Elias de Lemos (Correio9)
Ao discursar no Plenário do Senado nesta terça-feira (08), o senador Magno Malta (PR-ES) falou da sua visita a cinco cidades do Sul do Estado, são elas: Alegre, Cachoeiro de Itapemirim, Guaçuí, Ibitirama e Irupi. O senador visitou uma casa de recuperação de mulheres dependentes de drogas, fez uma palestra sobre violência no campo e, por fim, se reuniu com lideranças políticas e religiosas.
Relatou sua conversa com a população sobre temas relacionados à defesa da vida, dos direitos das crianças e da fé religiosa. Malta tem o desejo de ser candidato a vice-presidente na chapa do pré-candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Ao anunciar seu apoio a Bolsonaro, ele disse que a população deve ter direito a possuir arma de fogo, especialmente na zona rural.
Ele explicou que não estava falando de venda indiscriminada de armas de “grosso calibre”. Segundo ele, estava se referindo a questões referentes à defesa do homem rural: “Estamos falando é que um homem no campo hoje não pode viver desarmado. Veja aí o terror que o MST (Movimento dos Sem-Terra) está fazendo”, declarou o senador.
Antes disso, em 2016, Malta mudara de opinião em relação ao Estatuto do Desarmamento. À época ele declarou: “Eu imagino que em um país abandonado no ponto de vista da segurança pública nós não podemos privar o cidadão de ter uma arma em sua casa ou ter uma arma dentro do seu carro. Não é para brigar na rua, não é para atirar em ninguém”, afirmou.
As declarações do senador Magno Malta fornecem, pelo menos, três reflexões: 1ª) Um senador da República assiste a um conflito social (entre MST e fazendeiros), e prega o armamento para transformar o conflito em guerra; 2ª) O mesmo senador reconhece que “o país está abandonado no ponto de vista da segurança pública”, e, mais uma vez, prega o armamento da população para resolver o problema; e, 3ª) Magno Malta diz que “não é para brigar na rua, não é para atirar em ninguém”. Aí vem uma pergunta: se não é para atirar em ninguém, então, armar para quê? E mais uma: o senador não tem capacidade de propor soluções pacíficas?
Magno Malta se declara ser um homem religioso. Foi pastor evangélico. Discursa em “defesa da família” e da “fé cristã”. No entanto, sua conduta de vida apresenta dissonâncias entre o discurso e a prática. Em 2013 ele se separou do seu primeiro casamento e se casou em seguida com a deputada Lauriete Rodrigues.
Com a separação, Magno Malta feriu princípios bíblicos: “O casamento é um compromisso vitalício entre marido e mulher e de ambos para com Deus” (Marcos 10:2-9; Romanos 7:2). Segundo a bíblia, Deus planejou que o casamento fosse tão permanente quanto o relacionamento de Cristo com a igreja. Mas, o senador não considerou isso.
O senador defende o armamento civil – mesmo que seja de forma restrita – dizendo que “não é para atirar em ninguém”, como se ele mesmo pudesse controlar isso.
Para dois homens que vivem falando em nome de Deus e da família, Magno Malta e Jair Bolsonaro ignoram mandamentos básicos da Lei de Deus, e que estão espalhados pela Bíblia. Além do princípio do casamento – desprezado pelo senador – a Bíblia institui dez mandamentos.
Os Dez Mandamentos ou o Decálogo é o nome dado ao conjunto de leis que, segundo a Bíblia, teriam sido originalmente escritos por Deus em tábuas de pedra e entregues ao profeta Moisés (as Tábuas da Lei). As tábuas de pedra originais foram quebradas, de modo que, segundo Êxodo 34:1, Deus teve de escrever outras. Os Dez Mandamentos são encontrados, primeiramente, em Êxodo 20:2-17 e, depois, em Deuteronômio 5:6-21, usando palavras semelhantes.
Decálogo significa “dez palavras”, as palavras que resumem a Lei dada por Deus ao povo de Israel, no contexto da Aliança, por meio de Moisés. No Decálogo, os mandamentos se dividem em duas partes. Os quatro primeiros apresentam os mandamentos do amor a Deus, enquanto os outros seis falam do amor ao próximo. Juntos, os dez ensinamentos traçam para o povo e para cada um em particular, o caminho de uma vida liberta da escravidão do pecado.
