
Elias de Lemos (Correio9)
Pai de aluno bate em professor; aluno abaixa as calças do professor; aluna dá facada em professora; aluno agride professor na sala de aula; aluna dá uma martelada na professora; um aluno dá socos em uma professora.
Um professor de Recife-PE, foi processado pela família de uma aluna que se sentiu “constrangida” pelo fato de o professor ter pedido para ela fazer silêncio e não atrapalhasse a aula. Mesmo depois de uma conversa pedagógica, a família decidiu processar o docente. O profissional, também, entrou com uma ação por danos morais. A justiça deu ganho de causa ao professor que recebeu uma indenização de R$ 5 mil.
Notícias como essas estão se tornando rotineiras. Salas de aula se transformaram em ambientes inseguros para professores e professoras e a situação se agravou depois da proibição do uso de celulares nas salas de aula.
“Greys anatomy”, uma famosa série da televisão americana mostra a vida de Meredith Grey que cresceu em uma família desestruturada, na qual não recebeu o suporte necessário e, assim, Meredith teve que perseguir seus objetivos sozinha.
A série é uma ficção, mas, a realidade não é muito diferente. Considerável parcela das instituições familiares brasileiras não cumpre com o seu papel na educação dos filhos. O resultado, são pessoas desajustadas com má formação pedagógica bem como o mau desenvolvimento social. E isso tem se desembocado nas escolas.
A omissão familiar afeta a educação de crianças e de adolescentes. Sobre isso, Paulo Freire – um pesquisador da educação – escreveu a obra “Pedagogia do Oprimido”, na qual narra sobre uma família opressora que deixa a responsabilidade da educação dos filhos sobre a escola. Neste sentido, parte dos pais e mães se mostram negligentes, como descrito por Paulo Freire.
Outra parte do problema é que a inexistência da educação familiar é substituída pela formação social (o que não é aprendido em casa, o mundo ensina). Neste ponto, o sociólogo polonês, Sigmunt Bauman, concebeu o conceito de “Instituições Zumbis”, uma metáfora para explicar a falência das instituições da modernidade.
Uma parcela das famílias do país verde e amarelo perdeu a capacidade de educar seus filhos, como decifrado por Bauman. Dessa maneira, o desleixo dos responsáveis causa um problema complicado para o Brasil: a dificuldade em ouvir não leva ao mau desenvolvimento da vida coletiva.
A família desempenha o papel mais importante dentro da sociedade porque é dentro dela que as pessoas aprendem valores, regras sociais e capacidade de viver em sociedade. No entanto, muitas famílias têm falhado nessa missão, que não é da escola.
Há, também, a dependência tecnológica que leva ao vício em joguinhos e redes sociais. Crianças têm acesso ao celular cada vez mais cedo, a leitura, que já era muito reduzida, se tornou algo raro prejudicando o desenvolvimento intelectual e criando adolescentes rebeldes, desrespeitosos e desequilibrados. É preciso reconhecer que jogos e redes sociais são como droga: viciam. Vídeos de adolescentes surtados, porque o pai ou a mãe tirou o celular, são abundantes nas redes sociais.
É importante esclarecer que essas situações não ocorrem em todas as famílias, e muitas enfrentam os desafios e desempenham seu papel de forma adequada. Além disso, recursos e apoios como aconselhamento familiar, serviços sociais e programas de apoio existem para contribuir com a família para lidar com as dificuldades e fortalecer a educação em casa.
É, pois, crucial que a negligência e a omissão familiares sejam combatidas na sociedade, para que valores como disciplina, respeito, fraternidade e solidariedade sejam resgatados e incutidos na educação dentro da família.
Como fazer isso com pais indo às escolas tirar satisfações, com professores e professoras, por pedirem silêncio na sala de aula? Como será possível, se um pai de aluno invade a sala e desfere vários socos contra um professor?
O problema está na escola ou em famílias fraturadas?
* O autor é economista, professor, jornalista, escritor e editor-chefe do Correio9
OS TEXTOS ASSINADOS NÃO REFLETEM, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CORREIO9





































































































































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