Elias de Lemos (Correio9)
Desde a eleição presidencial de 2014, o ódio ao PT e aos petistas tem sido o eixo de rotação das disputas presidenciais. Não se trata de um sentimento novo. Bem antes de Lula conquistar seu primeiro mandato, como presidente, parte da grande mídia nacional especulava e induzia a população a acreditar em supostos riscos relacionados a um governo petista.
É uma crença sedimentada em muitas mentes, e, comumente, manifestada de forma clara por adversários políticos, autoridades, pessoas das classes mais ricas da sociedade, profissionais liberais e representantes de instituições que – pelo que representam – exercem forte influência nos mais diversos segmentos da sociedade. Isto, por consequência, alimenta a oposição.
Isto pode ser verificado empiricamente em encontros sociais, descontraídos, onde muitos não se inibem em expor seus preconceitos.
Não faltam aqueles que o detestam e julgam que “ele é o homem mais corrupto do Brasil”, que “ele traiu as camadas populares”, que “ele tem um fundo de investimento de R$ 27 bilhões”, que “ele é dono do tríplex do Guarujá”, que “ele não pagou a Dívida Externa”, e até, que “ele afundou o Brasil”.
As mesmas pessoas que fazem afirmações deste tipo, não se incomodam com o atual presidente, denunciado duas vezes e livrado pelo Congresso, depois de bilhões de Reais torrados na compra de votos de parlamentares. Qualquer argumentação contrária a esta prática é justificada em “nome da economia”. Economia, que segundo eles, Lula destruiu e “o outro” está reconstruindo.
Os termos “direita” e “esquerda” passaram a fazer parte do vocabulário comum. Os dois lados costumam se acusar, mutuamente, sobre quem é mais ou menos corrupto. Daí o termo “esquerdopata”, também, caiu em uso. A palavra “esquerdopata”, a exemplo do psicopata, alude a um padrão moral sem pudores, que consegue arrumar justificativa para qualquer coisa, desde que isso permita atingir seus objetivos ou os do seu grupo.
No entanto, os dados referentes às acusações criminais contra parlamentares federais, em análise no Supremo Tribunal Federal, STF, mostram que a relação de políticos com a corrupção é algo que vai além de ideologias de direita ou de esquerda.
Um levantamento, feito pela Revista Congresso em Foco, demonstrou que, dos cinco partidos com maior número de congressistas com problemas na Justiça, dois são de direita (PP, com 35 parlamentares, e PR, com 19); um é de esquerda (PT, com 32) e dois são de centro: MDB (também com 32) e PSDB (com 26). Em ordem decrescente, a sopa de letrinhas fica assim: PP em primeiro lugar; MDB e PT empatados em segundo lugar; PSDB em seguida; e o PR na quinta posição.
Os cinco partidos somam 144 parlamentares com pendências criminais no STF, em uma relação que inclui deputados e senadores licenciados de seus mandatos para ocupar cargos no governo, como é o caso do ministro da agricultura Brairo Maggi. Deste modo: PP, PMDB, PT, PSDB e PR concentram mais de 60% dos 238 parlamentares sob investigação. Em outras palavras: a corrupção não tem partido, ela pertence a todos. Afirmar que este ou aquele partido é o responsável pela corrupção é exacerbação ideológica, falta de conhecimento ou manipulação de informação.
Se todos são corruptos, qual a razão de tanto ódio ao PT? O que se esconde atrás do ódio ao PT?
O Blog Jornalistas Livres publicou um artigo escrito a partir de uma pesquisa com leitores que não são petistas, mas, que, mesmo assim, não odeiam o PT. Eles apontam cinco pontos que indicam os motivos do ódio.
O primeiro é o “Preconceito” explicado pela não aceitação de quem Lula se tornou: “Porque ele é nordestino, pobre, sem curso superior, chegou aqui num pau de arara, ex-sindicalista, mãe analfabeta, porque a mulher foi babá, porque quando pega o microfone estraçalha o adversário, porque tem a melhor oratória do mundo, porque é sábio, porque é povo, porque é reconhecido no mundo inteiro como grande líder, por isso, precisam dizer que ele é o maior ladrão da história”.
O segundo é “Falta e manipulação de informação”, sob a explicação de que “a imprensa é partidária, e convenceu parte da classe C que subiu para B, com pequenos negócios, restaurantes, farmácias, panificadoras, lojas, etc, que pertenciam às classes A e AA, de que eram capitalistas e por méritos próprios”. Muitas pessoas passaram a acreditar que os avanços sociais, políticos, econômicos e culturais adquiridos durante o governo Lula, não foram por medidas governamentais e sim pela capacidade de empreender.
O terceiro ponto menciona a “Inveja”, justificando que, pessoas simples como ele, se perguntam por que ele chegou lá. Aí, ao olharem para si mesmas se sentem menores. Além disso, incomoda de várias formas. Incomoda o homem escolarizado, que teve tudo ao seu alcance para ter, por exemplo, o poder de síntese que o Lula tem e ele com tudo na mão, não consegue.
A “Distribuição de Renda” é o quarto ponto. Lula permitiu aos pobres não só sonharem com dias melhores, mas incentivou e permitiu que boa parte dos esquecidos viessem a exigir seus direitos. Essa subversão sempre foi, é e será onerosa. Muitos já tentaram, mas pagaram com a vida.
Ao mexer com a estrutura colonial em que vivíamos, ele se tornou uma ameaça às elites e para quem acredita nesse pensamento conservador sobre meritocracia e empreendedorismo.
Por fim, no quinto ponto, entra o “Jogo político”: “É bem simples: por ter sido o maior sucesso da esquerda que o Brasil já teve precisaram demonizar e transformá-lo no principal inimigo público do país. Nunca houve uma quebra na estrutura de poder desse país e quem conta a história é quem vence. O povo nunca é apresentado aos fatos que lhe interessam”.
Já na economia, um estudo do Instituto Brasileiro de Economia, IBRE, da Fundação Getúlio Vargas, mostra que o período de junho de 2003 a julho de 2008 foi a fase de maior expansão para a economia brasileira nos últimos 38 anos. Nesse período, a indústria se expandiu, as vendas do comércio registraram alta e a geração de emprego e renda cresceu.
Segundo o estudo, que considerou dados a partir de 1980, o bom desempenho da economia começou seis meses após a posse do presidente Lula e se prolongou por 61 meses. O segundo melhor período foi entre fevereiro de 1987 e outubro de 1988, na gestão do ex-presidente José Sarney. O menor período recessivo, de acordo com o levantamento, foi também no governo do petista, e durou seis meses: de junho de 2008 a janeiro de 2009, quando o país conviveu com a recessão.
* O autor é economista, professor e editor-chefe do Jornal Correio9
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