No Antigo Testamento, Deus entregou os Dez Mandamentos a Moisés no Sinai para ajudar a seu povo eleito a cumprir a lei divina. Jesus Cristo, na Bíblia, confirmou os Dez Mandamentos e os aperfeiçoou com sua palavra e com o Seu exemplo. Portanto, o amor e a fé em Deus se manifestam no cumprimento dos Dez Mandamentos e dos preceitos da Bíblia.
Com a divisão, todos os Mandamentos acabam se resumindo em dois: 1) Amar a Deus sobre todas as coisas e, 2) Amar ao próximo como a si mesmo. Somando estes dois, resta apenas um princípio: amar “como Cristo nos amou”.
No entanto, Magno Malta e Jair Bolsonaro, como dois “bons cristãos”, que querem presidir o Brasil, ignoram estes princípios básicos do cristianismo.
Religião é um conjunto de crenças e filosofias que são seguidas, formando diferentes pensamentos. Cada religião tem suas diferenças quanto a alguns aspectos, porém, a grande maioria se assemelha em acreditar em algo ou alguém do plano superior e na vida após a morte. Para atingir a vida após a morte, a vida terrena deve ser baseada no amor.
Mahatma Gandhi, conviveu com três religiões diferentes: hindu, islâmica e cristã. Conhecia o Sermão do Monte. Certa vez ele disse a respeito dos cristãos: “Eu admiro a Cristo, mas, não admiro os cristãos. Isto, porque ele havia visto os ingleses cristãos dominarem e explorarem a sua pátria por muitos anos. Ele testemunhou a contradição na vida de muitos cristãos. Ele pode ver os cristãos pregarem uma coisa e viverem outra.
Gandhi foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não agressão, forma não violenta de protesto) como um meio de revolução.
O princípio do satyagraha, frequentemente traduzido como “o caminho da verdade” ou “a busca da verdade”, também inspirou gerações de ativistas democráticos e antirracistas, incluindo Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela. Frequentemente, Gandhi afirmava a simplicidade de seus valores, derivados da crença tradicional hindu: verdade (satya) e não violência (ahimsa).
Sobre o primeiro mandamento da Lei de Deus, – Amar a Deus sobre todas as coisas, Santo Agostinho escreveu: “Amar a Deus no próximo, através do nosso irmão. Temos que nos assemelharmos a Ele, e para isso nós temos que: 1º) Amar a todos, 2º) A todos perdoar, 3º) A todos servir, e 4º) E a ninguém excluir”. Mas, o senador e o deputado “cristãos”, não sabem disso.
O quinto mandamento – Não matar – é taxativo: “Só Deus tem o direito de tirar a vida”. Mas tanto Malta, quanto Bolsonaro defendem o armamento, sendo que o segundo vive repetindo que “bandido bom é bandido morto”.
Já o oitavo ensinamento – Não levantar falso testemunho – é explicado, em três pontos, por Santo Agostinho: 1º) Matar com a língua, 2º) Desmoralizar, e 3º) Ter misericórdia com o próximo. Segundo ele, o cristão deve ter como princípio: “Quando falar, falar com a pessoa certa, pedir a orientação do Espírito Santo”, pois Jesus disse: “Não é o que entra pela boca que causa mal e sim o que sai da boca”. Tudo oposto ao discurso do “cristão” Jair Bolsonaro, contra mulheres, negros e homossexuais, pré-candidato presidenciável, defendido pelo, também, “cristão” Magno Malta.
Uma pesquisa do Instituto LifeWay Research – realizado na Inglaterra – sobre “posições doutrinárias”, mostra que boa parte dos seguidores do Evangelho não tem uma compreensão clara dos ensinamentos doutrinários de suas igrejas, muitos têm dificuldades em explicar sua fé.
Se os cristãos fossem, realmente, aquilo que pregam e cantam, a igreja seria diferente e o mundo seria mais abençoado. No entanto, cristãos de “araque” existem aos montes, e eles não enxergam pecado em nada do que dizem.
Ninguém no Brasil nunca fez merda em nome do capeta, da maconha ou da sacanagem. Toda vez que mataram, escravizaram e torturaram no Brasil foi em nome de Deus, da Pátria e da família.
Com estes dois “cristãos”, “há perigo na esquina”.
* O autor é economista, jornalista, professor e editor-chefe do Jornal Correio9
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