Kim Campos (Correio9)
O ano de 2018 começou e a turma que nasceu no ano 2000 completa a sua maioridade no decorrer desses doze meses. O tempo é plural, como diriam os filósofos, mas, para Santo Agostinho, ele é “uno”. Ano 2000 era futuro há pouco tempo atrás, canta Humberto Gessinger e a noção de tempo, de espaço e de como reagem as pessoas ao longo da caminhada, mudam também, e de forma drástica.
Nesta reportagem, o Correio9 procura entender as diferenças entre as gerações contemporâneas. Para isto consultou alguns especialistas na área de cognição e desenvolvimento, para levar ao leitor uma expressão pouco conhecida e usual pela maioria das pessoas: afinal, de que se trata a trilogia geração X, Y e Z?
Se se pensar que, antes, as gerações eram formadas a cada 25 anos, ficará difícil comparar gerações. Entretanto, na atualidade – dadas as mudanças tecnológicas que alteram os comportamentos – um quarto de século é praticamente um século. As coisas, as relações familiares, de trabalho, etc. mudam cada vez mais rápido.
Alguns especialistas apontam que a criação de novas classes genealógicas estão surgindo a cada dez anos e com extremas mudanças de comportamento. O gerenciamento de conflitos e resolução de problemas hoje é feito em períodos cada vez menores, muito pelo fato dos jovens resolverem mais rapidamente e sempre se procurarem com a forma mais fácil de ser feita.
Para entender um pouco melhor essa história, é necessário dissecar os tipos de pessoas, que foram divididos nas gerações X, Y e Z.
De acordo com a coach, Natache Machado Fiel, antes da geração “X” houve a Baby Boomer, sendo uma geração caracterizada pelo trabalho bem específico, sendo o sucesso profissional caracterizado pela estabilidade no trabalho, com carreira sólida na empresa, com sonho de se formar na faculdade, arrumar um bom emprego comprar uma casa e se casar. Passava a vida trabalhando para ser feliz após aposentadoria.
Em relação à geração “X”, a coach revela que houve ruptura nesse movimento social que era a associação entre o trabalho e prazer. “Associar trabalho a prazer foi muito impactante e para a geração “X” ser um workaholic era sinal de sucesso. Foi aí que surgiu o ‘happy hour’ que é o trabalho fora de casa, onde se fechavam negócios até nos bares”, aponta.
Prosseguindo, Natache conta que aí surgiram os jovens líderes, querendo ter o seu MBA (Master in Business Administration) para simbolizar a competência profissional.
“GERAÇÃO X”
Criado por Robert Capa, em 1950 – é utilizado para rotular as pessoas nascidas após o chamado “baby boom” (década de 20 até a década de 40), que foi um aumento importante na taxa de natalidade dos Estados Unidos após a segunda guerra mundial. Essa geração inclui aqueles que nasceram no início de 1960 até o final dos anos 70. Por vezes são incluídos também os nascidos até 1982.
Se você se enquadra nesses anos, viu surgir o computador pessoal, a internet, o celular, a impressora, o e-mail, etc. E viu seu mundo mudar muito. Grande parte da geração “X” chegou aos 30, 40 anos e descobriu que para juntar meio milhão e dar entrada, com sorte, num apartamento modesto que irá pagar até seus 60 anos, o caminho é longo e o preço é alto, bem alto, às vezes impagável. À sua volta, os filhos crescem, os pais morrem, os sonhos envelhecem e as férias exóticas para as ilhas Maldivas, Barcelona e Cancún ou Fernando de Noronha, nunca serão tiradas.
Os filhos da “geração X” nasceram em fins dos anos 70 e início dos anos 90. Foi a geração que desenvolveu-se em uma época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica. As crianças da geração “Y” cresceram tendo o que muitos de seus pais não tiveram, como TV a cabo, videogames, computadores, vários tipos de jogos, e muito mais. Se a geração “X” viu nascer a internet e a tecnologia, a geração “Y” já nasceu quando elas já estavam plenamente desenvolvidas, cresceram e internalizaram as mesmas desde pequenos.
Segundo pesquisadores que estudam as gerações, a geração “Y” cresceu rodeada de facilidades oferecidas por seus pais, que queriam dar aos seus filhos, uma vida melhor do que aquela que tiveram. Eles cresceram vivendo em ação, estimulados por atividades, fazendo tarefas múltiplas. Acostumados a conseguirem o que querem, não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e por isso lutam por salários ambiciosos desde cedo. É comum que os jovens dessa geração troquem de emprego com frequência em busca de oportunidades que ofereçam maiores desafios e crescimento profissional.
“GERAÇÃO Y”
Se você é da geração “Y”, cresceu num mundo digital e está, desde sempre, familiarizado com dispositivos móveis e comunicação em tempo real, como tal, você pertence a um grupo de consumidores exigentes, informados e com peso na tomada de decisões de compra. Você faz parte da primeira geração verdadeiramente globalizada, que cresceu com a tecnologia e a usa desde a primeira infância. A internet é, para você, uma necessidade essencial.
