Por Eliana Maria Lemos
Seu nome era Antonio Gomes, mas era conhecido por todos pela alcunha de Chumbão. Chumbão era um velhinho de cabelos brancos, que morava sozinho numa casinha de tábua às margens do Rio Cricaré, no Bairro Filomena, quase na divisa com o Bairro Santa Luzia, em Nova Venécia.
Vivia dos trocados que ganhava fazendo pequenos bicos para a vizinhança. Coisas como limpar um quintal, tirar um entulho. Por “ser de confiança”, estava sempre na casa de um ou de outro. Comia um prato de comida aqui, outro ali e ia vivendo.
Embora morasse sozinho, e, aparentemente, não ter nenhum familiar por perto, não fazia o gênero largado por vício, esquizofrenia, ou coisa assim. Era lúcido e temente a Deus. Era religioso e aos domingos trocava a “muda de roupa” da semana por um terno azul marinho, pegava a sagrada Escritura e saía para a igreja cristã louvar o Criador.
Fora isso, podia ser a criatura que aterrorizava a meninada. Gostava de fazer medo nos pequenos. Parecia que tinha “um certo” prazer em fazer o papel do “bicho-papão”. Talvez por isso, mal crescia e a molecada aprendia logo a fórmula para neutralizá-lo: ficavam na encolha e quando ele surgia na rua gritavam bem alto:
– Chumbão galiiiiinha!!
Pra quê? O “velho” esquecia as boas maneiras, ficava vermelho igual um tomate bem maduro e saía xingando feito louco, e ai de quem ele encontrasse pela frente! Até hoje, nunca encontrei uma explicação para tanta raiva!
O fato é que Chumbão faz parte das minhas memórias de infância. Não me lembro de seu desencarne, acho que já não morava mais lá quando ele se foi. Mas se fecho os olhos sou capaz de ouvi-lo “ralhando” com a gente.
Não sei porquê, mas me lembrei muito dele há alguns dias. Lembrança boa!
* A autora é jornalista, roteirista, escritora, pesquisadora do Instituto Ipsos e articulista exclusiva do Jornal Correio9
Comente este post