Texto por Maria Clara Vieira
Quando a temperatura diminui, o tempo tende a ficar mais seco e as crianças são as que mais sofrem. É aquela situação que você conhece bem: coriza, tosse, espirro, dificuldade para respirar… Mas tenha certeza de que não é só na sua casa que isso acontece. Um estudo recente da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, feito com 161 crianças da educação infantil, revelou que 43% dos alunos apresentavam pelo menos um vírus em seu aparelho respiratório nessa época do ano. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores coletaram e analisaram amostras de muco da garganta de cada um deles.
Mas por que certas doenças têm predileção pelo outono e inverno? “A incidência começa a aumentar no outono porque ocorre a diminuição da umidade relativa do ar. As partículas ficam em suspensão, os lugares permanecem mais fechados e isso favorece a contaminação ambiental”, diz o pediatra José Gabel, do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria. As quedas bruscas de temperatura em um mesmo dia e o aumento da poluição do ar contribuem para os quadros. “Tudo isso leva a uma maior incidência das doenças respiratórias, tanto inflamatórias como alérgicas”, afirma a otorrino pediatra Melissa Avelino, presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica.
Os médicos entrevistados por CRESCER são unânimes em dizer que, de fato, nas estações mais frias as salas de prontos-socorros e de consultórios pediátricos lotam. Um levantamento feito pela CRESCER junto ao DataSUS revelou que abril, maio e junho são os meses com maior número de crianças internadas na rede pública de saúde.
Na rede privada, o cenário segue estatística semelhante, segundo os especialistas. “As consultas no nosso pronto-socorro chegam a subir até 80%”, diz o pediatra Felipe Lora, coordenador do pronto-socorro do Hospital Infantil Sabará (SP). “O problema é que a gravidade das doenças também aumenta. Muitas crianças ficam internadas e chega um momento em que não há mais espaço”, comenta Lora.
Embora esse aumento de casos seja perceptível em regiões mais frias, ele também existe em locais quentes, como o Rio de Janeiro. “Nossa experiência em emergência mostra um crescimento de cerca de 20% das demandas de infeções no outono e no inverno”, conta Carla Dall Ollio, coordenadora da emergência pediátrica do Hospital Barra D’Or (RJ). “Não temos características climáticas tão rígidas como no sul do país, mas, devido à sazonalidade dos vírus, existe mesmo um maior acometimento das vias aéreas nessa época”, diz.
Mas será que os pais devem sempre correr para o hospital no primeiro espirro do filho? Não! “O recomendado é que o pediatra da criança faça uma avaliação. Se você leva direto ao pronto-socorro, pode ser que ela pegue alguma doença pior, porque ali circulam muitos vírus e bactérias. O PS é para emergências, mas está virando um grande ambulatório”, diz o infectologista pediátrico Victor Horácio, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Segundo ele, só é necessário visitar o hospital quando há falta de ar, febre que não cede, sangramento, crise convulsiva ou mudança neurológica (como sonolência). A seguir, confira os problemas de saúde infantil mais comuns nesse período do ano e veja como ajudar o seu filho a passar por isso.
ONDE ESTÁ O QUÊ
Conheça os locais do corpo do seu filho mais afetados nesta época do ano
FICHA DA DOENÇA
O que é — Infecção dos pulmões e das vias aéreas. É provocada pelo vírus influenza, transmitido pelas gotículas da tosse ou do espirro da pessoa infectada.
Sintomas — No início, são mais brandos, como garganta irritada, tosse seca e congestão nasal. Depois, pode surgir febre alta e muita dor no corpo. Conforme a tosse se intensifica, começa a expectoração. A maioria dos sintomas diminui em cerca de três ou cinco dias.
Tratamento — Além do repouso (evitando esforço físico), é fundamental que a criança esteja sempre bem hidratada. Por isso, ofereça muito líquido (água, sucos naturais, água de coco). Para baixar a febre e aliviar as dores, o pediatra pode indicar medicamentos específicos, bem como descongestionante nasal se ele julgar necessário.
Prevenção — A vacinação contra a influenza é a melhor forma de se proteger. Ela pode ser oferecida a partir dos 6 meses, e é gratuita na rede pública para crianças até 5 anos. Vale lembrar que, como o vírus se modifica anualmente, o mesmo ocorre com a vacina. Portanto, a imunização deve ser repetida todo ano.
