Por Elias de Lemos (Correio9)
Até a década de 1980, um evento da natureza atraía os venecianos, a imprensa e provocava muita curiosidade durante os fins de tarde. No verão, milhares de andorinhas realizavam um verdadeiro espetáculo e deixavam os espectadores encantados com a encenação do ‘balé aéreo’. A revoada acontecia religiosamente, todas as tardes, escurecendo o céu de Nova Venécia.
Depois de anos convivendo com o espetáculo das andorinhas, a população aprendeu a conviver com as aves. Elas chegavam em dezembro, do Hemisfério Norte. Em rotas migratórias continentais, os bandos tinham como destino, a cidade de Nova Venécia, onde permaneciam, em média, por três meses.
Mas, nem tudo era beleza; por causa da sujeira, nem sempre, elas agradavam. A revoada era sinônimo de uma “chuva de cocô”, não se podia facilitar, a sujeira era geral.
A revoada era contemplada pela cidade inteira. Todas as tardes, pessoas nas janelas, nas ruas, e uma multidão em cima da ponte Cristiano Dias Lopes, apreciavam o balé. As andorinhas não enfrentavam a resistência dos frequentadores das praças, as quais passaram a ser lavadas pela prefeitura. Assim, o convívio se tornou pacífico.
Por anos, esses pássaros realizaram “visitas” que encantavam Nova Venécia, mas traziam, principalmente, o benefício do controle biológico ao eliminar os insetos. As árvores de onde seria a futura Praça do Granito, hoje Praça Adélio Lubana, e a Praça Jones Santos Neves, eram o xodó dos pássaros. Pontos de atividades culturais e esportivas, elas estavam abandonadas, mas foram recuperadas e equipadas pela Prefeitura.
As praças passaram a ser frequentadas por centenas de pessoas e também pelas andorinhas. Equipes de garis trabalhavam todas as manhãs, de segunda a segunda, na limpeza.
As andorinhas vinham do Polo Norte, por causa do clima, que facilitava o acesso à comida naquela época do ano. No topo do cardápio estavam os cupins. Durante as chuvas fortes, quando a tempestade está cerca de três ou quatro quilômetros de distância, uma corrente de ar quente e úmido empurra os insetos para cima, e por isso, os pássaros voam mais alto e fazem acrobacias que parecem uma dança no céu.
“Os senhores Ivo Antonio Baldo e Waldemar de Oliveira eram os guarda-costas delas. Não deixavam ninguém espantar, jogar pedras, bombinhas, não permitiam nada que pudesse incomodá-las. Além disso, sempre colocavam alimentos nas árvores, para os bichinhos”, relembra o bioquímico João Geraldo Coser, o Geda.
“A revoada ocorria por volta das 18 horas. Era um verdadeiro balé no céu. Milhares de andorinhas. Depois do ‘espetáculo’ iam baixando altura até pousar em uma ingazeira que existe até hoje nos fundos da Casas Baldo (no centro da cidade). Uma verdadeira multidão ficava admirando em cima da Ponte Cristiano Dias Lopes”, salienta Geda.
O advogado Kim Campos relembra de que Nova Venécia ficou famosa por causa delas: “Em meados da década de 1980 a revoada acontecia na Praça Jones dos Santos Neves. Era um espetáculo tão grande, que a TV Gazeta, de Vitória, veio aqui fazer uma reportagem sobre o fenômeno. Naquela época, quando uma equipe de TV aparecia aqui era um acontecimento. A reportagem acabou no Jornal Nacional, da TV Globo, que era apresentado pelo Cid Moreira. Quando ele deu o famoso ‘boa noite’, no encerramento da apresentação, os caracteres começaram a subir com as imagens da revoada ao fundo. Nova Venécia ficou conhecida como a Cidade das Andorinhas”.
FOLCLORE
Na inauguração do Ginásio de Esportes (março de 1988), as andorinhas levaram o então prefeito, Adelson Salvador, a cometer uma gafe folclórica. A dupla Chitãozinho e Chororó veio cantar na inauguração. O prefeito disse que havia uma música deles que, para ele, era especial, e pediu que cantassem a música das andorinhas [As andorinhas voltaram, e eu também voltei…]. Responderam que iam cantar, mas, disseram que a música era do Trio Parada Dura.
SE FORAM
Em decorrência de mudanças climáticas, elas desapareceram a partir dos anos 1990.
SAIBA MAIS sobre o pássaro:
As andorinhas são um grupo de aves passeriformes da família Hirundinidae. A família destaca-se dos restantes pássaros pelas adaptações desenvolvidas para a alimentação aérea. As andorinhas caçam insetos no ar e para tal desenvolveram um corpo fusiforme e asas relativamente longas e pontiagudas. Medem cerca de 13 cm (comprimento) e podem viver cerca de oito anos ou mais.
As fêmeas fazem uma postura de 4 ou 5 ovos, que depois são incubados durante cerca de 25 dias. Passado o tempo da incubação, nascem os jovens, cuja alimentação é feita por ambos os progenitores.
Quando há temperatura baixa, as andorinhas juntam-se em bando e vão à procura de locais da Europa mais quentes, indo também para o norte de África. Depois, quando a temperatura volta a subir, por volta da primavera, regressam novamente. Constroem as suas casas perto do calor, em pequenos ninhos normalmente colados ao teto.
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