Elias de Lemos (Correio9)
Dienison Cardoso é um poeta veneciano, que vem usando as redes sociais para popularizar a sua poesia e como ela reflete a vida cotidiana.
Nessa entrevista, ao Correio9, Dienison descreve a poesia como uma série de lentes que pode mudar significativamente a forma como interpretamos as nossas autodescobertas e como, a partir delas, nos relacionamos com o mundo.
Dienison Cardoso é o primogênito de quatro irmãos. Nascido, há 28 anos, em Nova Venécia, ele começou a escrever seus primeiros versos, na escola, no ano de 2006. “Não tinha a intenção de publicar”, declara.
O poeta veneciano diz ser uma pessoa ‘tímida’, para quem a poesia é o contraponto. É através dos poemas que escreve que ele expressa as ideias e visões que tem da vida e do mundo. Ele falou que se comunica melhor escrevendo e que, além disso, através da escrita, expõe as descobertas que têm sobre si mesmo.
As primeiras poesias, lá nos idos de 2006, tratavam da intimidade do autor. Muitas não foram apresentadas a ninguém. “Simplesmente escrevi, sem nenhuma intenção, e fui guardando. Às vezes encontro textos dos quais nem me lembrava mais, aí me surpreendo”, falou. Mesmo assim, ele pretende publicá-las ‘algum dia’.
Os escritos do poeta veneciano remetem a algumas aproximações entre a expressão da poesia e a vida cotidiana, realçando a premissa de que a vida e a poesia possuem os mesmos vestígios. Buscam dar contornos ao indizível, ao objeto incompreendido e recôndito desde sempre.
Dienison diz que, a linguagem da poesia produz o distanciamento, de um exílio de onde ele escreve. Para ele, a poesia é o afastamento da ignorância e da angústia, no sentido de um desapego de certas dúvidas, de uma quebra com o ver cotidiano, e de olhar diferente da primeira vez, porém, agora, com deslumbramento.
Ele tem dois livros prontos, que espera publicar em 2019, podendo um ser digital e o outro impresso. Ele explica que a maior dificuldade para publicar é o custo de produção gráfica do material, uma vez que o retorno financeiro é nulo.
No entanto, Dienison tem otimismo. Segundo ele, a Prefeitura lançou um edital para seleção de livros para publicação. É aí que ele ancora sua esperança.
‘O Perigo da Noção’
O primeiro livro é ‘O Perigo da Noção. Ele descreve a obra como “uma coletânea de poemas que remete ao caos e à loucura da mente em não saber lidar com as descobertas da vida”.
Neste sentido, o livro retrata os conflitos existenciais, que surgem, a partir do momento em que o homem toma ‘certas’ consciências sobre si mesmo.
São poemas que emergiram da incompreensão de si mesmo, da auto aceitação, da não aceitação do que é, ou de como se vive a própria vida.
Com autoridade, o autor explica que ‘O Perigo da Noção’ varia de gênero literário, passando pelo modernismo, simbolismo e romantismo.
‘Invólucro do Breu’
O segundo escrito do Dienison Cardoso é o “Invólucro do Breu”, segundo ele, uma obra fixada no ‘simbolismo’. O livro retrata o lado ‘sombrio da vida humana’, tratando de temas como a morte e a finitude do homem.
Ele explica que depois de perder a mãe, há três anos, além da dor da perda, passou a enfrentar o medo da sua própria finitude. Deste então, começou a deslindar os tabus existentes ao redor do assunto ‘morte’, e porque este tema amedronta tanto.
O ‘Invólucro do Breu’ trata da fugacidade do tempo e da incompreensão do mistério da vida e da morte, capturadas no escrito. Escrito, cujo tempo é um tempo sempre presente.
São poesias que viajam os infinitos segundos que se sucedem rumo ao futuro, mas, que voltam e recuperam um passado representado em um tempo sem tempo. Onde o passado anseia o presente e o futuro se determina como aquilo que será lembrado, num lugar distante de um presente que sempre se esvai.
É neste intervalo vazio, nesta ausência de tempo – e neste fascínio com o eterno presente sem presença – que o autor une o vazio do passado ao vazio do futuro fazendo-se compreender o ‘Invólucro do Breu’ em um tempo que é para sempre agora, um presente vazio.
Primeira publicação está nas livrarias
Em agosto de 2018, Dienison Cardoso foi convidado pela editora ‘Palavra e Arte’, de São Paulo, para participar, como convidado, da publicação do livro ‘Poesias’, uma obra que reúne dez autores de todo o país.
Suas poesias abrem a obra. Ele participa com treze poemas, cuja escolha para publicação foi aleatória, sem gênero literário definido.
De acordo com ele, a editora teve acesso aos seus poemas e, daí, entrou em contato, fazendo o convite.
Sem livraria em Nova Venécia, nem na região, a publicação, lançada há menos de três meses, pode ser adquirida com o próprio autor. São três formas possíveis de entrar em contato com ele: por telefone (27) 9.9825-0503; no Instagram: dienisoncardosoescritor; ou no Facebook: Dienison Cardoso.
Para Dienison, se o poeta existe é necessário um leitor que o faça existir e a quem o poema se dirija. O leitor anônimo lerá o poema e nele falarão outras vozes além das que o poeta foi porta-voz. A cada leitor, o poema tocará de uma forma singular.
Dienison escreve para este leitor sem saber onde ele está. E esse leitor formará o seu próprio texto a partir de sua leitura. E com as palavras do poeta, este leitor se lerá.
Mãe
Mãe, ainda fico
Como criança na varanda
Esperando ouvir os passos
De quem me salvaria
Caso eu precisasse.
Mãe, acordo no escuro
E me perco em lágrimas
Por não ser apenas
Um pesadelo.
Mãe, você entenderia
Se eu dissesse
Que não quero mais
Ficar aqui…?
Mãe, a beleza das flores
Não combina com despedidas.
Mãe, há um ato heróico
Em estar vivo,
É que me salvo do perigo
De mim mesmo.
Mãe, eu havia prometido
Não perdê-la
Mas eu falhei, mãe.
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