Chamar cem ou mais pessoas para um cenário emaranhado de figuras de isopor e balões porque o bebê está fazendo um aninho não é falta de bom senso e exagero?
As crianças que nascem no Brasil em berço de classe média alta poderão mostrar ao mundo futuramente tudo o que viveram em seus primeiros dias de vida. Isso porque além do big brother diário a quem são cometidas por seus pais em inúmeras fotografias, filmagens e afins, também contam com um plus que não era comum nos tempos passados: as festas infantis com glamour de ‘gente grande’.
Quase ninguém responderia não se pudesse optar em fazer ou não a festa de aniversário de seu filho, mas o exagero dos pais na hora de organizar a festa aqui no Brasil é questionável. O país parece levar tudo como se fosse uma tradição cultural.
Não raro são vistas festas infantis com 100, 200 pessoas para celebrar o aniversário de uma criança de um ano. Os pais costumam transformar cada aniversário do filho em um show pirotécnico querendo mostrar aos convidados que a personagem escolhida por este dá um banho naquele. No fim das contas o investimento acaba sendo mais no
cenário do que nas relações verdadeiras.
A professora Carmem Augusta Campos, que reside em Nova Venécia, vê com preocupação a forma de ostentação em que os pais tratam as festas de aniversário de seus filhos. “Hoje não se celebra mais o nascimento, (a vida) mas sim o poder aquisitivo
de cada ser. As celebrações ficaram tão fúteis que estão celebrando até mês de aniversário”, avalia. Prosseguindo, Carmem observa que nas festas infantis a disputa é para ver qual festa vai estar mais ornamentada, com mais lembrancinhas a serem
distribuídas com claro intuito de se fazer presente na sociedade.
Opinião semelhante tem outra profissional da educação, a professora Márcia Oliveira, de Vila Pavão, que entende ser sim um exagero a forma como as festas são montadas. Márcia explica que respeita o que cada um pensa, mas revela que o modismo é tanto que foi criado até o ‘mêsversário’. “Antes era algo realizado para juntar a família e alegrar-se com o filho. Hoje tem se tornado uma espécie de competição de quem faz melhor”, conclui.
Finalizando o tema, a psicóloga Kelly Mirela Leite, veneciana radicada em Vitória diz que não há nada de errado em comemorar o aniversário de uma criança, recebendo os amigos, a família e agradecer mais um ano de vida, pois a ação torna-se saudável para o desenvolvimento social, emocional e afetivo do menor. “Nesses ambientes observa-se o afeto na relação das pessoas que ali se encontram. As festas são contagiadas de alegria e um sentimento de ter a outra no ano seguinte”, entende.
Em contrapartida, a psicóloga mostra preocupação com a atitude dos pais quando
exageram na produção de uma festa infantil, com muito luxo e deslumbramento. Para ela, o errado no modelo exagerado de consumismo trará consequências futuras de forma negativa, podendo fazer da criança um adolescente egocêntrico, com relações fúteis e evasivas. “O excesso também pode trazer para a criança a impressão de superioridade em relação às outras crianças e até adultos, podendo passar por uma adolescência recheada de um tédio profundo porque tudo será pouco, querendo receber tudo com muito glamour e não saberá lidar com o simples”, analisa.
Finalizando, Kelly expõe que o exagero dos pais pode fazer com que o indivíduo perca a grandeza e a essência da vida, podendo conviver com dificuldade e frustração quando tiver que enfrentar um pequeno desafio da vida pois não tem que pensar em nada e
nunca ouve a palavra não, tendo dificuldade em aceitar limite, regras e não tendo o desenvolvimento emocional equilibrado para saber respeitar o outro quando adulto. “O tema é bastante interessante e deve ser sim analisado pela sociedade. Há uma frase que retrata bem o assunto: todo o excesso esconde uma falta”, conclui.
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