Por Elias de Lemos – eliasdelemos@correio9.com.br
O conceito de “idiota confiante” e a ascensão de Bolsonaro
Pessoas que não conhecem o limite da própria ignorância são mais fáceis de serem convencidas. O mesmo acontece com eleitores que não têm o conhecimento da realidade e se alimentam de informações que ouvem, sem jamais checar, assim, eles aderem mais facilmente a candidatos que fazem promessas irreais.
“O problema com o mundo moderno é que os idiotas estão seguros e os inteligentes cada vez mais cheios de dúvidas”. Esta frase é do filósofo galês Bertrand Russel, que viveu entre 1872 e 1970. Ela foi escrita na década de 1930, mas continua atualíssima.
Russel ganhou o Nobel de literatura em 1950. Ele ganhou notoriedade como defensor da vida criativa, moderna e racional que os totalitarismos de seu tempo – nazismo, fascismo ou comunismo – ameaçavam.
O pensamento de Russel é a base do conceito da chamada síndrome do “idiota confiante”.
É um paradoxo que trata dos indivíduos que ignoram o limite da própria ignorância. O conceito foi criado em 1999 em um artigo publicado por dois psicólogos americanos da Universidade de Cornell, Justin Kruger e David Dunning.
Um trecho do artigo cita: “Os incompetentes são frequentemente abençoados com uma confiança inadequada, afiançada por alguma coisa que, para eles, parece conhecimento”.
Levando em conta a confiança dos ignorantes, a teoria ajuda a justificar a ascensão do candidato republicano Donald Trump à presidência dos Estados unidos.
O presidente americano fala grosso, mas mostra desconhecimento completo sobre temas fundamentais do cargo que ocupa, como o programa nuclear americano ou a política externa do país.
Parte dos eleitores americanos, em especial aqueles que enfrentam sofrimentos materiais e emocionais, gosta das bravatas de Trump, assim como muitos apreciam o pré-candidato Jair Bolsonaro, aqui no Brasil. No entanto, não reconhecem suas gafes como erros porque não sabem que elas são erros.
Gostamos de certezas, mas a única coisa que a gente sabe é o limite do próprio conhecimento. Quem não entende que a verdade é construção histórica e que o ponto de vista do diferente é essencial para conhecê-la, se torna um ‘idiota confiante’. Isto é combustível para o fogo dos fundamentalismos.
O “compromisso com o erro” parece ser a marca da sociedade contemporânea na qual “a opinião se tornou o valor maior”.
Muitas pessoas fazem generalizações sobre temas que não conhecem nem de longe. Com isso, trocam o conhecimento por uma opinião rasa que passa a ser o real para elas.
Em momentos eleitorais este efeito se massifica podendo justificar o destaque de líderes como Trump ou o ultraconservador deputado federal brasileiro Jair Bolsonaro (PSL).
Parlamentar desde a década de 1980, Bolsonaro não tem projetos ou ações importantes no currículo. No entanto, com seus posicionamentos sobre temas como moral ou segurança (mesmo que em descompasso com regras constitucionais e com os princípios fundamentais da moral capitalista), o político já consegue amealhar parcela significativa do eleitorado em pesquisas sobre a corrida presidencial de 2018.
Quando um candidato sobe ao palanque, o compromisso dele não é com o realismo da proposta. Como líder, ele precisa cativar uma massa com a solução de um problema, pouco importa se ela é real. Sempre foi assim, e parece que sempre será, seja o líder Lula, Stalin, Hitler, Trump ou Bolsonaro.
Boulos
Em entrevista recente, o pré-candidato à Presidência, Guilherme Boulos lembrou de que é o candidato mais jovem da história do país a disputar a Presidência da República. Segundo ele, alguns perguntam: “Tão jovem, nunca teve experiência parlamentar?”. A resposta é pronta e sempre a mesma: “Se experiência político-parlamentar fosse credencial para governar o Brasil, o Temer seria o melhor presidente da nossa história, porque está fazendo isso há 50 anos e é um desastre”.
E a Renovação?
Dois senadores, Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PSDB), já anunciaram suas candidaturas à reeleição, sendo que Malta pode vir a ser candidato a vice-presidente, na chapa de Jair Bolsonaro. Mas outros nomes devem entrar na disputa pelas duas vagas ao Senado Federal nas eleições de outubro deste ano.
Pelo SDD o deputado estadual Amaro Neto já se lançou com o apoio de deputados estaduais e com o aval do governador Paulo Hartung (MDB). O deputado estadual Sérgio Majeski (PSB), é candidatíssimo, já a Rede trabalha pela candidatura do delegado Fabiano Contarato, que quase disputou o senado em 2014. O Partido dos Trabalhadores (PT) segue indefinido.
As primeiras pesquisas, de intenções de voto, indicam a liderança de Ricardo Ferraço e Magno Malta. Ferraço foi o relator da Reforma Trabalhista e Magno Malta apoia incondicionalmente o governo Temer. Além disso, ele se diz cristão, mas defende um presidenciável que faz apologia a todo tipo de crime, entre eles, estupro e pena de morte.
Operação Caifás
Deflagrada pelo Ministério Público de Goiás, a Operação Caifás apura o desvio de R$ 2 milhões pela Diocese de Formosa. No último dia 19 de março, nove pessoas foram presas. Além do dízimo, a apuração apontou que o grupo se apropriava de dinheiro proveniente de doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como batismos e casamentos.
As investigações sobre o desvio começaram no ano passado, após denúncias de fiéis. Eles afirmaram que as despesas da casa episcopal subiram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde a chegada do bispo Dom José Ronaldo, em 2015. Na ocasião, o clérigo negou haver irregularidades nas contas da Diocese de Formosa.
Porém, escutas telefônicas autorizadas pela Justiça foram usadas na apuração. Elas indicam que o grupo teria comprado uma fazenda de gado, carros de luxo e uma lotérica com os recursos. A operação resultou em apreensões em Formosa, Posse e Planaltina.
Após menos de um mês detidos em uma ala isolada do recém-inaugurado presídio da Formosa, os presos foram liberados por habeas corpus concedidos pela Justiça. Na saída da cadeia, o bispo Dom José Ronaldo, outros quatro clérigos e dois empresários foram recebidos com festa por parentes e amigos.
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