Sandro Astolfi Tótola
Circula nas redes sociais aí um vídeo de um senhor cantando uma música da caneta azul. Ouvi uma vez só, e trata-se de uma música romântica, onde a caneta seria o mote para abordar uma paixão. O recurso retórico não é novo, não é verdade? Quem não se lembra do grão de mostarda como mote para falar do Reino dos Céus, ou da do Semeador, apenas para citar alguns exemplos bíblicos. Mas, na música, isso é utilizado demais, desde “O Uirapuru”, de “Colcha de Retalhos”, “Fogão de Lenha”, “Rancho Fundo” e, para finalizar essa diminuta enumeração minusculamente exemplificativa, vale lembrar o hit “Granito Amarelo” do grande compositor veneciano Deivid José.
Ouvindo a música, o que se nota antes de tudo é a sinceridade do intérprete original. A gente realmente pode sentir que ele canta com sentimento, canta com coração, e deixa claro que com idêntico sentimento foi composta.
Nesse sentido, ou seja, no que diz respeito ao sentimento não há diferença de um popular para um erudito. Essas grandes pulsões humanas, como o medo, o ciúme, a ira, a inveja, a euforia, enfim, essas bem conhecidas paixões que subjazem a qualquer verniz de racionalidade não diferem muito no interior de cada um de nós. Contudo, realmente é de se admitir que a tradução delas passa pelo filtro da linguagem, sendo decantadas, adornadas, disfarçadas, enfim, recebendo sutilezas de expressão a depender de que as exterioriza.
Em termos de sentimento, Chico Buarque não é diferente de Amado Batista; ao contrário, os temas são até muito parecidos, somente alterando a construção linguística, sem dúvida muito mais trabalhada nas canções do Chico. Mas, tal fato não desmerece em nada o Amado, pelo contrário, a linguagem simples e direta, mas carregada de sentimento, é envolvente, tocante e emociona, falando direto ao coração!
Contudo, os ouvintes de hoje são carregados de insensibilidade, escolhendo volta e meia uma pobre alma para para-raios e, assim, despejar seus preconceitos, fazendo críticas – se é que assim podem ser chamadas, porquanto destituídas de qualquer critério – extremamente ofensivas, desrespeitosas e, pior de tudo, irracionais.
Existe uma beleza em todas as coisas, e se não a enxergamos é porque não está havendo beleza em nós.
* O autor é advogado, vocalista, baixista e colaborador do Jornal Correio9
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