Não confunda — Gripe e resfriado são doenças diferentes. Os sintomas, por mais parecidos que sejam, são mais fortes na gripe. O resfriado comum pode ser causado por vários vírus, sendo os mais frequentes o rinovírus e o adenovírus – e não há vacina para eles.
Complicação — Uma das complicações mais frequentes associadas à gripe é a pneumonia. Isso acontece porque, quando o corpo está infectado pelo vírus influenza, os mecanismos de defesa ficam debilitados, de forma que o organismo se torna mais suscetível a infecções secundárias – daí a importância da vacinação. A pneumonia pode ser viral (quando o próprio vírus da gripe se dissemina nos pulmões) ou bacteriana (quando bactérias, como os pneumococos, se aproveitam da fragilidade do organismo para se multiplicar).
SOBE E DESCE DAS INTERNAÇÕES PEDIÁTRICAS
FICHA DA DOENÇA
O que é — Inflamação da membrana mucosa do nariz. As causas podem ser alérgicas (se o sistema imunológico reage a algum fator ambiental, como pó, bolor, pelo de animais, poluição) ou viral (quando há infecção por um vírus).
Sintomas — Secreção e congestão nasal. Nos quadros virais, também é comum haver tosse e febre baixa.
Tratamento — Ele depende da origem do problema e especificidade de cada paciente, porém, em todas as situações, a higienização nasal com soro fisiológico sempre é bem-vinda e ajuda a aliviar o desconforto.
Prevenção —Hidratação e, em casos alérgicos, é importante evitar o contato com a substância que provoca a reação do organismo. Por isso, os médicos recomendam fazer um controle ambiental rigoroso. Por exemplo, quando o problema é causado por pó e mofo, você deve adequar a casa às necessidades da criança. Tirar cortinas, carpetes, tapetes e bichos de pelúcia, deixar o ambiente arejado e passar pano úmido no chão diariamente são medidas que trazem efeitos benéficos.
FICHA DA DOENÇA
Sinusite ou rinossinusite
O que é — Inflamação dos seios paranasais. A causa mais frequente é a infecção (viral ou bacteriana) das vias aéreas superiores, que inflama a membrana da mucosa do nariz, bloqueando as entradas dos seios paranasais. As alergias também podem criar esse tipo de obstrução. Como costuma acontecer associada ao quadro de rinite, muitos médicos se referem à doença como rinossinusite.
Sintomas — Obstrução e secreção nasal, tosse e dor de cabeça. Febre e sensação de cansaço também podem estar presentes.
Tratamento — A partir da causa do problema, o médico vai prescrever o medicamento mais adequado (desde aerossóis nasais até antibióticos). O objetivo é melhorar a drenagem dos seios e curar a infecção.
Prevenção — Durante resfriados, gripes, rinites ou processos alérgicos, mantenha a criança bem hidratada e faça a limpeza do nariz com soro fisiológico. Isso ajuda a evitar esse quadro.
FICHA DA DOENÇA
Sintomas — Tosse seca ou produtiva (aquela acompanhada de secreção) e chiado no peito.
Tratamento — Depende da avaliação médica de cada caso. Em algumas situações, a bronquite causada por vírus passa após dez ou 15 dias, sem tratamento específico. Em outras, o pediatra pode receitar medicamentos de acordo com o estado da criança. Mais uma vez, manter uma boa hidratação é fundamental para a melhora.
Prevenção — Fumaça de cigarro, poeira e poluição podem irritar o pulmão e devem ser evitadas ao máximo. Bons hábitos de higiene (lavar as mãos com frequência para minimizar a exposição a micro-organismos, por exemplo) também podem colaborar, assim como a vacina contra a gripe.
FICHA DA DOENÇA
Bronquiolite
O que é — Infecção que afeta os bronquíolos (dentro dos pulmões) de bebês de até 2 anos, aproximadamente. Diversos vírus podem causá-la, sendo os mais comuns o sincicial respiratório (VSR) e o parainfluenza 3.
Sintomas — Dificuldade para respirar, tosse, coriza e febre baixa em alguns casos.
Tratamento — A maioria das crianças se recupera bem em casa, mas algumas precisam ser hospitalizadas. Não há tratamento específico. Os cuidados são: higiene nasal segundo as recomendações do pediatra e hidratação.
Prevenção — Os vírus responsáveis pela doença são muito comuns e se espalham facilmente. Por esse motivo, é praticamente impossível preveni-la. Mas a adoção de algumas medidas simples podem ser benéficas, como pedir para que as pessoas lavem as mãos antes de pegar o bebê. Lavar e secar os objetos compartilhados que a criança usa (brinquedos, copos, talheres) também é fundamental.
