Elias de Lemos (Correio9)
Desde junho é possível notar a mudança no comportamento do governador Paulo Hartung (PMDB). Durante o primeiro semestre ele ficou recluso e deu preferência aos eventos fechados, evitando as aparições públicas. Mas, nos últimos três meses, Hartung, tem participado intensamente de agendas externas ao lado de aliados, e de aliados potenciais. Além disso, o governador tem trabalhado a sua imagem que acabou sendo arranhada devido à crise da segurança.
O governador conquistou vaga na pauta da imprensa nacional que vem exibindo, e enaltecendo, o seu modelo de gestão. O modelo de austeridade fiscal adotado pelo governo capixaba se tornou um exemplo a ser seguido e uma receita para os demais estados. Tanto que o nome do governador passou a ser cogitado para a composição de uma chapa presidencial. Na quinta-feira (1º), o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, em entrevista ao jornal Valor Econômico, elogiou Paulo Hartung, chegando a dizer que, caso decidisse disputar a eleição em 2018, convidaria Hartung para sua chapa.
A intensa agenda pelo Estado só tem aumentado. No mês de agosto, foram 15 compromissos no interior. Na bagagem, levou obras, assinatura de ordens de serviço, participou de eventos e palestras locais para falar da política de ajuste fiscal. Nestas andanças, no Sul do Estado, Hartung visitou Itapemirim, Apiacá, Cachoeiro de Itapemirim, Guaçuí e Afonso Cláudio. Nas regiões Norte e Noroeste, passou por Colatina, Marilândia, Linhares, Aracruz, Ecoporanga, Nova Venécia e Vila Pavão.
Fora do Estado, Hartung tem participado de encontros políticos em Brasília, com o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, e, também, tem se encontrado com outras lideranças políticas. Hartung também foi convidado pelo Instituto Fernand Braudel de Economia, de São Paulo, para falar do modelo de gestão capixaba.
Hartung construiu, fora do Estado, uma imagem de excelência em gestão. Gestão que o colocou entre os nomes possíveis para compor uma chapa presidencial. A presença do governador capixaba na pauta do jornal Valor Econômico indica que Hartung já conquistou o principal interessado no seu nome para uma composição de chapa à Presidência da República: o mercado.
O modelo de gestão de Hartung é tudo o que o mercado quer. Porém, ainda que pesem algumas divergências internas, o governo do Espírito Santo começou seu ajuste fiscal há pelo menos dois anos.
Nos dois primeiros anos de governo, Hartung defendeu, e aplicou uma política de austeridade, cortando reajustes salariais dos servidores do Estado e reduzindo os investimentos e paralisando obras e entregas em todo o estado. Depois da eleição de 2016, com a posse dos novos prefeitos, ele pretendia realizar e entregar obras, mas foi surpreendido por uma sucessão de acontecimentos que o afastaram dos municípios, deixando-o confinado no Palácio Anchieta durante todo o primeiro semestre de 2017.
Em julho, o governador passou por 20 cidades e também esteve em cidades da Região Metropolitana da Grande Vitória, em Cariacica, Vila Velha, Serra e Vila Velha. Na Capital, a agenda foi no aeroporto de Vitória e sem a presença do prefeito Luciano Rezende (PPS), um de seus antagonistas políticos.
Em junho, a agenda incluiu mais 20 municípios. Nessas idas e vindas Hartung fez muitas entregas, aliás, ele entregou um pouco de tudo, de praça a barragens; de máquinas agrícolas a casas populares.
Nos meios políticos, as movimentações de Hartung têm surtido efeito. Se a sucessão de pautas negativas no primeiro semestre desgastaram a imagem do governador, ele parece estar conseguindo, aos poucos, recuperá-la para dentro e para fora do Estado. Porém, na agenda estadual, o desafio é quebrar a resistência e reconquistar o eleitor da Grande Vitória. Para isso, ele conta com o apoio importante do deputado estadual Amaro Neto (SDD), que deve oferecer ao governador seu maior atrativo: o apelo popular.
Mas não é só isso. Se, por um lado, Hartung vem conseguido lustrar a sua imagem junto ao eleitor, por outro ele tem muitas arestas para aparar na política. Para buscar o quarto mandato na eleição do ano que vem ele precisa vencer duras batalhas. Uma delas é a candidatura da senadora Rose de Freitas, que está travando uma queda de braço com o governador. Mesmo sendo do mesmo partido do governador, a senadora quer ser candidata a qualquer custo. Rose ainda tem mais quatro anos de mandato, o que significa que ganhando ou perdendo ela continuará “empregada”. Um dos trunfos da senadora é a sua aliança com o governo federal. Aliás, os senadores capixabas fecharam os olhos para a indecência moral do governo Temer, o qual apoiam incondicionalmente.
Rose de Freitas tem acesso ao cofre de Temer, se apresenta como candidata ao governo, sem levar em conta as explicações que será obrigada a dar sobre a sua aliança com um governo envolto em corrupção.
Não existe nenhuma ligação entre Hartung e Temer, e é este é um dos seus pontos fortes em relação à sucessão presidencial. Ele tem falado em união e diálogo para debater o Brasil.
Ele reconhece que há no Brasil um vazio de lideranças. Tem um modelo de gestão que o credencia para chegar à Brasília. No entanto, não é do perfil do governador capixaba entrar em uma disputa incerta, como a campanha presidencial, especialmente em um momento em que pode aparecer, do nada, um “salvador da pátria”, que diga o que o povo quer ouvir, este sim, o grande risco para qualquer projeto sério a ser debatido nas eleições de 2018.
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