é muito grave. Enquanto a Europa fez isso em mais de 150 anos, nós fizemos em 30. Isto gera conflitos, conflitos muito sérios.
CORREIO9 – E por que esta migração?
GUERINO BALESTRASSI – Justamente por falta de dinamismo econômico, e aí, as pessoas vão migrando de uma região para outra, isto gera conflitos, porque a oferta de serviços públicos é muito lenta, enquanto a procura por serviços públicos é muito grande. São estes conflitos que geram a violência.
Quando você tem na comunidade, num bairro, num distrito, uma falta da oferta de serviços públicos, se a comunidade não se interage, se as instituições não atuam para resolver os problemas sociais, quem toma conta acaba sendo o crime.
Se não há uma política séria, por exemplo, de levar os doentes para os hospitais através de uma estrutura de assistência por parte do Estado, quem leva é o traficante. Se você não tem uma estrutura social para atender pessoas com medicamentos ou até com coisas complexas ou, até mesmo, simples ao mesmo tempo, como um velório, quem faz é o traficante. É desta maneira que o crime se instala em uma comunidade, por isso, a gente defende que o serviço público chegue com rapidez, com oferta.
É preciso que as comunidades se interajam para que haja um fortalecimento das instituições como igrejas e associações, quem cuida do idoso, quem cuida da criança, quer dizer, fortalecer essas instituições para que elas possam ajudar a tomar conta da comunidade.
Além disso, é preciso interagir com a geração de empregos. Não só empregos, mas também, a questão da autossustentabilidade do indivíduo, ninguém quer ser coitadinho. As pessoas querem crescer, querem ter luz própria, querem se fortalecer. E como você descobre novos talentos? Como você faz com que esses talentos se desenvolvam? Através do trabalho que eu chamo de incluir. Incluir a sociedade com dinamismo.
Depois da prefeitura, eu fui para a Associação dos Municípios. Lá, nós fizemos um projeto muito legal, que foi os royalties de petróleo, que funcionava para seis municípios. Na época, com o governador Paulo Hartung, nós criamos os royalties de petróleo para todos os municípios. Atualmente, 30% destes royalties chegam em todos os 78 municípios capixabas.
Quando eu fui para o Bandes, fortalecermos um projeto que já tinha encubado em Colatina que se chamava o Banco do Povo. Ele foi criado para as pessoas empreenderem, o pipoqueiro, o serralheiro, o lojista, o ambulante. Criamos o Nosso Crédito, onde as pessoas pegavam dinheiro com juros de 5% ao ano, com um ano de carência, entre outras coisas. A gente precisa de cuidar dos empreendedores com atenção, e esta é uma maneira de inclusão. Não estou falando de recursos para grandes empresários, isto também é necessário, você tem que trabalhar em cima disso, mas, a prioridade é fortalecer quem está começando.
CORREIO9 – Aqui no Espírito Santo, mais de 50% dos municípios estão com problemas de caixa, problemas de receita, e isto se alastra para o Brasil inteiro. Boa parte dos municípios não tem receita própria e depende muito dos recursos dos Estados e do Governo Federal. Como os municípios então podem fazer essa atuação para reduzir a desigualdade, se eles têm esta carência?
GUERINO BALESTRASSI – Este é o maior desafio do Brasil. O Brasil possui uma legislação que não dialoga, se você olhar, a legislação fiscal não conversa com a tributária nem com a ambiental, nem com a social, nem com a trabalhista, com a previdenciária e até com a política. E – principalmente, na questão de distribuição – é um país totalmente injusto. Mais de 60% dos recursos ficam com a União, pouco mais de 20% ficam com os Estados, e os municípios ficam com 13% a 14%. Os municípios não dão conta de fazer os seus programas, os seus projetos.
O prefeito vai à Brasília para pedir alguma coisa e sai de lá com outro projeto, que é praticamente colocar uma corda no pescoço, porque quando ele faz um convênio com a União, este convênio, normalmente, é deficitário. Aí, o município precisa arcar com as despesas. Chega um momento em que ele não consegue mais tocar este projeto. Olha o tanto de restaurantes populares, que servem comida a R$ 1,00, que estão atualmente fechados! O Governo Federal fica com os recursos, faz projetos que não chegam aos municípios, e os municípios ficam deficitários.
Os municípios, com populações de até dez mil habitantes, vivem do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), e uma receita per capita, a per capita é maior quando o município tem menor população. É injusto isso, fazendo aquela analogia de “onde come um, come dois”. Deste modo, quando o município cresce, ele vai começando a quebrar, se ele não tiver uma planta industrial, royalties de petróleo, se ele não tem uma estrutura, ele começa a quebrar.
Nós precisamos rever essa legislação.
CORREIO9 – Há um problema no Estado que sai disso aí, que é o problema do encarceramento. Agora por exemplo, estão sendo liberados aí dos Centros Sócioeducacionais por falta de estrutura do Estado para manter estes menores. Qual é a sua proposta nesta área de segurança? Como o senhor vê isso?
GUERINO BALESTRASSI – Eu não vejo solução para o serviço público nesta estrutura que está aí hoje. Se você tem uma unidade de saúde ou um hospital que funciona bem, a partir do momento em que a população descobre isso, com o tempo, ele vai começar a funcionar mal, porque a demanda é muito maior do que a oferta.
Nos presídios acontece a mesma coisa, se tiver um sistema que funciona bem, todos os presidiários são encaminhados para lá, aí você enche ele, e ele começa a funcionar mal, não tem jeito. Tanto na oferta de serviços públicos como na questão de presídios, vai acontecer sempre a mesma coisa. Nós precisamos ter condições de acabar com estes delitos, senão, o crime vai continuar acontecendo em progressão geométrica, ele vai continuar aumentando, e não adianta só construir presídios, porque você constrói, e sempre estarão abarrotados de pessoas, sempre vai ser deficitário. É preciso atingir a causa das causas, que é o fator da desigualdade, que gera a violência.
CORREIO9 – Qual mensagem deixa para o leitor-eleitor?
GUERINO BALESTRASSI – Todos os votos têm o mesmo peso. Não deixem de votar. Avaliem as propostas e o passado de cada candidato. O TSE disponibiliza todas as informações necessárias para se conhecer os candidatos (http://divulgacandcontas.tse.jus.br) vá lá, analise e decida. Outra coisa, não venda seu voto. Tem candidato troca favores pelo voto, outros fazem promessas. Quem compra o voto não deve mais nada, já está pago.
Quem promete algo em troca do voto, faz a mesma promessa a outros eleitores. Ele não terá compromisso com nenhum deles. Então eu peço que analisem, conversem em família, com os amigos. Se todos votarmos com consciência, ficará mais fácil promovermos as mudanças de que precisamos. E por fim eu agradeço a oportunidade que o Correio9 está me dando para apresentar minhas propostas.
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