Equipe Correio9
Eles estão por toda a parte! Em Nova Venécia, muitas ruas em diversos bairros recebem um tipo específico de calçamento, formado por milhares, milhões de blocos de concreto (o famoso bloquete sextavado) ou por paralelepípedos. No município, esse serviço começou a ser realizado ainda nas décadas de 70 e 80, utilizando, principalmente, os paralelepípedos. Posteriormente, as principais ruas e avenidas receberam o calçamento em bloquetes.
Mas, afinal, quem são os profissionais que realizam esse trabalho? Estamos falando dos calceteiros, que ‘constroem’ essas ruas pedra a pedra, um trabalho árduo, de paciência e que normalmente não é valorizado. Talvez seja por isso que a profissão esteja em ‘extinção’ no país, pois os mais jovens não desejam aprender e preferem outro serviço.
A Secretaria Municipal de Obras de Nova Venécia realiza, já há algum tempo, uma operação de conservação, tapa-buracos e nivelamento das pedras em alguns bairros. Durante esta semana, a reportagem do Correio9 acompanhou e conversou com dois calceteiros. Eles estão trabalhando na Travessa Colatina, no Centro da cidade.
Enquanto maneja o martelo, Joilson Paula da Silva, de 53 anos, morador do Bairro Ascensão, diz que é um dos poucos integrantes deste raro ofício. Segundo ele, em Nova Venécia há apenas uma dezena desses trabalhadores. Joilson revela que gosta do que faz, acha tranquilo. Ele já calçou ruas em diversos lugares por onde morou, como Minas Gerais e Paraná. Atualmente, sua labuta é como servidor na Prefeitura de Nova Venécia.
“Tem que acertar pedra por pedra, pois se não for assim sai errado”, destaca o experiente profissional. “As pessoas que me ensinaram já estão morrendo e hoje não aparece mais muita gente querendo trabalhar com isso”, completou, enquanto amarrava uma linha de anzol em um paralelepípedo para alinhar o enquadramento dos próximos blocos na altura da marcação.
Joilson executa seu trabalho na maior parte do tempo com a coluna baixa, onde ajeita o pó de brita, escolhe o bloco do tamanho exato e usa o martelo para bater e ajustar as pedras umas as outras. Segundo ele, quando o tempo está nublado é bem melhor para trabalhar, pois a pedra não fica quente e não há tanta fadiga e suor quando o Sol aparece. Ele acha mais fácil montar os paralelepípedos em vez dos bloquetes. “Nos bloquetes, o alinhamento tem que ser perfeito. O serviço rende mais, é mais rápido, mas quando se erra em um trecho, é preciso retirar tudo novamente para refazer”, salienta.
O Correio9 também conversou com o colega de trabalho de Joilson, já que comumente a tarefa é realizada em dupla. Luciano Marques Merlin, de 44 anos, é casado e morador do Bairro São Cristóvão. Ele está há 9 anos no cargo na Prefeitura de Nova Venécia. Luciano, utilizando-se de picareta, é quem retira os blocos para, posteriormente, o nivelamento ser concluído. Assim como o seu parceiro, ele disse que gosta do que faz. “Em primeiro lugar, a gente tem que agradecer né. Pois é daqui que eu retiro o sustento da família”, disse Luciano, se preparando para arrancar mais um bloco do chão.
“Na correria do dia a dia é provável que o calçamento passe despercebido por muita gente. Mas aqui a gente busca fazer tudo com muita dedicação”, esclarece.
Atualmente, assim como a maioria dos servidores públicos braçais (como garis, roçadores, capinadores, varredores) o salário não é tão valorizado no País. Em Nova Venécia, por exemplo, o calceteiro recebe pouco mais de R$ 1.200, com direito a 20% a mais de insalubridade. Outros cargos contam com até 40% deste benefício. Certamente todo o esforço e suor destes trabalhadores seriam mais compensadores financeiramente se eles fossem empregados num país de primeiro mundo. Porém, quando se trata de Brasil, todos já sabem que não é bem assim.
É importante destacar que os calceteiros fazem arte, montando um ‘quebra-cabeças’ a céu aberto. Joilson, o primeiro entrevistado desta reportagem, já exerceu a profissão nas famosas ruas históricas de Ouro Preto, em Minas Gerais. Esses trabalhadores formam as estradas por onde todos caminham; formam, também, desenhos em mosaicos nas praças (utilizando pedras portuguesas). Imagine o trabalho que foi construir o belo e icônico calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro?! E é bom lembrar de que cada pedra foi colocada individualmente, como a montagem de um quebra-cabeça.
Não é preciso ir tão longe, já que em Nova Venécia também temos a linda Praça Adélio Lubiana, e em 2020 será inaugurada a Praça Vila Olímpica, no Bairro Ascensão. Ambas as praças também contam com o trabalho detalhista dos calceteiros. Na última, por exemplo, os anéis olímpicos foram desenhados em toda a extensão do local, e só é possível vê-los através de imagens aéreas.
Agora, toda vez que você caminhar por ruas ou praças, será possível enxergar com outros olhos onde os seus pés estão pisando: um projeto único e uma verdadeira obra de arte.
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