FICHA DA DOENÇA
Asma
O que é — Estreitamento e inflamação das vias respiratórias, dificultando a respiração. Alguns fatores externos podem desencadear a doença, como infecções virais, mofo, pólen, fumaça e ácaro. A asma tende a se manifestar nos primeiros cinco anos da criança. Enquanto algumas apresentam o problema até a idade adulta, outras melhoram ainda na infância. A genética pode ter influência no surgimento do problema.
Sintomas — Dificuldade de respiração, aperto e chiado no peito, tosse e falta de ar.
Tratamento — Inclui corticosteroides inalados e broncodilatadores, a serem prescritos pelo médico.
Prevenção — Evitar o contato da criança com os fatores que desencadeiam a crise.
ALIADOS DA SAÚDE INFANTIL
Conheça equipamentos que podem ajudar seu filho a respirar melhor durante uma infecção. Mas lembre-se: eles só devem ser usados de acordo com a recomendação do pediatra da criança.
– Inalador: Aparelho elétrico usado para umidificar as vias aéreas com soro fisiológico ou para administrar medicamentos específicos.
– Aspirador de borracha: Auxilia na retirada da secreção do nariz da criança pequena que ainda não sabe assoar sozinha.
– Seringa plástica (sem agulha): Ajuda a introduzir o soro fisiológico no nariz da criança para fazer a lavagem e aliviar a congestão.
– Espaçador: Tubo plástico acoplado entre a bombinha (para tratamento de asma ou bronquite) e a boca da criança, para facilitar a absorção do medicamento.
FAMÍLIA PROTEGIDA
Nunca é demais reforçar que manter a vacinação em dia (tanto das crianças quanto dos adultos) é fundamental para evitar a disseminação de doenças. O Ministério da Saúde recomenda que as gestantes se imunizem contra a gripe durante o pré-natal, em qualquer época. Recentemente, a Universidade Nacional Australiana pesquisou mais de 7 mil mulheres que deram à luz nos últimos anos e comparou aquelas que receberam e que não receberam a dose. O resultado mostrou que a imunização na gravidez é segura tanto para mãe quanto para o filho e endossou que a vacina mantém a grávida longe de complicações que podem acompanhar a gripe. Vale lembrar que o imunizante também protege o bebê — uma vez que os anticorpos da mãe passam pela placenta, segundo diversos estudos —, que só poderá tomar a vacina a partir do sexto mês de vida.
FICHA DA DOENÇA
O que é — Infecção na conjuntiva, a membrana mucosa dos olhos. É mais comum ser causada por vírus, mas as bactérias também podem ser o motivo do problema em alguns casos. Trata-se de uma doença de fácil transmissão. Ou seja, se o seu filho tocar em um local infectado (como um brinquedo) e coçar os olhos, por exemplo, pode ser suficiente para o contágio.
Sintomas — Irritação, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos. Também pode haver secreção e sensibilidade à luz.
Tratamento — O médico irá definir a melhor conduta de acordo com cada caso. No geral, a maioria dos episódios melhora sem tratamento e um colírio lubrificante pode aliviar os sintomas. Compressas com água mineral também ajudam. Já nos quadros bacterianos é necessário colírio com antibiótico.
Prevenção — Lave sempre as mãos do seu filho (e ensine-o a fazer o mesmo) com água e sabão e evite locais aglomerados.
FICHA DA DOENÇA
Faringite ou amidalite
O que é — Infecções na faringe ou na amídala. Podem ser de origem viral ou bacteriana (quadros mais severos, com pus). Também conhecido como faringoamidalite quando afetam ambas ao mesmo tempo.
Sintomas — Seu filho pode ter dificuldade para comer, apresentar febre, dor de cabeça, de garganta e mau hálito.
Tratamento — Quando for uma infecção por bactéria, o médico prescreve antibiótico, ou, nos quadros virais, é necessário apenas analgésico e anti-inflamatório para melhorar o estado da criança.
Prevenção — Evite lugares fechados e com muitas pessoas, já que as gotículas da saliva no ar transmitem os micro-organismos. Crianças que respiram pela boca estão mais expostas a infecções porque os pelos e o muco do nariz são uma barreira natural contra a entrada de vírus e bactérias. Se esse é o caso do seu filho, fale com o pediatra.