Essa geração foi impactada pela tecnologia. Natache ensina que eles já nasceram em uma época em que a internet já estava possível para todos e isso impactou muito na forma de se relacionar com o mundo. “Eles causaram muito movimento, muita mudança e o trabalho era completamente associado à felicidade, ou seja, eles transformavam aquilo que dava prazer no próprio trabalho”, completa.
Assim surgia a economia criativa, um movimento muito mais empreendedor, com aquele tipo de jovem tendo ojeriza a ser funcionário de alguém ou ter carteira assinada, sendo o local de trabalho dele em qualquer lugar e a qualquer hora. É uma geração que aprende sozinha não está preocupada com curso superior nem MBA, até porque as Universidades estão muito distantes do conhecimento que esses jovens querem adquirir. Eles aprendem pela internet e nos vídeos do YouTube.
Emprego para eles não é importante. O que importa é ter um propósito na vida. Mas nem tudo é lindo, pois essa geração é uma geração extremamente ansiosa e impaciente e superficial à rapidez na qual ela se conecta, gerando a ansiedade. Eles não sabem esperar e isso causa sofrimento e doenças da atualidade como ansiedade e depressão. Para essa geração os relacionamentos também são bastante superficiais e a comunicação é feita pelos meios tecnológicos, isso incapacita esses jovens de desenvolverem a empatia que é gerada a partir do olho no olho do relacionamento pessoal.
Esses jovens precisam aprender a amar o que faz porque nem sempre eles conseguem transformar em negócio aquilo que eles amam fazer. A geração X que são os pais da geração Y não ensinou esses jovens a lidar com a frustração, então, eles são bem intolerantes à frustração E isso também gera muitos transtornos emocionais. É como se eles não fossem capazes de sobreviver a uma dor emocional como o fim de um namoro ou o fim de um emprego.
“GERAÇÃO Z”
Esta geração, que compreende os nascidos entre o fim de 1992 a 2010, está ligada intimamente à expansão exponencial da internet e dos aparelhos tecnológicos. As pessoas da geração “Z” são conhecidas por serem “nativas digitais”, estando muito familiarizadas com a world wide web, com o compartilhamento de arquivos, com os smartphones, tablets, e o melhor de tudo: sempre conectadas. Esta geração nunca viu o mundo sem computador.
Outra característica essencial dessa geração é o conceito de mundo que possui, desapegado das fronteiras geográficas. Para eles, a globalização não foi um valor adquirido no meio da vida a um custo elevado. Aprenderam a conviver com ela já na infância. Como informação não lhes falta, estão um passo à frente dos mais velhos, concentrados em adaptar-se aos novos tempos.
Os maiores problemas dessa geração são relacionados à interação social. Paradoxalmente, por estarem tão conectados virtualmente, muitos deles sofrem com a falta de intimidade com a comunicação verbal, o que acaba por causar diversos problemas com as outras gerações. Segundo alguns analistas, essa geração também é marcada pela ausência da capacidade de ser ouvinte.
Enfim, essa geração tem um grande problema, segundo as demais: é a geração mais fechada de todas, onde cada um está sempre fechado em seu mundo e isolado através de fones de ouvido (seja em ônibus, universidades, em casa, no ambiente de trabalho, etc.). São os que escutam pouco e falam menos ainda. Pelos demais eles podem ser definidos como a geração que tende ao egocentrismo, preocupando-se somente consigo mesmo na maioria das vezes.
A coach e psicanalista, Natache, aponta ainda que a tecnologia de relacionamento que existe hoje através do WhatsApp, Snap, Facebook e Instagram (e outros aplicativos de comunicação instantânea) está atrapalhando as pessoas a desenvolverem a empatia, gerando muitos problemas de relacionamento.
“A comunicação via esses meios é incompleta, surgindo muitos ruídos mal-entendidos que levam a conflitos. Outro dia estava conversando com uma pessoa e ela mandou uma mensagem pelo WhatsApp. Como a pessoa visualizou e não respondeu, ela começou a sofrer por isso. Além do desapontamento, as mídias sociais também criam um mundo paralelo e ilusório, pois a vida no Facebook e no Instagram é sempre linda, colorida, rica e espiritualizada, mas na vida real, a pessoa que está desejando paz e gratidão é capaz de não parar na faixa para esperar que o cidadão atravesse a pé, ou não tem paciência com a lentidão dos idosos”, pontua.
“Apesar dos dissabores, a Geração Z é apontada como mais autêntica, honesta e verdadeira, não se submete a comportamentos tradicionais sem sentido. É necessário, porém, aprender a viver no tempo presente, a ser mais tolerante, a esperar o tempo das coisas, para lidar com ansiedade”, finaliza Natache.
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