O governo brasileiro, ao lado do Grupo de Lima, afirmou que não reconhece o resultado da eleição na Venezuela, na qual o líder Nicolás Maduro foi declarado vencedor neste domingo, 20. O Itamaraty alega que a votação não ocorreu “em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente”.
Em nota emitida na manhã desta segunda-feira, 21, o País, juntamente com os governos de Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia expressaram que “não reconhecem a legitimidade do processo eleitoral que teve lugar na República Bolivariana da Venezuela, concluído em 20 de maio passado, por não estar em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente”.
No documento, os países também concordam em reduzir o nível de suas relações diplomáticas com a Venezuela e que chamarão para consultas os embaixadores em Caracas. Além disso, ressaltaram o “aprofundamento da crise política, econômica, social e humanitária que deteriorou a vida” dos venezuelanos, resultando no intenso fluxo de imigrantes para regiões próximas.
O Grupo de Lima ainda lamentou a “grave situação humanitária na Venezuela” e disse que uma reunião com autoridades do país será convocada para tratar de imigração e saúde pública. O encontro deve ser realizado no Peru no começo de junho.
Europa estuda medidas contra Maduro; China e Rússia apoiam chavista
Com a vitória de Nicolás Maduro na eleição presidencial da Venezuela, no domingo, 20, a Europa estudará medidas contra o governo chavista. Diplomatas em Bruxelas indicaram ao Estado que, desde o fim de semana, são realizadas conversas nos bastidores entre as principais chancelarias do bloco para definir uma linha de atuação.
Também nesta segunda, o Brasil e 13 países da região, conhecidos como o Grupo de Lima, informaram que também não reconhecem o resultado da eleição venezuela e prometeram adotar medidas diplomáticas e econômicas contra o governo de Nicolás Maduro.
Um dos principais promotores de uma resposta dura da Europa a Caracas é o governo espanhol de Mariano Rajoy. Tradicionalmente contrário ao regime chavista, Rajoy tenta há meses convencer o restante da União Europeia (UE) a adotar uma postura mais crítica, incluindo a aplicação de sanções. Mas, por falta de consenso, o bloco tem se limitado a criticar o processo eleitoral e adotar medidas pontuais.
Negociadores europeus ouvidos pela reportagem indicaram que aguardavam a realização da votação, numa espécie de chance que se dava para que Maduro sinalizasse com algum tipo de abertura democrática. Mas diante do processo eleitoral do fim de semana, a única opção de Bruxelas foi restabelecer contatos para adotar medidas.
Nas redes sociais, Rajoy deixou claro que esse será o caminho. “No processo eleitoral na Venezuela não se respeitou os mínimos padrões democráticos”, escreveu. “A Espanha estudará com seus sócios europeus medidas oportunas e seguirá trabalhando para paliar o sofrimento dos venezuelanos”, afirmou.
Apoio
Duas das maiores potências mundiais, porém, fizeram questão de sair ao apoio a Maduro nesta segunda-feira. Na Rússia, o governo de Vladimir Putin atacou a “intervenção estrangeira” no processo eleitoral em Caracas.
Lamentamos que nessas eleições, além dos dois tradicionais participantes – o povo e os candidatos – existiu também um terceiro participante: os governos que abertamente pediram por um boicote ao voto”, declarou Alexander Schetinin, diretor do Departamento de América Latina da chancelaria russa.
Segundo Schetinin, governos estrangeiros chegaram a colocar obstáculos para que venezuelanos pudessem votar no exterior. “O pior é que muitos governos chegaram a dizer que não iriam reconhecer o voto, antes mesmo de ele ocorrer”, disse o russo, de acordo com a agência estatal Interfax.
“As eleições foram realizadas e o resultado tem um caráter irreversível: dois terços dos votos foram para Nicolás Maduro”, completou.
Um tom similar foi anotado pela China, importante aliada de Caracas. “As partes envolvidas devem respeitar a decisão do povo venezuelano”, disse o porta-voz da chancelaria chinesa, Lu Kang. Para Pequim, disputas sobre o resultado devem ser tratadas por meio dos tribunais e sempre considerando a lei.
Os chineses, responsáveis por importantes investimentos no setor de energia, indicaram que adotam como tradição a não ingerência em assuntos domésticos de outros países.
No domingo mesmo, 23 ex-presidentes ibero-americanos emitiram um duro comunicado, fazendo um apelo para que a comunidade internacional não reconheça a “farsa eleitoral” na Venezuela. O grupo inclui nomes como Felipe González, Ricardo Lagos, Andrés Pastrana e Oscar Arias.
No documento, os líderes pedem que governos retirem seus embaixadores de Caracas, que a Venezuela seja suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA), e que Maduro seja levado ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes contra a humanidade.
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