Bruno Gaburro (Correio9)
O tempo se encarrega em perpetuar as histórias mais marcantes da humanidade. Já se passaram mais de dois mil anos e a narrativa que fala sobre o homem que revolucionou o mundo continua muito viva entre nós. A vida e morte de Jesus Cristo são contadas por inúmeros lugares em todo o mundo, principalmente na época da Semana Santa, data que remete à morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Em Nova Venécia, será realizada nesta sexta-feira (19), a partir das 19h, no Parque de Exposições do município, a tradicional encenação do teatro da Paixão de Cristo, que já acontece pela 12ª vez sob a direção de Celso Calvi, chefe de gabinete da Prefeitura Municipal de Nova Venécia.
Celso diz ao Correio9 que devido à divulgação intensa, a expectativa deste ano é atrair um público maior do que nas edições anteriores, ultrapassando cinco mil expectadores.
Tudo começou em 2006, quando organizou na comunidade rural do São Pedro do Refrigério sua primeira peça teatral da Paixão de Cristo. Mesmo com uma estrutura muito simplificada, revelou a potencialidade de Celso na produção teatral, que foi muito elogiada e rendeu um convite para transformar a obra em algo maior. Foi então, que, em 2007, o espetáculo foi trazido para a cidade de Nova Venécia, já nos moldes atuais. A apresentação foi ao ar livre, com as falas gravadas anteriormente e com um número maior de atores.
Celso revela que por se tratar de uma apresentação ao ar livre, em um espaço muito amplo, o resultado fica mais satisfatório trabalhando com dublagens. Os atores gravam suas falas durante os ensaios e no dia da apresentação, além de interpretar seus papéis, realizam a dublagem do som.
A seleção dos atores foi realizada a partir da divulgação nas redes sociais, para que os interessados se apresentassem e, a partir de testes, tivessem seus papéis escolhidos. Desta forma, surge um novo ator para o personagem de Herodes. Devido seu bom desempenho, o interprete garantiu um lugar de destaque na produção.
“É sempre muito interessante o desejo das crianças em participar. Eu vejo vários pais que foram lá só para levar as crianças e acabam acompanhando os ensaios, isso é muito bonito, pois o teatro tem essa preocupação na inserção de todos os grupos. Têm crianças de até dois anos que estão sendo acompanhadas pelos pais. Muitos destes pais acabam se interessando em participar da apresentação. Contamos também com pessoas de setenta, oitenta ano”, revela.
Este ano, a peça contará com mais de 150 atores e figurantes, e o papel de destaque fica com Samuel Silva Gomes, de 27 anos, que interpretará Jesus Cristo.
Samuel diz ao Correio9 que esta é uma experiência diferente de qualquer coisa que já fez em sua vida, pois, segundo ele, reviver os momentos do maior homem do mundo exige uma grande responsabilidade.
“Não é um peso, é uma responsabilidade boa. É uma honra, pois nunca me imaginei vivendo Jesus no teatro. Foi uma surpresa boa, e a cada ano que passa, já que, essa é a minha segunda apresentação, fico mais feliz e mais honrado em fazer Jesus no teatro. Espero que enquanto precisarem de mim e eu puder dar conta do recado, estarei presente”, diz Samuel.
A preparação para o papel é tão intensa que Samuel relatou sentir-se mal em algumas cenas dos ensaios, e, principalmente, na apresentação do ano passado. “Na hora do cansaço, no deserto, eu sinto cansaço de verdade, sinto tonturas reais, principalmente no momento da crucificação. É incrível. Eu sinto aquele sofrimento na pele e sempre acabo muito desgastado. Parece que eu estou sofrendo de verdade, e não tem nenhum machucado, não tem sofrimento, mas a sensação de cansaço, a ofegância, é real. Não sei explicar por que isso acontece, mas eu sinto de verdade. É muito forte”.
Ainda segundo Samuel, o personagem tem um poder transformador incrível. “Acredito que graças ao papel, eu aprendi a amar mais o próximo, entendê-lo melhor e aproveitar a vida ao máximo, deixando de reclamar da vida e agradecer por Deus estar sempre dando o melhor na minha vida. Essa é a lição que o personagem traz para mim, e que eu quero levar para as pessoas. É preciso valorizar as coisas boas enquanto a gente ainda está aqui”, orienta.
A produção do espetáculo conta com diversos voluntários, que se unem para colaborar na execução do trabalho, que acaba sendo muito bem executado. São diversos costureiros, pedreiros, carpinteiros, eletricistas, cabeleireiros, maquiadores e muitos outros. A parceria com empresas que atuam no transporte para os ensaios também foi fundamental.
O diretor da peça teatral, Celso Calvi deixa um recado aos leitores do Correio9 e, principalmente, aos moradores de Nova Venécia. “Se alguém pensa em não ir ao espetáculo porque sabe o que vai acontecer, achando que todos os anos é sempre a mesma coisa, está enganado. A gente baseia o trabalho sempre em cima do contexto bíblico, dessa forma, não podemos fugir daquela história de que Jesus, durante sua vida pública, pregou, foi condenado pelos milagres que operava, e foi morto. Então, lógico que a condenação, a morte, não pode ser diferente. Mas durante os 33 anos que viveu, Ele fez muitas pregações, muitos milagres, e a gente sempre tenta inovar em cima disso. O figurino também sempre recebe aprimoramentos. Por exemplo, na parte das tentações, em que Ele é tentado pelo diabo no deserto, todos os anos nós tentamos caracterizar esse momento de uma forma diferente, pois é possível imaginar as tentações de inúmeras formas. Já tivemos em forma de serpente e neste ano tem uma surpresa para o público nesta parte. Mesmo sabendo a história, a gente pode se surpreender”, salienta.
A apresentação terá duração aproximada de duas horas e contará com shows pirotécnicos, para deixar a produção ainda mais sofisticada. Haverá vendedores ambulantes comercializando comidas e bebidas não alcoólicas ao público. A entrada é franca.
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