ALTERNATIVA
Apesar de dividir a opinião dos especialistas sobre sua eficácia, a homeopatia é uma alternativa que pode aliviar e evitar as doenças respiratórias. Mas não deve andar só – e sim ser feita junto com o acompanhamento do pediatra. “A homeopatia se baseia no conceito de energia do corpo. Ela estabiliza essa energia e melhora o sistema imune, aumentando as defesas do organismo para infecções e quadros alérgicos”, explica o homeopata e pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum. O tratamento é feito de maneira específica para as necessidades de cada criança e pode ter início em qualquer idade depois dos 6 meses.
SECURA
A baixa umidade do ar é comum nessa época, dificultando ainda mais a respiração do seu filho se ele estiver congestionado e se for alérgico. Tosse, coceira no nariz, espirros e falta de ar podem surgir. Para amenizar os desconfortos, aplique soro no nariz e faça inalação, também com ele. Outra opção é o uso de umidificadores elétricos. Deixe-o ligado por duas horas antes de dormir. Ou pendure uma toalha úmida no quarto da criança durante a noite. Passar pano úmido no chão e nos móveis melhora a umidade do ar em casa.
É VIROSE!
Quem nunca se deparou com esse diagnóstico ao sair do PS com o filho? Enquanto, no verão, ela se caracteriza, em geral, por náuseas, vômitos, diarreia e mal-estar (a virose gastrointestinal), nos dias frios, a mais comum é a virose respiratória. O termo indica qualquer problema causado por vírus que afeta o sistema respiratório (os principais estão nesta reportagem), mas sem ter, a princípio, características tão definidas para fechar um diagnóstico. O lado positivo é que o seu filho não precisará de antibióticos, porque se trata de um quadro que irá melhorar naturalmente, de acordo com o sistema imunológico dele. É preciso paciência e cuidados prescritos pelo médico que aliviem os desconfortos, .
Laringite
O que é — Inflamação da laringe, o órgão da voz. Causada, geralmente, pelo vírus do resfriado comum.
Sintomas — Tosse rouca, dor (apenas ao tossir), rouquidão e perda da voz.
Tratamento — O melhor a fazer é a criança descansar a voz, evitando gritar, por exemplo, além de utilizar os remédios receitados pelo médico para aliviar os sintomas. Oferecer bastante líquido para o seu filho auxilia no processo de cura.
Prevenção — Assim como no caso da amidalite e da faringite, o melhor é evitar aglomerações e locais fechados e também o contato com pessoas doentes.
FICHA DA DOENÇA
Sintomas — O ouvido fica dolorido e o tímpano apresenta vermelhidão. A criança pode ter febre, irritabilidade, coriza e dificuldade para dormir. Se o seu filho ainda não consegue se comunicar verbalmente, observe se ele não está puxando as próprias orelhas, o que é um sinal do incômodo.
Tratamento — Em boa parte dos casos, a otite média melhora sem tratamento. Mas, como o pediatra não pode prever como a doença irá evoluir, é comum a prescrição de antibiótico quando os sintomas são muito fortes ou se não passam em três dias. A dor pode ser aliviada com remédios receitados pelo pediatra.
Prevenção — A limpeza do ouvido com haste flexível com ponta de algodão é um fator de risco para a otite. Não use! O ouvido de seu filho é autolimpante, acredite!
DICAS DE OURO
– Limpar o nariz congestionado do seu filho com soro antes de cada refeição ajuda muito. Isso diminui o desconforto e facilita a aceitação da comida, porque ele consegue sentir o cheiro e o sabor do alimento.
– Quando a criança está com febre, não é um bom momento para oferecer alimentos. É melhor medicá-la antes (de acordo com recomendação do médico), para aliviar o mal-estar.
– Durante uma infecção respiratória, colocar o travesseiro da criança entre 30° e 45° contribui para um sono mais tranquilo e sem tosse. Nesse ângulo, a secreção que está no seio da face escorre menos para a garganta, trazendo alívio.
Outras fontes: Cylmara Gargalak Aziz, pediatra do Hospital Sírio-Libanês (SP); Maria Inês Nantes, pediatra do Hospital da Criança, da Rede D’Or São Luiz (SP) e Tânia Sih, presidente da Associação Interamericana de Otorrinolaringologia Pediátrica, professora da faculdade de medicina da USP e presidente da Sociedade Mundial de Otite Média.
Com informações da Revista Crescer.
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