Por Elias de Lemos – eliasdelemos@correio9.com.br
Pela 10ª vez seguida, o mercado financeiro reduziu a projeção para o crescimento da economia brasileira em 2019. A projeção do Produto Interno Bruto (PIB), que era de 1,70% caiu para 1,49% este ano. Já para 2020, a estimativa foi mantida em 2,50%, a mesma para 2021 e 2022. As informações constam no relatório Focus, divulgado na semana passada pelo Banco Central.
O boletim Focus, é uma publicação semanal que reúne conclusões de estudos de instituições financeiras sobre os principais indicadores econômicos.
Contrariando as estimativas de mercado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está projetando crescimento, ainda menor, de 0,91%. Ou seja, inferior ao resultado do ano passado.
Em janeiro de 2018 a taxa de crescimento projetada pelo mercado era de 2,39%. No final, o crescimento foi de 1,1%, a mesma estimada pelo IBGE.
Em relação à inflação, a estimativa do mercado para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), aumentou de 4,01% para 4,04% este ano. Para 2020, a previsão foi mantida em 4%. Para 2021 e 2022, também não foi alterada, ficando em 3,75%.
A meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional, para este ano é de 4,25% com limite inferior de 2,75% e superior de 5,75%.
Desemprego dá mais um salto
Os últimos números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa de desemprego no País aumentou entre o último trimestre de 2018 e o primeiro de 2019, subindo de 11,6% para 12,7%. Em números absolutos, isto significa que os desempregados que, antes, eram 12,2 milhões, agora, somam 13,4 milhões.
A mão-de-obra subutilizada – que inclui pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais e estão insatisfeitas – também preocupa. Este grupo representa 25% da força de trabalho, somando 28,3 milhões de trabalhadores. Além disso, os denominados ‘desalentados’ – a quantidade de pessoas que desistiram de procurar emprego – somaram 4,8 milhões.
Em apenas três meses do governo de Jair Bolsonaro (PSL), o número de desempregados no país cresceu mais de 1,2 milhão. Em percentuais, cresceu 10,2% e a taxa subiu para 12,7% no trimestre encerrado em março. É a maior taxa de desemprego desde o trimestre terminado em maio de 2018, quando o percentual também ficou em 12,7%.
Maioria dos empresários está pessimista em relação ao aumento do emprego
Um levantamento realizado pelo banco BTG Pactual apontou que 55% dos entrevistados acreditam que haverá estagnação ou redução no número de vagas de emprego. O estudo mostra, também, apoio à reforma da Previdência e uma contradição do empresariado, que, por um lado, pede maior abertura comercial enquanto, por outro, quer mais dinheiro de bancos públicos.
O estudo do BTG Pactual – com empresários de todo o Brasil – foi divulgado na última segunda-feira (6). A surpresa é a revelação de que as expectativas em relação à retomada do emprego com a aprovação da reforma da Previdência não são das melhores.
A maioria, 55%, não acredita que vai haver geração de empregos. Para 43% dos empresários o nível de emprego se manterá igual; 9% acreditam que vai diminuir um pouco e 3% que diminuirá muito. Do lado dos otimistas, 31% creem que as ofertas de trabalho aumentarão um pouco e 13% que crescerão muito.
A pesquisa sugere que para a maioria dos empresários a reforma não atingirá o impacto fiscal esperado (1 trilhão). 35% dizem que o impacto será um pouco menor, 26% igual e 17% muito menor.
O levantamento do BTG revela um setor empresarial incoerente quanto ao investimento público.
Quase totalidade – 97% – concordam com maior abertura comercial no país. Outros 81% defendem a privatização de estatais, enquanto que 16% contra. Paradoxalmente, 52% querem mais dinheiro de bancos (empresas) públicos, como Caixa e Banco do Brasil, com 33% apoiando pouco essa medida.
Segundo o banco, o levantamento foi feito por abordagem telefônica com 1.000 executivos de empresas pequenas, médias e grandes em atividade no Brasil, em uma amostra representativa do universo (exceto microempresas).
Falta de investimentos impede retomada
O governo sem dinheiro para investir e as empresas em compasso de espera; assim está a economia brasileira. Esta combinação não traz otimismo em relação às reais possibilidades de recuperação do crescimento, segundo economistas do IBGE.
Dados do Instituto mostram que a indústria recuou 1,3% em março na comparação com fevereiro, sendo o pior resultado em seis meses. A previsão dos analistas era de uma queda menor, de 0,7%. Esse resultado ascendeu uma luz vermelha com as chances de que o PIB feche com balanço negativo no primeiro trimestre.
Para especialistas, o motivo para resultados tão pífios é a baixa taxa de investimento, que em 2018 foi de 15,8% do PIB, um pouco acima do ano anterior (15%), mas muito abaixo dos 21% realizados em 2013. O investimento do governo em 2018 foi o menor desde 1996. Em valores monetários, o volume investido (tanto público, quanto privado) é o mesmo de dez anos atrás (2009).
Enquanto o clima de incerteza permanecer, o investimento continuará reprimido e a retomada da indústria seguirá cada vez mais difícil.
Não existe caminho para a volta dos investimentos. O Brasil é um País literalmente quebrado, sem dinheiro para cobrir suas despesas básicas. A economia brasileira não vai sair do lugar sem uma transformação estrutural, com mais investimentos, principalmente por parte do setor público. Porém, os investimentos públicos vêm caindo de forma elevada, causando reduções, também no setor privado.
Consumo estagnado
A volta do crescimento econômico depende, ainda, da retomada do consumo, que está estagnado em função do elevado nível de desemprego e pelo aumento do endividamento das famílias, já que mais de 62% dos brasileiros estão endividados, enquanto 63 milhões de pessoas estão com o nome sujo.
Atualmente, 88% da produção industrial brasileira é consumida pelo mercado interno. Então, a recuperação dessa capacidade de consumo é crucial para a retomada econômica.
O Brasil está longe de recuperar as perdas, especialmente as dos anos de 2016 e 2017, quando a queda acumulada do PIB chegou a quase 8%.
Brasil deixa ranking de países confiáveis para investimento
A economia brasileira que já está em uma situação ruim, pode piorar ainda mais. A consultoria A. T. Kearney, que enumera as 25 nações mais confiáveis para investir, retirou o País do ranking. Agora, o Brasil deixou de ser um país confiável para a realização de investimentos internacionais.
É a primeira vez que o país fica fora da lista desde que o levantamento começou a ser divulgado, em 1998. Nenhum país da América do Sul aparece no ranking.
Em 2018, o Brasil já indicava o que poderia acontecer, pois aparecia na 25ª, a última colocação. O País vem em uma sequência de queda nos últimos anos. Em 2016, ocupava a 12ª posição, caindo para 16ª e 25ª nos dois anos seguintes, até ficar de fora da lista em 2019. Até então, a pior posição tinha sido a 17ª, em 2004.
Entre 2010 e 2014, o país estava entre os cinco primeiros colocados. Neste ano, além do Brasil, Portugal também ficou de fora da lista pela primeira vez.
O ranking é realizado por meio de pesquisas com 500 executivos de companhias bem posicionadas no mercado ao redor do mundo. É calculado com base em perguntas sobre a probabilidade dessas empresas em fazer um investimento direto em mercados específicos ao longo dos três anos seguintes.
Os Estados Unidos continuam em primeiro lugar, a Alemanha surge em segundo, seguida pelo Canadá e Reino Unido. Já a China caiu para sétimo. Os países desenvolvidos ocupam 22 das 25 posições na lista, sendo 14 na Europa. China, Índia e México são os únicos emergentes que aparecem no estudo.
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